No início da década de 1980, a cronologia da editora DC Comics era uma bagunça. O problema todo havia começado em 1961, quando Gardner Fox, responsável pela criação de Joel Ciclone e de sua versão da era de Prata, o Flash, resolveu fazer um encontro entre os dois personagens. A história “Flash de dois mundos” marcou a DC ao apresentar uma explicação que na época parecia muito criativa: o personagem clássico e o personagem moderno faziam parte de dimensões diferentes.
Posteriormente, a DC Comics (que na época se chamava National) começou a comprar personagens de outras editoras e, para acomodá-los, inventou novas Terras alternativas.
Os escritores começaram a juntar personagens de terras diferentes e a criar cada vez mais terras. Chegou num ponto que ficou difícil tanto ler as histórias quanto escrevê-las, pois ninguém conseguia entender direito como funcionava aquele universo com infinitas Terras alternativas.
Nessa época, o escritor Marv Wolfman, que vinha fazendo muito sucesso com os Novos Titãs, leu uma carta na seção de correspondência da revista do Lanterna Verde na qual um leitor reclamava: “Vocês deviam ajeitar a continuidade da DC” e teve a ideia de fazer uma grande história, em homenagem aos 50 anos da história da editora, que juntasse vários personagens e, ao mesmo tempo, desse uma arrumada na casa.
O personagem chave seria um vilão não aproveitado dos Novos Titãs, chamado Monitor, cuja função seria conseguir informações sobre os heróis para vendê-las aos inimigos. O Monitor foi transformado em herói, mas ganhou uma contrapartida negra: o Antimonitor, cujo objetivo seria destruir os universos paralelos. Ao final da Crise nas Infinitas Terras, sobraria uma única realidade e os personagens que não morreram durante a história foram acomodados nela.
A diretoria da DC Comics adorou a ideia de um grande crossover entre os personagens da editora e deu carta branca para Wolfman. Inclusive, escalou para a empreitada George Pérez. Os dois eram a escolha óbvia para o projeto, pois Wolfman sabia trabalhar muito bem com histórias que envolvessem muitos personagens e Pérez adorava desenhar muitos heróis em um único quadro. Em Crise, ele teria a chance de desenhar todos os personagens da editora, nem que fosse em uma única sequência.
Com a Crise, a DC mostrava que não era uma editora que vivia só de nostalgia, mas, ao contrário, consolidava a posição de inovadora. Afinal, além de mexer com toda o universo DC, Wolfman matou dois personagens queridos dos fãs: Flash e a Supermoça. E os personagens mais famosos, como Batman, Super-homem e Mulher Maravilha, foram reformulados.
O Super-homem ganhou uma nova versão, com traços e roteiros de John Byrne, que vinha do sucesso dos X-men. Batman foi reformulado por Frank Miller em Ano Um e a Mulher Maravilha ganhou uma nova versão, muito mais mitológica, com traço e roteiro de George Pérez.
Crise nas Infinitas Terras deixou três legados. O primeiro foi quanto à cronologia, um legado que com o tempo foi desaparecendo à medida em que novos roteiristas inventavam novas terras paralelas. O segundo legado foi quanto à obra em si, pois Crise foi uma ótima história em quadrinhos, com bom roteiro e bom desenho. O terceiro legado foi o negativo: a partir do sucesso de Crise, tanto a Marvel quanto a DC se viram tentadas a fazer mega-crossovers juntando todos os seus personagens sempre que as vendas iam mal. A maioria com qualidade muito inferior ao trabalho de Wolfman e Pérez. Como essas mega-sagas ocupavam todas as revistas da editora por um período, isso afastou novos leitores, que logo desistiram de comprar todos gibis de um mês para entender um único número.
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