O
espanhol Esteban Maroto é um dos grandes quadrinistas da década de 1980. Aqui
no Brasil ele ficou particularmente conhecido graças às histórias de terror
publicadas na revista Kripta, da RGE (que republicava material da Warren) e à
série de FC Cinco por Infinitus, publicada pela Ebal.
H. P.
Lovecraft é um dos maiores autores de terror de todos os tempos. Ele renovou o
gênero no início do século XX em histórias tão verossímeis que muitos passaram
a acreditar que tratavam de eventos reais.
O
encontro dos dois só poderia render uma obra-prima: o álbum Os mithos de
Cthulhu, lançado recentemente pela editora Pipoca com Nanquim.
A
história desse álbum, no entanto, é bastante tortuosa. No início da década de
1980, a editora Bruguera encomendou para Maroto uma adaptação da oba de
Lovecraft para uma coleção de adaptações de obras literárias. A ideia era fazer
dois volumes dedicados a esse autor, um desenhado por Maroto e outro por Alex
Niño.
Entretanto,
pouco depois que os primeiros originais foram entregues, a editora decretou
falência. Maroto não conseguiu de volta os originais. A história acabou sendo
publicada colorida (a concepção original era PB) na revista Capitán Trueno.
Posteriormente essas histórias foram publicadas nos EUA com uma tradução de Roy
Thomas e capa de Frank Brunner, que chamou pouca atenção. Mais recentemente, a
editora Planeta topou publicar o álbum da forma como Maroto o havia planejado e
é essa versão publicada pela Pipoca e Nanquim.
Maroto
tem uma incrível capacidade de unir uma boa anatomia com cenários de sonhos e
esse é o grande mérito do álbum. Em especial as cenas de alucinação ou de
monstros são particularmente envolventes, o tipo de página que merecem muito
mais que uma simples mirada.
O álbum
reúne adaptações de três textos de Lovecraft: A cidade sem nome, O cerimonial e
O chamado de Cthulhu. Como toda a obra do autor é interligada, com citações
recorrentes, por exemplo, ao livro Necronomicon, as três histórias acabam
formando um conjunto coeso. O maior problema do volume é que os editores
queriam ainda mais coesão e pediram para Maroto fazer os monstros das três
histórias o mais parecido possível. O resultado é que o monstro Cthulhu ficou
totalmente descaracterizado e só sabemos que é ele porque o texto assim o diz.
Outro
problema é que, em nome da consisão, Maroto reduziu o texto, tornando-o mais
fluído, mas perdendo o charme do autor de providence, cuja grande
característica era justamente o texto prolixo, repleto de descrições e
adjetivos que, no final, não descreviam nada, servindo muito mais para dar uma
impressão de terror.
Apesar
desses problemas, o álbum é item obrigatório para os fãs de terror. Como
escreve José Villarrubia na introdução do volume, Lovecraft é muito conhecido,
mas pouco lido. “Seus textos, ao mesmo tempo em que influenciam muitos outros
autores, são ignorados. Por isso a reaparição dessas adaptações é um acontecimento
importante”.
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