A revista do Thor sempre oscilava entre a mitologia e os
super-heróis. Kirby puxava para o mitológico, Stan Lee, como roteirista e
editor, trazia para os super-heróis.
Em alguns casos essa tensão levava a resultados divertidos,
como na edição de Journey in to Mystery 113.
A história começa com uma splash page grandiosa mostrando
Thor e outros deuses nórdicos velejando pelo ar em um navio viking. A
ilustração brincava com os sentidos do leitor, com um efeito Escher numa escada
impossível na lateral da nave. O texto dizia: “Quando o imperioso Odin comanda,
Thor tem que obedecer! Assim, nós o encontramos a bordo da gigantesca nau
celeste asgardiana, integrando a legião dos deuses que enfrentará os guerreiros
demoníacos de Jotunheim! Isso não tem muito a ver com a parte principal da
história, mas você tem de admitir que é um começo para lá de espetacular!”.
Kirby era um especialista em criar imagens grandiosas. |
Segue-se uma página com dois quadros igualmente monumentais
(e igualmente repletos de elementos) de batalha. O texto metalinguístico de Lee
diz: “Nós prometemos a Jack Kirby que ele poderia desenhar algumas dessas cenas
de batalha de cair o queixo... então lá vai! Aproveite... pois não cobramos um
centavo a mais por isso!”. O texto brincava com a tensão entre os elementos de
super-herói e mitologia do título e, ao mesmo tempo, fazia um tremendo
marketing do trabalho de Kirby.
Ao publicar a história, a Ebal tirou do texto todas as referências metalinguísticas.
Terminada essa sequência, Thor volta para a terra, disposto a
abdicar de sua condição de imortal em favor do amor pela enfermeira Jane
Foster. Enfurecido com essa escolha, Odin retira dele seus poderes. Claro que
um vilão iria aparecer exatamente nesse momento: o Gárgula Cinzento, capaz de
transformar qualquer pessoa em pedra por uma hora.
O que se segue é uma comédia de erros: Don Blake conta que é
o deus do trovão, bate o martelo e nada acontece. A enfermeira acha que ele
está enlouquecendo. Logo depois surge o vilão querendo que lhe contem onde está
Thor.
Enquanto persegue os dois, o vilão diz: “Esqueceram que as
minhas asas de pedra me dão poder de vôo ilimitado?”. Será que sou só eu que
acho estranho um personagem com asas de pedra ser capaz de... voar?
Como era de se esperar, Thor volta a ter seus poderes no
momento certo e consegue derrotar o vilão.
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