Ao ler o volume três do álbum Creepy, lançado
pela editora Devir em 2014, duas coisas saltam aos olhos: a incrível imaginação
de Archie Goodwin, que escrevia a maioria das histórias e o impressionante time
de artistas que esse mesmo Goodwin, que era também editor, conseguiu reunir em
torno de si (ele tinha fama de ser um dos caras mais simpáticos da indústria).
Para começar, as capas na maioria eram de
ninguém menos que Frank Frazetta! Inclua na lista de artistas Neal Adams (antes
de se tornar uma celebridade dos comics), John Severin, Reed Crandall, Joe
Orlando, Steve Ditko, Dan Adkins, Gray Morrow e o incrível Angelo Torres (um
porto riquinho com traço deslumbrante).
A qualidade das histórias é tão impressionante
que torna-se difícil escolher as melhores histórias, mas algumas sem dúvida se
destacam.
Entre elas, as HQs desenhadas por Steve Ditko. Archie Goodwin era famoso não só por ser um editor extremamente simpático, mas também por adaptar seus roteiros aos desenhistas, aproveitando o máximo das potencialidades estéticas de cada ilustrador. É o caso de “Segunda chance”, em que um assaltante vende sua alma ao diabo em troca de mais tempo de vida após a morte, o que parece um bom negócio, já que ele iria para o inferno de qualquer forma. Mas o diabo é mais esperto do que ele imagina. A situação é usada por Ditko para criar cenas bizarras como a splash page inicial em que o inferno é mostrado como formas surreais que se contorcem em rostos agonizantes.
Ditko também parecia se sentir muito à vontade em histórias de espada e magia, como se pode ver em “Onde mora a magia”, em que um guerreiro enfrenta um feiticeiro em meio a animais estranhos e figuras geométricas. O mesmo pode ser dito sobre Cidadade da Perdição, sobre um bárbaro que foi traído por seus amigos e é atraído até uma cidade perdida.
Vale também destacar Hop-frog, adaptação do
conto de Edgar Allan Poe adaptada por Archie Goodwin e desenhada por Reed
Crandall.
O aviso é uma ótima HQ no estilo além da
imaginação: um homem desce do ônibus de madrugada em uma cidadezinha do
interior dos Estados Unidos e descobre que o hotel onde deveria ficar está
fechado. Curioso, ele procura uma porta lateral, mas o que encontra é uma
mulher morta. Roteiro do mestre Goodwin com arte de Jerry Grandenetti, com uma
diagramação nada convencional e forte trabalho e claro e escuro que aumentam em
muito a sensação de mistério da trama.
E, quem poderia imaginar, Neal Adams se adapta
muito bem ao gênero terror e mostra isso em Maldição do vampiro, uma boa hq com
final surpresa, daquelas em que nada é o que aparenta.
Sem comentários:
Enviar um comentário