A década de 30 foi
marcada na Argentina pela ditadura do presidente Perón. Influenciado pelo
nacionalismo nazi-fascista, Perón resolveu acabar com a forte influência
estrangeira dos quadrinhos em seu país proibido a importação de material
americano. A proibição durou apenas alguns anos, mas foi o bastante para
fortalecer a HQ platina, criando uma das escolas mais fortes do mundo.
Antes da proibição já existiam quadrinhos de sucesso, como o
índio Patoruzú, criado por Dante Quinterno, em 1929. Mas foi a partir do
governo Perón que a HQ platina teve um salto. Surgiram grandes publicações,
como a “Rico Tipo’ “Intervalo’; e “Aventura” que iriam alcançar a incrível
marca de 165 milhões de exemplares por ano - metade do que se lia num pais
cuja capital tinha mais livrarias do que todo o Brasil.
Na Argentina não só as
crianças, mas também os adultos foram conquistados pelos quadrinhos. O mercado
se tornou tão forte que até mesmo roteiristas e desenhistas europeus foram
trabalhar na Argentina, como aconteceu com Hugo Pratt e René Goscinny, criador
do Asterix.
Era a inversão: os quadrinistas argentinos lutavam de igual
para igual com os seus concorrentes estrangeiros.
Um dos maiores responsáveis pelo sucesso da HQ Argentina foi o
editor e roteirista Héctor Germán Oesterheld. Filho de uma argentina e um alemão, ele estudou
se formou em geologia, mas abandonou a profissão para se dedicar aos roteiros
de quadrinhos. Durante sua fase mais criativa ele era mais lido que Jorge Luís
Borges, o mais famoso escritor argentino, que chegou a se declarar fã do
roteirista.
Seus roteiros se destacavam pelo
conteúdo humano e pela crítica social. O Eternauta, sua obra-prima, conta a
história da invasão de Buenos Aires por alienígenas durante um rigoroso
inverno. Enquanto os invasores seguem dizimando a população, surge um homem,
Juan Salvo, o Eternauta, que decide combatê-los. Acredita-se que os
extraterrestres tenham sido inspirados nos militares argentinos, que alguns
anos depois instalariam uma ditadura no país.
Oesterheld
trabalhava em todos os gêneros, do faroeste à ficção científica e a fantasia,
criando obras de grande significado. Seus roteiros e seu trabalho como editor
transformaram a HQ Argentina em uma das melhores do mundo.
Entretanto,
sua carreira terminou bruscamente na década de 1970, quando se instalou uma ditadura
militar na Argentina. Oesterheld foi um dos primeiros a serem perseguidos. Ele
e suas filhos acabaram sendo mortos. Da família, só sobrou a esposa do
roteirista e um de seus netos.
Além
de todos os crimes cometidos pelos militares, somou-se mais esse: dar sumiço a
um dos homens mais talentosos já surgidos nos quadrinhos.
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