No início dos anos 1950, a nona arte viu nascer e morrer a melhor editora de HQs de todos os tempos: a EC.
A editora tinha surgido
no início da década de 40, publicando coisas insossas, como adaptações da
Bíblia e coisas do gênero. Com a morte de Max Gaimes, em 1947, seu filho,
William
Gaines, foi obrigado a assumir a editora.
Nessa época ele foi procurado pelo desenhista e roteirista All Feldstein que
tinha uma proposta completamente inovadora. Em maio de 1950, Gaines e
Feldstein lançaram uma nova linha de gibis: dois de histórias de crimes, dois
de guerra e três de terror. Nessas revistas desfilaram os melhores artistas da
época, de Joe Orlando a All Williamson.
O sucesso foi imediato.
Milhares de garotos americanos passaram a devorar sua dose mensal de horror e
fantasia. Escritores famosos, como Stephen King, eram fanáticos pela EC quando
crianças. No filme “Conta comigo’ baseado num livro de King, um dos garotos
aparece lendo uma revista da EC. Gente famosa, como o escritor Ray Bradbury,
colaborava com a EC.
Até aí, tudo bem. O
problema é que a EC era uma editora crítica, talvez a primeira da historia dos
quadrinhos. A EC fazia propaganda pacifista durante a guerra da Coréia,
questionava os heróis e as instituições americanas. Numa das histórias um
homem é encontrado próximo de uma moça atropelada e é torturado uma noite
inteira até admitir que cometeu o crime. No final da história o policial que o
torturou volta para casa e trata de limpar a mancha de sangue no pára-brisa de
seu carro. Ele era o assassino...
A revolução da EC,
entretanto, não ficou só no conteúdo. Mudou também a forma. Todas as histórias
da EC seguiam um certo ritmo óbvio até o final - quando davam uma guinada de
180 graus, numa conclusão totalmente imprevista. Isso desconcertava o
leitor, levando-o a uma leitura critica da realidade (se alguém se lembrou dos
filmes de M. Night Shyamalan, acertou – o diretor de Sexto Sentido sempre foi
fã de quadrinhos e transformou essa “virada” final na sua marca pessoal).
A festa não durou muito.
Gaines foi chamado para depor numa comissão do Senado americano liderada por
Frederick Wethan e fez o que pôde para defender suas publicações. Não adiantou
muito: as editoras (para assegurar suas vendas) criaram um código de ética
que praticamente proibia as revistas da EC. O resultado foi uma das épocas
mais medíocres da história dos quadrinhos. Os grandes artistas, desiludidos
com o fim da EC, deixaram de lado os quadrinhos, indo a maioria parte deles para
a publicidade.
Das revistas da EC, a única a permanecer foi a MAD — durante
décadas uma das revistas mais vendidas nos EUA e no mundo. O curioso é que ela
é publicada pelo mesmo grupo proprietário da DC — a editora que liderou o levante
contra as revistas de Gaines...
Sem comentários:
Enviar um comentário