quarta-feira, fevereiro 19, 2020

Os mitos de Cthulhu, de Esteban Maroto



O espanhol Esteban Maroto é um dos grandes quadrinistas da década de 1980. Aqui no Brasil ele ficou particularmente conhecido graças às histórias de terror publicadas na revista Kripta, da RGE (que republicava material da Warren) e à série de FC Cinco por Infinitus, publicada pela Ebal.
H. P. Lovecraft é um dos maiores autores de terror de todos os tempos. Ele renovou o gênero no início do século XX em histórias tão verossímeis que muitos passaram a acreditar que tratavam de eventos reais.
O encontro dos dois só poderia render uma obra-prima: o álbum Os mithos de Cthulhu, lançado recentemente pela editora Pipoca com Nanquim.
A história desse álbum, no entanto, é bastante tortuosa. No início da década de 1980, a editora Bruguera encomendou para Maroto uma adaptação da oba de Lovecraft para uma coleção de adaptações de obras literárias. A ideia era fazer dois volumes dedicados a esse autor, um desenhado por Maroto e outro por Alex Niño.
Entretanto, pouco depois que os primeiros originais foram entregues, a editora decretou falência. Maroto não conseguiu de volta os originais. A história acabou sendo publicada colorida (a concepção original era PB) na revista Capitán Trueno. Posteriormente essas histórias foram publicadas nos EUA com uma tradução de Roy Thomas e capa de Frank Brunner, que chamou pouca atenção. Mais recentemente, a editora Planeta topou publicar o álbum da forma como Maroto o havia planejado e é essa versão publicada pela Pipoca e Nanquim.
Maroto tem uma incrível capacidade de unir uma boa anatomia com cenários de sonhos e esse é o grande mérito do álbum. Em especial as cenas de alucinação ou de monstros são particularmente envolventes, o tipo de página que merecem muito mais que uma simples mirada.
O álbum reúne adaptações de três textos de Lovecraft: A cidade sem nome, O cerimonial e O chamado de Cthulhu. Como toda a obra do autor é interligada, com citações recorrentes, por exemplo, ao livro Necronomicon, as três histórias acabam formando um conjunto coeso. O maior problema do volume é que os editores queriam ainda mais coesão e pediram para Maroto fazer os monstros das três histórias o mais parecido possível. O resultado é que o monstro Cthulhu ficou totalmente descaracterizado e só sabemos que é ele porque o texto assim o diz.
Outro problema é que, em nome da consisão, Maroto reduziu o texto, tornando-o mais fluído, mas perdendo o charme do autor de providence, cuja grande característica era justamente o texto prolixo, repleto de descrições e adjetivos que, no final, não descreviam nada, servindo muito mais para dar uma impressão de terror.
Apesar desses problemas, o álbum é item obrigatório para os fãs de terror. Como escreve José Villarrubia na introdução do volume, Lovecraft é muito conhecido, mas pouco lido. “Seus textos, ao mesmo tempo em que influenciam muitos outros autores, são ignorados. Por isso a reaparição dessas adaptações é um acontecimento importante”.

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