Ao assistir a versão de James Gunn para o Esquadrão Suicida, o pensamento que me vinha à mente o tempo todo era: o primeiro filme foi um desperdício total de dinheiro, tempo e talentos.
O primeiro filme parecia ter sido feito por alguém que nunca
leu quadrinhos. Além disso, tinha uma premissa absurda: o Esquadrão Suicida foi
reunido para impedir uma ameaça provocada... pelo surgimento da criação do
esquadrão suicida! Sem falar, claro, do fato da película nunca se decidir se
era sombria e realista ou cômica.
James Gunn começa acertando pelo tom: O esquadrão suicida é,
acima de tudo, uma comédia. Como levar a sério um grupo de vilões desconhecidos
trabalhando como heróis? E Gunn caprichou nos desconhecidos. Eu, por exemplo,
nunca tinha ouvido falar no Dardo (um personagem tão obscuro que nos quadrinhos
não tem nem identidade secreta ou origem) ou a Doninha ou a Caça-ratos 2. E o que
falar do Bolinha?
Mas, apesar do tom cômico, o filme respeita os personagens e
consegue desenvolvê-los até melhor do que nos quadrinhos. Os traumas do Bolinha
com a mãe, por exemplo, creio que nunca foram trabalhadas nos quadrinhos. E até
a Caça-ratos 2 ganha uma relação afetiva com o pai que tem tudo a ver com os
ratos é um dos momentos mais ternos e marcantes do filme. O único personagem
plano é o Pacificador, mas essa característica encaixa perfeitamente no
personagem. É dele, aliás, uma das melhores frases do longa: “Eu amo a paz, se
precisar matar homens, mulheres e crianças para manter a paz, eu mato”.
Os personagens também ganham com ótimas interpretações, em
especial Margot Robbie, que parece ter encarnado ainda mais a vilã. Mas, ao
contrário de Esquadrão Suicida 1, aqui ela não leva o filme nas costas (e nem
salva o dia sozinha). Aqui todos têm seu carisma e sua função e todos os
personagens contam com atuações inspiradas.
Outro ponto de destaque é a trilha sonora, escolhida a dedo.
James Gunn, seguindo a tradição de Tarantino de escolher músicas já existentes
para compor a trilha, consegue o clima perfeito desde a primeira cena.
Na trama, o grupo de vilões é acionado por Amanda Waller
para destruir um prédio onde está sendo desenvolvida uma arma secreta que
poderá ser usada pelo novo governo da Ilha de Corto Maltese para atacar os EUA.
Essa arma é, na verdade, Starro, o conquistador, uma estrela do mar alienígena
que conquista planetas inteiros com clones de si que dominam as pessoas com os
quais entram em contato. O que já era perceptível no início, logo fica claro:
Amanda quer não só destruir Starro, mas também apagar os rastros do governo
americano na experiência.
Sem querer, James Gunn acabou criando uma grande metáfora da
atuação nos EUA no Afeganistão, em especial se considerarmos os eventos
recentes.
Starro foi o primeiro vilão enfrentado pela Liga da Justiça. |
Algumas curiosidades sobre o filme:
- A personagem argentina Mafalda é homenageada em
determinado trecho, ao aparecer como chaveiro na sequência do caminhão.
- Corto Maltese é o nome de um personagem de quadrinhos
criado pelo italiano Hugo Pratt. Provavelmente a primeira vez que esse nome foi
usado para se referir a uma ilha que existe no universo DC foi em Cavaleiro das
Trevas, de Frank Miller.
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