A
maioria das pessoas não tem a menor ideia de como funciona o método científico.
Para eles, as soluções científicas surgem numa espécie de passe de mágica.
O
assunto é complexo, mas vou tentar simplificar aqui, focando em dois aspectos
importantes: o controle das variáveis e a verificação pelos pares.
Para
exemplificar, vamos usar uma hipótese: “Nióbio cura câncer”.
Como
saber se essa hipótese está correta? É necessário testá-la. Como? Claro,
aplicando nióbio em pessoas com câncer.
Mas não
basta isso. É necessário controlar as variáveis: peso, idade, gênero,
alimentação. Essas variáveis são fatores que influenciam no processo de cura.
Por
exemplo, alguém pode ter uma melhora porque tem boa alimentação, e outra pode
piorar porque se alimenta de forma inadequada. Ou seja, alguém pode melhorar
não por causa do nióbio, mas porque se alimenta melhor.
Como
evitar que essas variáveis interfiram na pesquisa? Há vários cuidados aí. Para
evitar, por exemplo, que a alimentação interfira, coloco todos os pacientes com
a mesma dieta. Todo mundo comendo as mesmas refeições, não tem chance da comida
interferir nos resultados. A mesma coisa deve ser feita com todas as outras
variáveis que possam interferir no resultado: elas devem ser controladas.
E,
claro, o paciente deve estar tomando apenas aquele remédio que está sendo
testado. Aplicar um coquetel de remédios no paciente esperando que um deles
faça efeito é como rezar para diversos santos: no final, não se sabe quem fez o
milagre.
Mas há
uma variável que não pode ser pesada ou vista: é o fator psicológico. Todo
mundo já deve ter passado por uma situação em que melhorou assim que tomou um
remédio, mesmo antes dele fazer efeito.
De
repente, todo mundo que está tendo melhoras com o uso do nióbio está melhorando
só porque acha que vai ser curada.
Como
isolar esse fator?
Uma das
formas é criar um grupo que acha que está tomando remédio, mas na verdade está
tomando só uma pílula de farinha ou açúcar, o famoso placebo.
Ao final
da pesquisa, compara-se a evolução da doença no grupo que está tomando o
remédio com o grupo que está tomando placebo. E compara-se esses resultados com
um outro grupo, que não está tomando nenhum remédio. Esse controle permite que
seja possível verificar se o remédio é de fato eficaz.
Mas espere
aí, você diz: “o cientista pode simplesmente inventar a pesquisa, dizer que
curou centenas de pessoas sem ter feito nada disso”.
De fato,
há vários casos registrados de fraudes científicas.
Como
evitar isso? Simples: com a verificação pelos pares. O cientista deve
apresentar sua pesquisa, seja em uma revista ou em um congresso. E não basta
divulgar os resultados. É necessário explicar todo o passo a passo para que
outras pessoas possam replicar essa pesquisa e verificar se chegam ao mesmo
resultado.
Há
inúmeros casos de fraudes que foram descobertas assim: quando tentaram refazer
a pesquisa, outros estudiosos chegavam a resultados completamente diferentes.
Pode
parecer complexo – e é mesmo. Mas é graças a isso que a ciência consegue
alcançar resultados confiáveis.
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