quinta-feira, setembro 26, 2019

Spirit



Dos heróis surgidos nos anos da Segunda  Guerra Mundial, um  deles se destacou não pelos po­deres extraordinários ou por uniformes espalhafatosos.  Spirit, criado por Will Eisner, era um herói, acima de tudo, humano. Policial dado como morto, Colt se aproveita do anonima­to para resolver casos além do alcan­ce da polícia, apenas com uma capa e um chapéu “noir”. A minúscula máscara, sugestão do editor, procurou torná-lo mais comercial, mas não lhe diminuiu o prestígio.
O Spirit era uma espécie de mes­tre de cerimônias de um show  pelo qual desfilavam menores abandonados, ladrões, suicidas... Gente que tem uma bela ou triste história para con­tar.
Uma das histórias mais tocantes era sobre um garoto que sabia voar. Proibido de sair do chão pela mãe, ele sobe, já adulto, num edifício onde o Spirit troca tiros com bandidos e começa a fazer evoluções no ar, até que uma bala o acer­ta. Eisner aconselha os leitores não chorarem por ele, mas pelas pessoas que não perceberam seu vôo.
Apesar dos textos impressionis­tas, o Spirit entrou para a  história dos quadrinhos por um motivo estético: foi o primeiro a tentar uma linguagem realmente quadrinística.
O texto nun­ca dizia o que a imagem podia passar  e havia uma exploração muito grande das possibilidades narrativas do desenho. Eisner foi o primeiro a usar a sequên­cia com maestria nos quadrinhos e é considerado o pai da nova geração de quadrinistas, como Alan Moore, Da­ve McKean, Dave Gibbons e Neil Gai­man, entre outros.
O Spirit durou de 1940 a 1952, quando a opinião pública voltou-se contra os quadrinhos, depois que o livro ‘Sedução de inocentes”, do psicólogo Frederích Werthan, os acusou de serem responsáveis pela delinqüência juvenil que florescia nos EUA. Vendo a decadência do mercado de quadrinhos, Eisner foi fazer desenhos para o exército.
Na década de 1970, Eisner voltaria aos quadrinhos, criando as graphic novels com a obra Um contrato com Deus.

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