sábado, novembro 14, 2020

Coleção histórica Marvel: Demolidor

 


Um dos volumes mais interessantes da coleção histórica Marvel é Paladinos Demolidor.
A Coleção histórica Marvel resgata histórias antigas de personagens da editora. Na grande maioria das vezes são histórias relativamente conhecidas, ou sagas famosas, republicadas.
A edição dedicada ao Demolidor, no entanto, é mais interessante. O que conhecemos dele é praticamente o que veio de Frank Miller em diante.  
Este volume faz um apanhado das fases anteriores do personagem, com os diversos desenhistas responsáveis por essas fases.
E foram muitos.
A começar por Bill Everett, criador visual do personagem. Dizem que Stan Lee bolou o personagem como forma de valorizar Everett, que havia criado Namor na década de 1940 e há tempos não desenhava quadrinhos. Colocá-lo em um título de super-heróis Marvel era uma forma de mostrar o mestre para a nova geração.
Mas Everett, que então trabalhava com publicidade, não deu conta e abandonou o título depois do primeiro número.
Aí veio Joe Orlando, logo substituído por Wallace Wood, que foi substituído por John Romita, que foi relocado para o título do Homem-aranha após a saída de Steve Ditko. Só aí entrou Gene Colan, o desenhista que passou mais tempo com o Homem sem medo.
A edição de Paladinos reúne histórias desses diversos artistas, numa belíssima amostra do estilo de cada um com o personagem (particularmente gosto muito de Wally Wood, que introduziu o uniforme vermelho, embora nitidamente ele não estivesse fazendo o que gostava e não se esforçou muito).
Do ponto de vista de roteiro, a história mais interessante do volume é “Eis que surge o Gladiador”.
Nessa historia, Stan Lee estava saindo de férias, e, após escrever as sete primeiras páginas, deixou o texto a cargo de um novato, Denny O´Neil. O´Neil (que pouco depois seria responsável por reformular o Batman na DC) mostra que tinha uma visão própria do Demolidor.
Na HQ, Foggy Nelson tenta convencer Karen Page de que é o Demolidor como forma de conquista-la e, sem querer, enfrenta um vilão, o Gladiador.
Ao ver os diálogos do amigo, o Demolidor percebe que suas falas parecem ridículas. De fato, Stan Lee parecia ver o Demolidor como uma espécie de Homem-aranha cego (o primeiro número inclusive fazia essa comparação, trazendo a capa do primeiro número do aracnídeo). O Demolidor de Denny O´Neil reflete: “Pareço bobo feito o Foggy! De agora em diante serei um combatente do crime do tipo fortão e calado”.
O roteirista também reflete sobre o vilão, Gladiador, antecipando seus problemas mentais que seriam depois explorados por Miller.
Essa pequena participação de Denny O´Neil teve pouco impacto sobre o personagem. Logo Stan Lee retornou das férias e o Demolidor voltou a ser o herói brincalhão, que fazia piadas com os vilões durante as lutas.
Mas anos depois, Denny O´Neil se tornou o editor do personagem e um jovem inovador chamado Frank Miller teve a oportunidade de reformular o herói. É de se pensar até que ponto as mudanças de Miller foram sugeridas por O´Neil. 

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