Alan Moore não é
só um dos melhores – senão o melhor – roteiristas vivos, como é também um dos
mais ecléticos. Ele fez horror (Monstro do Pântano), super-heróis (Superman,
1963), ficção-científica (A balada de Halo Jones). Bojeffries: a saga, lançado
recentemente pela Devir oferece mais uma face do mago inglês: o humor.
A trama se desenvolve
em torno da família Bojeffries, “uma mistura de Família Adams com Monstro com
elementos lovecraftianos”, como definie Alexandre Callari na introdução do
volume.
É uma família totalmente disfuncional, composta por um
lobisomem, um vampiro, um vovô monstro lovecrafiatiano, um bebê capaz de gerar
energia termonuclear suficiente para iluminar toda a Inglaterra e dois
adolescentes: Reth e Ginda . Ginda é capaz de transformar um
bombom de chocolate num diamante e comê-lo e por isso acredita que os homens
ficam intimidados ao conhecer alguém poderosa.
Bojeffries: a
saga é Alan Moore transportando o humor típico de grupos como o Monty Phyton
para os quadrinhos numa história com toques de terror e fortes críticas
sociais.
A primeira história é centrada num cobrador de impostos.
A primeira
história, por exemplo, é sobre o cobrador de alugueis sociais que passa suas
horas de folga lendo relatórios de alugueis atrasados. Ele descobre que a
família Bojeffries não paga aluguel desde o século XIX e resolve cobrar os
alugueis atrasados. É uma estratégia para apresentar os personagens, a
ambientação e, ao mesmo tempo, fazer uma ácida crítica à burocracia inglesa. Junte
a isso várias gags que se repetirão ao longo do álbum, como a mania do tio
Raoul de comer cachorros.
Mas os melhores
capítulos são aqueles focados nos personagens, como “A noite de folga do tio
Raoul”, em que o personagem participa de uma festa da empresa e se transforma
em lobisomem no meio da comemoração (um episódio com forte crítica social). Ou
“festus: madrugada dos mortos”, em que o tio vampiro acorda pouco antes do
nascer do sol e precisa comprar sangue de soja antes que o sol surja. Mas em
seu caminho há todo tipo de obstáculos, como pãezinhos de sexta-feira santa,
pessoas carregando clavas de madeira e entregadores de jornais que decidem
puxar conversa. É um capítulo de puro humor visual.
Tio Raoul trabalha numa fábrica.
Mas, em termos
de humor, o melhor conto talvez seja “Sexo com Ginda Bojeffries”. O capítulo já
começa com uma tremenda inversão de papéis, quando Ginda passa por uma obra e
começa a assediar os pedreiros. “Isso é tão degradante! Quer dizer, sou um ser
humano... tenho sentimentos e ambições, tenho diploma de pedreiro. Mas para ela
eu não passo de um par de nádegas durinhas dentro de um jeans apertado”,
reclama um pedreiro enquanto a garota grita: “Qual é, lorinho?! Mostra essa sua
ferramenta do amor!”.
Os exemplos
mostram o tipo de humor usado por Moore na obra: irônico, inteligente,
inquietante e sutil.
Essas histórias
começaram a ser publicadas em 1983 na revista Warrior. Depois a saga passou por
várias outras publicações até serem finalmente reunidas em álbum.
É uma leitura
divertida e obrigatória para os fãs de Moore e de humor ácido, mas tem um
problema: fica a impressão de que havia muito mais a ser explorado na família.
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