No início da década de 50, o psicólogo alemão naturalizado norte-americano Fredrick Werthan publicou uma obra que teve grande influencia sobre o futuro das histórias em quadrinhos. O Livro Sedução de Inocentes acusava os gibis de provocarem preguiça mental e delinqüência juvenil. Para Werthan, as crianças que liam quadrinhos se tornariam marginais e perderiam completamente o gosto pela leitura.
A campanha de
Werthan contra os quadrinhos teve início em 1948, com a publicação do artigo Horror
in The Nursey na revista Collier. Como resultado direto do artigo,
houve uma queima pública de quadrinhos na cidade de Birghnton, Nova York.
Depois disso os jornais e revistas
começaram a publicar crimes juvenis inspirados por revistas em quadrinhos. As
crianças logo aprenderam que uma maneira fácil de se eximir da responsabilidade
por seus atos era colocar a culpa nos gibis.
Foi criada uma comissão no Senado Americano para
investigar os supostos efeitos nocivos dos gibis sobre as crianças. Os editores
foram chamados para depor, mas o depoimento que causou mais forte impressão foi
o do psicólogo inimigo dos gibis. Suas palavras ainda ecoavam na opinião
pública quando os senadores aconselharam os editores a criarem um código de
censura, antes que alguém o fizesse por eles. As empresas da área entenderam o
recado e imediatamente se reuniram para criar o Comics Code – um código que
atrasou em mais de 20 anos o desenvolvimento dos quadrinhos na América. As
revistas da EC Comics, as mais revolucionárias da época, foram quase que
totalmente proibidas. A Mad se salvou apenas por ter mudado de formato, o que a
deixou fora do código.
Entretanto, as pesquisas de Fredrick Werthan, que deram
origem ao livro Sedução dos inocentes, tinham erros metodológicos básicos e
graves. O primeiro deles é o teste do falseamento. A metodologia científica
prevê que um cientista deve criar uma hipótese e testá-la, procurando não
provas de que ela está certa, mas provas de que ela está errada. Além disso, o
cientista deve estar atento às chamadas variáveis intervenientes, aquelas
coisas que não estão sendo estudadas, mas podem interferir nos resultados. Werthan
não fez nem uma coisa nem outra. Ao invés de testar sua hipótese, ele procurou
apenas provas de que ela estava correta. Ademais, ele ignorou completamente
todas as outras variáveis que poderiam estar provocando a delinqüência juvenil.
Num caso de um garoto que matou um homem por diversão, por exemplo, ele ignorou
completamente o fato de que o garoto tinha diversas armas em casa e era
fanático por elas para concentrar-se apenas no fato de que o garoto lia gibis.
Hoje em dia as pesquisas de Werthan são motivo de
piada nos meios científicos, mas tiveram grande repercussão, criando um
preconceito contra essa mídia que existe até hoje.
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