No
ano de 306 a.c. o filósofo grego Epicuro, então com 36 anos, abriu sua escola
em Atenas. Epicuro comprara para tal uma casa com jardim e, ao invés de
trancafiar-se em uma sala com os alunos, preferia ficar ao ar livre,
conversando com eles.
Observadores
da época diziam que não parecia um mestre rodeado de alunos, mas sim um grupo
de amigos que filosofavam juntos.
O
objetivo da filosofia epicurista era descobrir como o homem podia ser mais
feliz. Para Epicuro, a felicidade estava na busca do prazer. Mas prazer para
ele era a ausência de sofrimento. Assim, só devemos procurar aqueles prazeres
que não trazem nenhum sofrimento, nem para nós nem para os outros.
Além
disso, buscar o prazer não significava ser dominado pelos desejos. Segundo
Epicuro, devemos fruir o prazer de cada situação, sem nos preocuparmos com o
que não temos. “Não deves corromper o bem presente com o desejo daquilo que não
tens; antes deves considerar que aquilo que agora possuis se encontrava no
número dos teus desejos”, dizia.
Para
enriquecer um homem, não é necessário dar-lhe tesouros, mas diminuir-lhe os
desejos. Quem se satisfaz com o que tem é um homem feliz.
Mas,
para Epicuro só podemos apreciar o prazer através do amor e da paz de espírito.
Uma
filosofia como a de Epicuro não poderia se desassociar-se de seu método de
ensino. O próprio jardim era exemplo disso. Por que trancar-se em uma sala se
era muito mais prazeroso dar aulas no
jardim?
Na
escola do Jardim as aulas não tinham hora para início ou fim. Epicuro podia ser
visto a qualquer momento conversando com seus alunos.
A
amizade também era essencial. Epicuro era antes de mais nada um amigo de seus
pupilos. Até os inimigos louvavam essa amizade fraternal que envolvia os
epicuristas. Dizem que jamais houve brigas entre eles.
Embora
dois milênios nos separem da escola do Jardim, ainda podemos aprender muito com
ela.
Epicuro
nos ensinou que não existe educação sem prazer. Se aprender algo não foi uma
experiência prazerosa, o aluno logo esquecerá. O prazer da descoberta é
sufocado por um grande número de professores e escolas, que tomam a educação
como obrigação. Há, por exemplo, uma grande preocupação em fazer com que as crianças desenvolvam o hábito da leitura. Entretanto, tenho percebido que só se tornam leitores aquelas crianças que passam a considerar a leitura uma atividade prazerosa.
Epicuro
também nos ensina que a educação não deve se prender a quatro paredes, ou os 50
minutos de aula. O aprendizado pode se dar em qualquer hora, em qualquer
situação. Há professores que simplesmente se negam a responder perguntas dos
alunos fora da sala de aula, ou fora do horário. Esses são no máximo
transmissores de conhecimento, mas nunca mestres. O verdadeiro mestre, o é 24
horas por dia, até porque muitas vezes o aluno aprende mais com uma pergunta no
corredor, um bate-papo na hora do lanche, ou um texto indicado por um
professor. Confesso que fico muito feliz quando um aluno diz que leu um texto
meu na internet e afirma que aprendeu algo com ele.
Por
fim, a amizade. Um bom professor precisa ter domínio do conteúdo, precisa
dominar didática, gostar de dar aulas, mas também precisa gostar dos alunos.
Já
ouvi professores dizerem que não suportam os alunos. Como ensinar algo a alguém
que se odeia? Até porque o respeito é fruto muito mais da admiração, do afeto,
do que da força. Todas as pessoas que tentaram impor o respeito pela força
acabaram mal. Mussolini, por exemplo, foi linchado. Hitler teve de tomar veneno
e deixar ordens para queimarem seu corpo para que não acontecesse o mesmo com
ele. Por outro lado, pessoas como Gandhi são até hoje respeitadas justamente
pelo amor que emanavam.
O
professor que não é amigo dos alunos jamais desenvolverá neles a curiosidade
intelectual e jamais será respeitado como mestre. Sem afetividade, a escola
vira apenas uma fábrica de diplomas.
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