Um dos livros mais célebres da coleção
Vaga-lume era O escaravelho do diabo, de Lúcia Machado de Almeida.
A história foi publicada originalmente em
capítulos, no ano de 1953, na revista Cruzeiro. Mas se tornou realmente popular
quando foi publicada em 1974 pela editora ática, dentro da coleção vaga-lume. Na
década de 1980, auge da coleção, tornou-se um dos títulos mais vendidos.
Na trama, a pequena cidade paulista de Vista
Alegre é aterrorizada por uma série de assassinatos. Antes das mortes, o
criminoso envia para a vítima um besouro – e o nome científico do mesmo indica
como acontecerá o crime. O protagonista é um jovem estudante de medicina, Alberto,
cujo irmão é a primeira vítima do assassino. É ele quem descobre a relação
entre os besouros e os crimes e é quem passa a ajudar a polícia a decifrar o
enigma.
Lúcia Machado de Almeida era uma escritora
primorosa, cujo estilo marcou a literatura infanto-juvenil brasileira,
influenciado muitos outros autores posteriores. Embora seja uma história de
crimes, o livro é contado de maneira leve para agradar o público mais jovem.
Uma curiosidade é que esse livro é,
provavelmente, um dos primeiros da literatura nacional a descrever um
psicopata: “O assassino, certamente um anormal, raciociona com lucidez e possui
inteligência fora do comum. De outro modo, jamais planejaria e levaria a cabo
crimes tão perfeitos e que não deixam o menor vestígio. Possivelmente deve ser
alguém igual a nós, de comportamente, aparentemente normal, alguém que
arquitetou um plano e estudou-o com calma e tempo nos seus mínimos detalhes”.
Escrito na década de 50, a obra tem alguns
aspectos que parecem estranhos hoje em dia. Motorista de taxi, por exemplo, é
chamado de chofer. Em uma sequência, é necessário ligar para a polícia e não há
nenhum telefone em todo o bairro, fazendo com que a pessoa se desloque pessoalmente
à delegacia. Ainda assim, é um livro prende a atenção, especialmente pelo
suspense criado sobre o que está de fato acontecendo. É uma trama que instiga a
imaginação do leitor.
Infelizmente, embora a descrição do perfil
psicológico do assassino fosse totalmente inovadora e incrivelmente acertada
para a época, a descoberta do assassino e da motivação do caso passava longe
disso. Compreensível, considerando-se que na década de 50 a psicologia
praticamente desconhecia a psicopatia. É de se imaginar como a autora teria
terminado o livro se tivesse acesso ao que se sabe hoje sobre o assunto.
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