Em Marshal Law, publicado
em 1987 pelo selo Epic da Marvel, os dois mostraram que podiam usar esse espírito
para subverter o gênero super-heróis. E o que fizeram lembra muito a hoje
famosa série The Boys, da Amazon. Muitos dos principais conceitos, como
super-heróis drogados já estava ali.
Na história, um cientista
descobre um meio de transformar fetos, dando-lhes poderes. O resultado disso é
uma quantidade enorme de superes. Quando explode uma guerra na América do Sul,
eles são enviados para ela, e muitos deles retornam completamente malucos.
Imagine veteranos do Vietnã
com super-poderes. É por aí.
A coisa se torna ainda pior
em São Francisco: um terremoto destrói boa parte da cidade e o local é tomado
pelos super-seres, que vêem ali a chance de poderem exercer seus super-poderes
para benefício próprio em uma terra sem lei. Para combatê-los surgem policiais
especiais, com super-poderes, o mais famoso deles Marshal Law, um homem que se
veste com roupas do universo sadomasoquista e que em sua identidade secreta,
namora uma garota que considera que os super-heróis, em especial Marshal Law,
são fascistas.
Pela sinopse acima dá para
perceber o quanto a série virava o universo dos heróis de cabeça para baixo.
Mas o quadrinho ia muito além, a começar pelo desenho nada convencional de
Kevin O´Neill e as mensagens de fundo, as brincadeiras visuais incluídas por ele
na história. Há de tudo: de aviões com Jesus desenhado na lataria a pichações
contra pichações.
Os exemplos de heróis
mostram o quanto duas mentes criativas e dispostas a virar tudo do avesso
poderiam ir. Há, por exemplo, Hitler Hernandez, descendente de criminosos
nazistas, que se dedica a eliminar índios. Ou O Traidor, um índio branco que
considera a traição uma virtude – quando tiveram contato com o evangelho,
passaram a idolatrar Judas ao invés de Jesus. Ou O Bode expiatório, que tem dificuldade
para sentir sensações e faz de tudo para sentir dor.
Tudo isso é entremeado com
uma trama policial: um dos super-heróis está matando mulheres vestidas como a
super-heroina Celeste. Marshal Law acredita que o responsável é Espírito Público,
um dos primeiros e mais famosos heróis.
Marshal Law poderia ser
apenas um quadrinho que subverte o gênero super-heróis. Mas Mills e O´Neil
dominam bem a narrativa e fazem um quadrinho gostoso de ler, fluído, divertido
pacas.
A história original foi
publicada pela Abril em 1991 em uma minissérie em seis partes e uma edição
especial. Este ano a Panini publicou um encadernando, juntando as duas
histórias.
Sem comentários:
Enviar um comentário