quarta-feira, junho 03, 2020

Antropofagia, de Tarsila do Amaral


Em 1924 o casal Oswald de Andrade de Tarsila do Amaral acompanhou o escritor franco-suíço Blaise Cendrars às cidades históricas de Minas Gerais. O escritor ficou encantando com o que viu, o que despertou no casal o interesse pela cultura brasileira. Artistas como Aleijadinho haviam se apropriado do barroco europeu e transformado em outra coisa, com formas únicas e anjinhos mulatos.
Essa experiência marcou profundamente Oswald e Tarsila e, quatro anos depois, levou-os a criar o movimento antropofágico, segundo o qual a característica de nossa cultura é exatamente essa: pegar o que vem de fora, devorar e transformar em algo diferente.
Entre as obras que marcaram essa fase está Antropofagia, de 1929.  O quadro remete diretamente ao famoso Abapuru com suas formas distorcidas, pés enormes e cores fortes. Mas aqui há mais fatores: o enorme seio da mulher, que se sobressai na imagem e o fundo de vegetação exuberante – em contaste com a paisagem agreste de Abapuru. Sobre as cores, Tarsila certa vez declarou: “Encontrei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Segui o ramerrão do gosto apurado... Mas depois vinguei-me da opressão, passando-as para minhas telas: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante”.

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