O blog está quebrando recordes em cima de recordes. Este mês tivemos o maior número de acessos em um único dia, 3772. Também tivemos a maior audiência mensal de todos os tempos: mais de 102 mil. Para se ter uma ideia do que isso representa, o recorde anterior do blog, de agosto de 2011, auge da era dos blogs, era de 91 mil acessos.
quarta-feira, março 31, 2021
Idéias de Jeca-tatu tem a maior audiência de todos os tempos
O blog está quebrando recordes em cima de recordes. Este mês tivemos o maior número de acessos em um único dia, 3772. Também tivemos a maior audiência mensal de todos os tempos: mais de 102 mil. Para se ter uma ideia do que isso representa, o recorde anterior do blog, de agosto de 2011, auge da era dos blogs, era de 91 mil acessos.
Zona do crepúsculo
A Bíblia do roteiro de quadrinhos
Na época eu não poderia imaginar a proporção que isso iria ganhar. O projeto foi aumentando, aumentando, até se transformar no que é, provavelmente, o mais completo livro sobre roteiro já publicado no Brasil.
A obra tem praticamente tudo que um roteirista precisaria saber para escrever boas histórias para qualquer mídia.
Alguns assuntos foram tratados no Brasil apenas nesse livro. Já outros assuntos é a primeira vez que são tratados num livro de roteiro provavelmente no mundo, como a verossimilhança hiper-real.
É uma obra de peso (340 páginas!), tanto que decidimos chamar de A bíblia do roteirio de quadrinhos. Essa obra teve seu lançamento oficial em Curitiba sexta-feira passada e já está vendida no site da editora.
A arte fanástica de Even Mehl Amundsen
II Congresso Mentes Criminosas
No dia 25/06, às 15h estarei ministrando uma palestra sobre psicopatas no 2º Congresso Online Mentes Criminosas. Convido a todos a participarem! Haverá diversas palestras, minicursos e mesas-redondas, além de ser totalmente online e com emissão de certificado de 60h!
Vocês poderão comprar os ingressos através do link abaixo. Mas corra, pois o primeiro lote encerra hoje!
Link para inscrição 👇
https://doity.com.br/ii-congresso-online-mentes-criminosas-infor?a=Moira
Os pilares da terra
MAD especial quadrinhos
De todas as
revistas que eu perdi numa das muitas mudanças, a que eu mais me arrependo foi
um número especial da MAD dedicado aos quadrinhos da editora Record.
Lembro que
ia viajar de ônibus e antes passei na banca do Zé, no São Brás (atualmente o último
sebo de rua de Belém) e comprei essa edição. Enquanto esperava para embarcar,
lia e gargalhava a ponto de chamar a atenção dos outros passageiros.
Recentemente
consegui uma versão em scan dessa revista e me surpreendi em perceber o quanto
esse material até hoje parece muito bom.
A reunião de
talentos era realmente incrível: Wallace Wood, Don Martin, Sérgio Aragonés... só
para citar os mais famosos.
Wood parecia
disposto a colocar o máximo de anedotas no menor espaço possível. Fico imaginando
o quanto esse tipo de humor influenciou filmes como Apertem os cintos o piloto
sumiu. E, olhando em retrospecto, teve influência sobre todos os roteiros de
humor que já fiz.
Outra história
desenhada por Wood que me arrancou gargalhadas era uma em que se imaginava o
que aconteceria com os personagens de quadrinhos se eles tivesse envelhecido ao
invés de se manterem com a mesma idade. Entre as várias sequências, um Super-homem
que não tem mais peito ou dentes – e portanto não tem como segurar as balas.
Hoje pode não
ser tão conhecido, mas Dom Martin era uma verdeira sensação nas décadas de 70 e
80, a ponto da Mad lançar livros apenas com trabalhos dele. Nessa edição, um
trecho de uma história sobre Zorro é digna de nota. Zorro deixa Tonto cuidando
dos cavalos e quando volta pergunta se passou muito tempo fora, ao que Tonto
responde batendo os pés no chão, como faria um... cavalo! Um humor totalmente visual que só seria possível nos quadrinhos.
Algo que não
lembrava era a quantidade de histórias envolvendo os peanuts. Ao que parece, o
sucesso da tira (provavelmente alavancada pelo desenho animado) era estrondoso
na época, a ponto de se tornar o personagem mais popular do período. Uma das
histórias brinca exatamente com isso, imaginando se o sucesso teria mexido com
a cabeça dos personagens.
A mad
poderia ser muito boa para falar de política, filmes, seriados, mas era
simplesmente insuperável quando falava de quadrinhos.
Green Book - um filme sobre racismo
O preguiçoso fiel
Vai mudar, eu sei que a minha vida vai mudar
Vai mudar, eu sei que a minha vida vai mudar
Vai mudar, eu sei que a minha vida vai mudar
Vai mudar, eu sei que a minha vida vai mudar
Além do fato óbvio de estar perturbando os vizinhos e, aparentemente, não ter nenhuma outra música em seu pen-drive, o caso nos leva a refletir sobre como algumas pessoas encaram a religião: acham que não é necessário trabalhar, pois Deus vai lhes dar tudo, mudar suas vidas para melhor, e não é necessário fazer nada. Não é necessário estudar ou trabalhar. Basta ficar parado, sentado, à espera de um milagre, de alguém que bata em suas portas e lhes ofereça um milhão de reais.
Quando eu era criança, dizia-se "Deus ajuda a quem cedo madruga". Hoje, basta dar o seu dinheiro para o pastor, sentar na frente da casa, passar o dia inteiro ouvindo a mesma música e ficar esperando sua vida mudar.
terça-feira, março 30, 2021
1963: Alan Moore reiventa o passado
Em tempo: esse material dificilmente será republicado em decorrência de uma treta do Moore com desenhistas. Entrentanto, é possível encontrar scans na internet. Clique aqui para baixar.
Os melhores do mundo
O traço limpo e anatômico de Steve Rude era um alívio numa época em que até os músculos dos heróis tinham músculos. |
Como escrever quadrinhos
O livro Como escrever quadrinhos ensina os fundamentos básicos do roteiro a partir da experiência do premiado roteirista Gian Danton. Valor: 25 reais (frete incluso). Pedidos: profivancarlo@gmail.com.
Maria atrás das grades
No início da década de 1970, auge da ditadura militar, a vida não era nada fácil para quem fazia quadrinhos eróticos (ênfase no erótico, em que as situações só poderiam ser insinuadas). Os militares consideravam que o erotismo era uma forma do comunismo internacional destruir a família brasileira.
Na época, um dos maiores sucessos era Maria Erótica, criação de Cláudio Seto e publicada pela editora Edrel. Apesar de ser assediada por todos os homens, Maria era virgem - a ênfase das histórias, com forte influência do mangá, era exatamente o fato do ato consumar (na época Maria nem sequer ficava realmente nua).
A Liga das Mulheres Católicas achou que Maria era comunista (afinal, apesar de ser virgem, ela deixava os homens doidos por ela) e a denunciou aos militares.
Os militares invadiram a editora, em busca do autor, Cláudio Seto, mas este morava no interior de São Paulo e só ia à capital para entregar os originais. Sem poder prender o autor e dar uma satisfação às mulheres católicas, os militares resolverem por uma situação surreal: levaram a própria Maria Erótica presa! Os originais da história foram confiscados e levados para a sede da polícia.
Maria, presa, coitada, só queria amar.
História retirada do meu livro Grafipar, a editora que saiu do Eixo.
A estrada da noite
A estrada da noite conta a história de um astro do rock (Jude) que, ao comprar o paletó de um morto, começa a ser perseguido por seu fantasma, que o culpa pelo suicídio da filha (uma ex-namorada de Jude). O título se refere tanto à morte quanto à fuga do personagem principal, que pega a estrada com Georgia, sua atual namorada, e seus cachorros.
Joe Hill é o pseudônimo do escritor Joseph Hillstrom King, filho do mestre do terror Stephen King. Faz sentido: o sobrenome King traz, inevitavelmente, comparações com o pai, o que pode comprometer a avaliação de um escritor iniciante. Mas, mesmo feitas essas comparações, Hill se sai bem. Seu estilo é um mistura do estilo do pai com o de outros autores, como Neil Gaiman. Ele inclusive cita Alan Moore na epígrafe.
Do pai, Hill herdou a capacidade de criar personagens com os quais o leitor simpatiza. No início, todos os personagens parecem marionetes, chavões: Jude é um roqueiro barra-pesada e grosseiro e Georgia é uma menina desmiolada e fútil. Conforme passam pelas atribulações do enredo, os personagens crescem, ou nós os conhecemos melhor, e aprendemos a gostar e a torcer por eles.
Por outro lado, o autor mostra uma incrível habilidade para esticar a tensão e o suspense sem deixar que a linha se rompa. A forma como ele faz isso lembra mais Hitchock do que King.
Na comparação, Hill perde em um ponto: ao contrário do pai, ele não se preocupa em criar um clima para suas histórias antes de introduzir o fantástico. Em poucas páginas o primeiro ato acaba e os protagonistas já estão envolvidos no conflito. Em King, na página 10 você já gosta dos personagens, mas não sabe exatamente no que eles estão envolvidos. Com Hill é o contrário.
Por outro lado, o crescimento dos personagens é um ponto positivo. Numa visão mais metafórica, podemos dizer que os protagonistas estão sendo perseguidos não só pelo fantasma do paletó, mas por todos os fantasmas de seus passados.
Noir - quando Gian Danton e Bené Nascimento misturaram policial com terror
A história “Noir”
publicada na revista Mephisto, da
editora ICEA surgiu meio por acaso. O Bené tinha recebido um roteiro do editor,
mas não gostou, achando o desenvolvimento óbvio demais. Estávamos discutindo
isso no ônibus, quando o Bené me disse:
- Quer
saber? Não vou ilustrar esse roteiro! Vamos criar outra coisa e mandar para
eles! E vamos criar agora!
E assim
começamos a conversar sobre como seria a história. Bené queria que ela tivesse
um clima noir. Eu lembrei de um filme que tinha esse clima e que sempre esteve
na minha relação dos 10 melhores: Coração Satânico, de Alan Parker.
Coração
satânico tinha uma estrutura na qual um detetive procurava por um homem
desaparecido. À medida em que a investigação avança, ele vai vendo todos os
seus informantes sendo mortos. No final, ele descobre que o homem que ele
procura é ele mesmo e o cliente é na verdade Lúcifer, para quem ele havia
vendido a alma.
Imaginamos
uma situação assim, mas com um contexto de vampiros, já que vampiros eram um
tema de terror clássico e, imaginávamos, iria agradar os editores. Assim, um
detetive investigava assassinatos em séries cometidos por um vampiro e, ao
final descobre-se que ele é o assassino.
Essa
história foi barrada pelo Diretor de arte, Dagoberto Lemos, assim que chegou na
editora. Ele argumentou que o desenho do Bené estava muito sujo e a história
era incompreensível. Quem nos salvou foi a editora, Neuza de Castro Luz, que
bateu o pé e foi falar com o dono da editora. Sua aposta valeu a pena: a
revista, que antes vendia 40% da edição, pulou para 70% naquele número.
É um desses
casos explicados pela teoria dos paradigmas: como não era da área, Neuza não
percebeu que nossa HQ não se encaixava no terror anos 60, típico de revistas
como a Mephisto e foi isso que fez com que ela conseguisse perceber as
qualidades da história.
Noir fez
tanto sucesso que a editora logo em seguida nos pediu mais uma história, nos
mesmos moldes. À essa altura nós já sabíamos que a HQ quase tinha sido recusada
e resolvemos fazer uma HQ que criticava o terror clássico, Decadence.
O conto da aia
segunda-feira, março 29, 2021
Argo - o cinema como farsa
Argo é um filme de 2012 dirigido por Ben Affleck, ganhador de diversos prêmios, entre eles o Oscar de melhor filme. O sucesso de público e de crítica é merecido. A história é intrigante e o filme muito bem dirigido, criando uma espécie de "triller cabeça", em que o suspense se mistura a questões políticas e históricas.
A película é baseada em fatos reais: em 1979 a embaixada americana no Irã é invadida por manifestantes e todos os seus ocupantes são feitos reféns. Mas seis pessoas conseguem escapar pelas portas dos fundos e se refugiam na casa do embaixador canadense. Para resgatar essas pessoas um agente do FBI cria um filme falso de ficção científica chamado Argo. A ideia é tirar os funcionários da embaixada disfarçados de membros da equipe de filmagem.
Affleck surpreende, criando um filme denso, repleto de suspense: o perigo surge a todo momento e, se a farsa for descoberta, todos serão mortos pelo regime iraniano. Fatos reais, como pessoas enforcadas em gruas de construção, ajudam a dar o clima das cenas.
Uma curiosidade é que para tornar a farsa crível foi criado até um cartaz, um story board e desenhos de produção. Boa parte desses desenhos ficou a cargo de Jack Kirby, o rei dos quadrinhos de super-heróis. Reproduzo abaixo algumas dessas imagens.