As distopias são utopias ao contrário. Se as utopias surgiram no sonho do racionalismo humanista e iluminista, as distopias vão surgir como denúncia do processo de massificação característico do século XX, com sociedades autoritárias usando a mídia e a psicologia de massas para garantir a manutenção do regime. As distopias são essencialmente uma crítica da massificação e manipulação do povo, principalmente através dos Meios de Comunicação de Massa.
1984, de George Orwell
O inglês Orwell escreveu o livro depois de sua experiência na Guerra Civil espanhola em que viu as notícias serem manipuladas pelos stalinistas (são famosas, por exemplo, as fotos em que eram retirados líderes comunistas que caiam em desgraça). O contato com os fascistas, contra os quais Orwell lutou na Espanha, também influenciou a produção da obra. Em 1984 as pessoas são vigiadas 24 horas por dias por telas que enviam e transmitem informações. As notícias são constantemente reescritas para se adequar aos novos rumos do regime (o lema do governo é: quem governa o passado, governa o presente, quem governa o presente, governa o futuro). É nesse livro que surge o Big Brother, o ditador onipresente que, ironicamente, serviu de inspiração para o reality show. O livro foi adaptado várias vezes para cinema e TV. A mais famosa é a versão de Michael Radford feita exatamente no ano de 1984.
Escrito pelo filósofo Adous Huxley, o livro mostra uma sociedade em que as pessoas são condicionadas a viverem felizes num sistema de castas que decide o destino de cada um. Para isso é usada a psicologia comportamental e subliminares. A grande lição do livro é que não existe felicidade verdadeira sem liberdade de pensamento. O livro é muito conhecido no Brasil por conta da música Admirável gado novo, de Zé Ramalho.
Fahrenheit 451
Ray Bradbury fez uma análise acurada da população atual ao escrever um livro em que o totalitarismo surge não através da emergência de um ditador, mas do próprio povo, que opta por viver uma vida massificada. O livro gira em torno dos bombeiros, que, uma vez que as casas na obra são à prova de fogo, ganham para queimar livros, já que a leitura é proibida. Segundo Bradbury, tal estado de coisas começou com os protestos das minorias, que se sentiam ofendidas por esta ou aquela obra, até o ponto em que todos os livros foram proibidos, pois todos os grandes livros nos incomodam e nos fazem pensar. Na obra, as pessoas passam todo o tempo livre ou dirigindo em alta velocidade ou assistindo programas de TV totalmente insossos, que não ofendem ou incomodam ninguém, mas colocam seus expetadores num estado de topor massificante. Deu origem a um ótimo filme dirigido por François Truffaut.
Logan´s run (Fuga nas estrelas ou Fuga no século 23)
Filme, quadrinhos, seriado de TV, livro... essa foi um das mais famosas distopias da década de 1970. Após uma guerra nuclear, os protagonistas vivem numa cidade fechada chamada Domo governada por um computador. Para equilibrar a população, ninguém pode viver mais de 30 anos. Os que chegam a essa idade são supostamente renovados em um evento público chamado carrossel. Na verdade, são transformadas em comida para os mais jovens. Para cada novo bebê, uma pessoa precisa morrer. Numa felicidade hedonista que remete à Admirável mundo novo, os habitantes do domo não se casam: têm apenas relações sexuais fortuitas. Alguns fogem e tentam chegar a um local chamado Santuário, onde as pessoas podem viver livres e envelhecer. Para caçá-las existem os Sandman, soldados totalmente devotados ao regime. A história é focada em Logan, um Sandman que foge junto com uma jovem e sua busca pelo Santuário. Embora não teha uma análise política tão avançada quanto outros exemplos de distopias, o seriado teve o mérito de levar o tema para o público juvenil.
V de Vingança
Escrito por Alan Moorre e ilustrado por David Lloyd, essa HQ mostra uma sociedade autoritária em que as pessoas são vigiadas por câmeras (como em 1984) e controladas pela mídia. A história é focada em V, um herói anarquista que vai minando aos poucos as bases do regime numa tentativa de convencer a população de que cada deve pensar por si mesmo, e não entregar sua vida nas mãos de govenantes. A série ganhou uma adaptação cinematográfica pelas mãos dos mesmos diretores de Matrix que eliminou da história boa parte de seu conteúdo político.
O concorrente
Nessa distopia de Stephen King, os EUA, totalmente dominados pela poluição, a maioria da população vive miserável e doente, mas é mantida sob controle através reality shows. O personagem principal entra em um deles para conseguir dinheiro para a operação da filha. Ele é literalmente caçado e quanto mais tempo sobreviver, maior será o prêmio ganho pela família. Uma interessante análise do poder da mídia e de como o sentido do mórbido atrai a grande massa (todos os reality shows são crueis - em um deles cardíacos deve fazer exercícios até a morte). Virou filme com Arnold Schwarzenegger com o nome de O Sobrevivente.
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