A ação é centrada em uma família de origem italiana, os Manfredi. O pai, ao saber da morte de Getúlio, fecha a transportadora e sai armado de um revólver, disposto a matar Carlos Lacerda, mas na verdade, acaba se encontrando e vivendo dias idílicos e sexuais com uma professora de piano.
A situação mostra bem a ótica do livro: uma mistura de história do Brasil com dramalhão e comédia. Marcos Rey foi redator do rádio e coloca sua experiência no meio a serviço da história, a começar pelo título, Opera de sabão, uma referência direta às soap operas, melodramas radiofônicos quase sempre patrocinados por marcas de sabonete, daí o nome.
Os personagens são impagáveis. Hilda, a esposa, transforma-se na Madame Zohra, conselheira radiofônica cujo programa já foi uma das maiores audiências da agora decandente Rádio Ipiranga. Como Madame Zohra, Hilda é porta voz de uma rigorosa campanha contra o aborto, mas se vê em uma cinuca ética quando seu filho engravida uma menina e esta, sem saber, envia-lhe uma carta pedindo conselhos.
O filho mais velho chama-se Benito, homenagem a Mussoline de quando o pai era fascista. O mais novo, Lenini. “Quando Leinie nasceu, meu pai era comunista”, explica a outra filha do casal, Adriana, à certa altura da história. “E não é mais?” “Não, agora está nos transportes”. Uma sequência que exemplifica o humor afinado de Marcos Rey.
O autor, que foi roteirista de rádio, televisão e cinema, constrói sua mistura de melodrama com comédia de erros como se fosse um roteiro de rádio, a começar pela abertura:
SPEAKER1 – No ar...
SPEAKER2 – sob o alto patrocínio do sabão minerva...
SPEAKER1 - ... a Rádio Ipiranga, PRG-10, 2000 quilociclos, canal exclusivo, apresenta...
TÉCNICA – Sobe o prefixo (La vie em Rose). Cai em bg.
SPEAKER2 - ... sonhos de juventude!
SPEAKER1 – Radionovela de Marcos Rey
Isso soma ao livro mais um aspecto, o metalinguísticos. Há momentos, por exemplo, em que o autor comenta a história, descrevendo a estratégia utilizada pelo roteirista: “Ainda a perigosa criatividade do radioautor. Faça os personagens sofrerem, coloque-os em situações aparentemente sem saída e a audiência se multiplica”.
E como bom roteirista, Marcos Rey nos surpreende no final quando a história dá uma guinada, mudando completamente de tom: sai o humor, a crítica de costumes, a metalinguagem, e entra uma sequência emocionanente e arrebatadora acontecida dez anos depois, quando do golpe militar.