Um
dos roteiristas que mais se destacaram na chamada invasão britânica dos comics
americanos foi Neil Gaiman.
Quando jovem, ele lia
muito quadrinhos e deixou de fazê-lo quando percebeu que as revistinhas não
correspondiam mais às suas expectativas literárias. Nos anos 70, Gaiman se
dedicou completamente ao jornalismo e à literatura até descobrir o trabalho
de Alan Moore no Monstro do Pântano.
A partir daí ele resolveu
fazer roteiros para quadrinhos adultos e conheceu Dave McKean. Juntos eles
produziram as Graphic Novels Violent Cases e Signal to Noise no final dos anos
1980.
Nessa época a editora
Karen Berger foi à Inglaterra em busca de novos talentos. Ansiosos para conseguir trabalhar para a DC,
Gaiman e McKean foram procurá-la no hotel. Ao serem informados de que não
poderiam tocar nos grandes personagens da editora (como Batman e Super-homem),
Gaiman sugeriu a Orquídea Negra. A editora nem se lembrava que a editora tinha
essa personagem.
A dupla ganhou carta
branca para fazer sua versão da heroina e produziu uma minissérie em três
partes. O realismo das imagens pintadas de McKean combinados com o texto
poético de Gaiman fizeram com que essa minissérie se tornasse um dos quadrinhos
mais cultuados dos anos 1980.
A qualidade do trabalho
da dupla fez com que a editora os convidasse para um outro projeto. McKean
faria as capas e Gaiman escreveria o texto. O personagem escolhido foi Sadman,
um herói secundário da era de ouro que tivera uma breve fase nas mãos de Jack
Kirby na década de 1970. “Queremos um novo Sandman. Mantenha o nome, mas o
resto é por sua conta”.
Gaiman re-imaginou o
personagem, afastando-o de sua origem super-heroiesca e aproximando-o da
mitologia. Assim, Sadman era um dos perpétuos, seres mais longevos que os deuses,
que só deixariam de existir quando o universo fosse destruído. Além de Sandman,
que era o sonho, havia a Morte, Destruição, Delírio e Destino, todos iniciados
com a letra D (em inglês, Dream – sonho
e Death, morte).
Gaiman leu diversos
livros sobre sonhos e pesadelos e colocou toda essa pesquisa em seus
quadrinhos, em especial as informações sobre a doença dos sono, que de fato
existiu. Além disso, encheu as histórias de referências literárias e textos
poéticos. Não bastasse isso, trouxe o personagem para a realidade cotidiana de
uma forma pouco vista antes nos quadrinhos.
Por outro lado, McKean
produziu uma célebre galeria de capas unindo influências dadaístas,
surrealistas e expressionistas.
Tudo aquilo era muito
diferente do que os quadrinhos americanos publicavam até então (diverso
inclusive do Monstro do Pântano, do também britânico Alan Moore, que inspirara
Gaiman) e isso chamou atenção de um público que até então parecia ter pouco
interesse pelos gibis: as mulheres. Afinal, a revista não era sobre marmanjos
trocando socos, mas, ao contrário, aproximava-se de uma espécie de fantasia
urbana e contemporânea.
Sandman foi uma das
revistas mais celebradas dos anos 1990, arrebatando uma legião de fãs e sendo
republicava diversas vezes, agora em formato álbum de luxo. A popularidade
conseguida com a revista fez com que Gaiman se tornasse um cultuado escritor de
livros de fantasia, entre eles Deuses americanos e Lugar Nenhum.
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