Corria o ano de 1984. Uma revista do Homem-aranha
tinha encalhado numa banca que eu conhecia. Na época eu só tinha dinheiro para
comprar a revista eu colecionava, a Superaventuras Marvel, mas aquela revista
ali, encalhada, com o preço sendo corroído pela inflação, era tentadora demais.
Além disso, a capa era chamativa, com o Homem-aranha, o Justiceiro e a repórter
April no centro, cercados por bandidos apontando suas armas.
Quando minha mãe me perguntou o que eu queria de
Natal, não titubiei: pedi o valor da revista, 700 cruzeiros (sim, nessa época nós
estávamos na pendura mesmo) e foi assim que consegui adquirir essa revista, a única
do aracnídeo que comprei na época.
Essa é uma bela história, com roteiro de Marv
Wolfman e desenhos de Keith Pollard, um desenhista menos famoso entre os que
ilustraram o amigão da vizinhança, mas muito competentente, especialmente nas
cenas de ação e com muitos personagens.
Na trama o Justiceiro está caçando um traficante de drogas quando o acaso faz com que o Aranha entre em seu caminho. Após um conflito inicial (um dos melhores quadros da história é Peter Parker entrando em seu apartamento e dando de cara com o Justiceiro apontando para ele uma arma), os dois acabam se aliando.
Justiceiro reclamando de camelôs: um proto-Rorschach? |
Lembro que algo que me chamou muita atenção na época
foi o fato da narrativa ser toda baseada nos diários do Justiceiro chamados
Relatório de guerra, algo que até então eu não tinha visto. E esses diários
mostram o quanto o personagem era mostrado como uma crítica pelos roteiristas
(o criador do personagem, Gerry Conway, já disse diversas vezes que ele é um
vilão) e essa história antecipa inclusive a narrativa de Rorschach em Watchmen.
À certa altura o diário registra: “A zona leste de Manhattan é uma verdadeira
imundice! Os camelôs estão em toda parte vendendo roupas pela metade do preço
das grandes lojas!”. Não é o tipo de coisa que Rorschach escreveria em seu diário?
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