sábado, maio 02, 2020

Mentira de artista e o fake na arte

Mentira de artista, de Fabio Fon é um livro fundamental para quem quiser entender a arte contemporânea. 
Fábio se debruça sobre casos em que a arte utilizou o fake como elemento criador - estratégia antecipada na frase de Picasso, segundo o qual a arte é uma mentira que revela a verdade. 
A estratégia não é nova. Edgar Allan Poe, inovador como sempre, a usou no episódio conhecido como A balela do balão, em que criou uma viagem imaginária da França aos EUA a bordo de um balão e provocou furor entre os leitores do jornal The Sun.
Mas Fábio se concentra na arte contemporânea, e não por acaso.
Num mundo de simulacros, em que é cada vez mais difícil separar realidade de ficção, a arte se torna essencial para refletirmos sobre esses processos.
Os capítulos vão desde artistas fakes a robôs que se fazem passar por artistas, passando pelo ótimo filme F for Fake, de Orson Welles, o mesmo que protagonizou o episódio Guerra dos Mundos, em a dramatização do clássico livro de H.G. Wells foi tida como verdade e provocou alvoroço nos EUA (tanto Welles quanto Wells foram processados e ambos absolvidos).
A arte que lida com o fake é algo tão novo e perturbador que mesmo entre os estudiosos da arte, muitos não consideram arte, até porque muitas dessas obras contestam até mesmo as noções atuais do que é arte ou do que legitima uma obra como artística.
Mas arte é exatamente isso. A arte verdadeira não conforma, não nos acomoda em nossas noções cristalizadas, mas nos faz pensar, refletir e colocarmos em cheque nossas convicções. E o livro Mentira de artista apresenta vários casos em que a arte fez exatamente isso.

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