Uma história pode ser ótima. Mas nós precisamos estar preparados para compreender toda a sua importância e toda a sua qualidade. Foi o que aconteceu comigo quando li pela primeira vez uma história do Monstro do Pântano escrita por Alan Moore. Publicada em Novos Titãs 5, era a segunda escrita pelo mago inglês e era uma hq totalmente estranha. Para começar, não tinha nenhuma ação. Também não tinha heróis uniformizados. E a narrativa surreal era sobre um monstro verde tendo alucinações. Era algo muito fora da curva para um rapaz de 15 anos que conhecia muito pouco de quadrinhos. Tenho a impressão de que nem mesmo fiquei com a revista, já que não colecionava a Novos Titãs.
Futuramente, eu li Watchmen, minha mente
simplesmente explodiu e comecei a fuçar os sebos em busca de qualquer coisa de
Alan Moore. Foi quando reencontrei aquela história bizarra e as histórias
subsequentes e fiquei impressionado.
Alan Moore tinha virado de cabeça para baixo a
narrativa dos comics e criado uma saga de estréia que simplesmente redefinia o
terror.
Na primeira história, publicada originalmente
em The Saga of The Swamp Thing 22, o Monstro do Pântano, após a revelação de
que não é Alec Holland, mas um planta que acha que é humana, entra no pântano e
cria raízes, deixando de falar ou mesmo de se mexer. Não há nada acontecendo de
fato, exceto o fato de Abbe estar procurando por ele. A ação ocorre toda dentro
da cabeça do monstro. Ele está seguindo em um lugar pantanoso com Linda no colo
quando se depara com planárias fazendo um churrasco. Elas estão comendo Alec Holland
e convidam o monstro para se juntar a eles. Mas deixam apenas a caveira. “Mas
não sobrou nada”, diz ele. “Está brincando, não?”, diz a planária. “Deixamos
para você a melhor parte, a humanidade”. Mas até mesmo ela acaba sendo tirada
dele.
Alan Moore mostrou que plantas podem provocar terror numa cidade. |
No número seguinte, vemos que o
homem-florônico, ao comer um legume que cresceu no monstro, consegue contato
com o verde e inicia um plano de vingança contra a humanidade.
Estavam ali algumas das características que
fariam da série algo tão revolucionário, a começar pelo enfoque inusitado. Uma
planta pode provocar terror? O vilão mostra que sim, ao vedar as casas de um
vilarejo e fazer as plantas aumentarem a produção de oxigênio. No momento em
que alguém tenta acender um cigarro, o local queima.
O texto de Moore era revolucionário. |
A sequencia em que abbe tenta fugir, enquanto
raízes a prendem é um ótimo exemplo do texto revolucionário de Moore, que
simplesmente brinca com o fato de que o que está acontecendo é terrível demais
para ser aceito pela mente humana: “Paranóia não é tão ruim. A não ser, claro, que
se trate de esquizofrenia paranoide. Esquizofrenia paranoide sim, é ruim. Às
vezes você vê coisas. Coisas sem possibilidade de ocorrer. O fundamental é se
lembrar de não começar a gritar. Caso tenha notado que não é capaz de parar,
tente confrontar seus medos. Tente não fugir deles. Se isso não funcionar...
chame um amigo”.
Por outro lado, Steve Bissett e John Totleben
revolucionavam na arte. As figuras distorcidas ampliavam a sensação de horror,
assim como a diagramação inovadora, que muitas vezes abria mão do requadro como
quando a figura do Monstro do Pântano se alongava pela página como se
observasse Woodrue em sua loucura.
Os super-heróis se mostram pateticamente incapazes. |
Nessa história, moore já usava outra técnica
que se tornaria célebre: enquanto os fatos maiores aconteciam, ele muitas vezes
mostrava o impacto sobre as pessoas comuns, como o policial que vê a fita do
incêndio, volta para casa, queima todas as flores e plantas e corta a árvore na
qual ele e a esposa fizeram um coração com seus nomes quando se casaram.
Essa estratégia permitia ao leitor identificar
que aqueles fatos não eram simples abstrações, mas acontecimentos concretos,
que impactavam na vida de pessoas reais. Para quem estava acostumado a ver
super-heróis brigando e destruindo prédios sem que isso tivesse qualquer consequência
sobre as pessoas normais, era algo totalmente revolucionário.
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