É muito difícil escolher a melhor história do Monstro do Pântano da fase de Alan Moore. Mas se eu fosse fazer uma lista, certamente Descida entre os mortos, publicada em e Swamp Thing Annual 2 certamente estaria no topo da lista.
Na saga anterior, Arcane
havia matado Abigail Cable e enviado sua alma para o inferno. Matt conseguira regenerar o corpo da donzela, mas
sua alma ficaria para sempe nas regiões abissais, a não ser que alguém fosse em
seu resgate.
A história é uma versão da Divina Comédia, com o herói descendo ao inferno para salvar a amada.
A história é, obviamente,
uma versão em quadrinhos do clássico A divina Comédia, de Dante Alighiere numa
versão no mímimo bizarra, já que o herói a descer ao inferno atrás de sua amada
é na verdade um monstro.
Assim, o Monstro do Pântano
usa sua capacidade de sair do corpo e visitar outras dimensões para alcançar a
região dos mortos. Lá ele encontra alguns dos principais personagens místicos
da DC Comics, que servem como seus guias: Vingador Fantasma, Desafiador,
Etrigan, o demônio e Espectro. Moore aproveita para remodelar alguns desses
personagens. Sua abordagem, de poucas páginas acaba sendo muito aprofundada do
que muitos autores que assumiram os títulos desses personagens por vários
números. O Vingador Fantasma, por exemplo, aparece nessa história como um anjo
caído, versão que seria explorada posteriormente pelo próprio Moore.
O Monstro do Pântano encontra vários heróis místicos da DC.
Os motivos para essa
história serem especiais são muitos, a começar por seu aspecto poético.
Etrigan, por exemplo, planta uma flor em homenagem a Abigail no próprio
inferno. “Ela não vai se lembrar do que quer que seja. Se quiser, conte-lhe
que, contra a corrente no inferno, uma flor com seu nome viceja”, rima o
demônio. Eu sempre me lembre da tradução que li primeiro, a da Abril: “Agora
leve a jovem para outra paragem! Ela nada irá lembrar quando enfim
despertar...mas se quiser, você poderá lhe contar... que no inferno uma flor
cresce em sua homenagem!”.
Temos a arte sensacional de
Steven Bissete e John Totleben, com sua diagramação ousada e certeira. À certa
altura, por exemplo, o Monstro do Pântano e Desafiador descem da região dos
recém-mortos para o paraíso, e os quadrinhos são diagramados de forma a parecer
que eles estão mesmo descendo pela página.
Espectro na versão de Moore, Bissette e Totleben.
Há toda a questão
filósofica. O Desafiador acredita que Deus é uma mulher. “Boston Brand é um
espírito jovem. Mal viu poucas peças de um quebra-cabeça que se espraia indefinidamente”,
rebate o Vingador Fantasma. “Deus não é pai, mãe ou policial mandão dando mimo
quando ri e castigo quando azeda. Cada um ascende ou cai pela própria ação. Ele
lamenta, mas não pode evitar a queda”, recita Etrigan em outro ponto.
Há sequências impressionantes,
como quando surge espectro. Talvez nenhum outro roteirista tenha imaginado uma
sequencia que deixasse tão claro a grandiosidade do personagem.
E, finalmente, temos uma
narrativa que prende a ponto de não conseguirmos desviar da leitura até os
últimos e emocionantes momentos.
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