Para quem acompanhava as HQs
dos mutantes à época da Saga da Fênix parecia que a história estava num
constante crescendo em que uma edição superava a outra e tudo poderia
acontecer. Tudo mesmo. Já tínhamos visto, por exemplo, Jean Grey se transformar
na vilã Rainha Negra. Mas a edição 134 de The Uncanny X-men ia além ao mostrar a
personagem se transformar no maior perigo já enfrentado pela galáxia: a Fênix
Negra.
A capa, de autoria de John
Byrne, emulava uma capa clássica da fase de Dave Cockrum (publicada em The
Uncanny X-men 100), que mostrava o professor Xavier no meio, estimulando o
confronto entre os X-men clássicos (à esquerda) e os novos X-men (à direita). Aqui
temos a Rainha Negra ao centro, emoldurada pela fênix de fogo, com os X-men à
esquerda e o círculo interno do Clube do Inferno à direita.
A capa da edição 134 é uma referência à clássica capa da edição 100 dos X-men.
Na história anterior, Scott
tentara entrar em contato com Jean Grey através do elo mental entre os dois. Mas
o Mestre Mental o matara em um duelo de espadas, achando que assim, romperia
definitivamente a ligação entre os dois. Mas o que aconteceu foi exatamente o
oposto: o choque de ver seu amado sendo aparentemente morto fez com que ela se
libertasse do domínio do vilão.
Essa mudança faz com que os
heróis consigam derrotar o vilão, mas tem consequência grave: faz com que todas
as travas criadas por Jean Grey desapareçam. O que emerge é uma deusa maligna
de poder inconcebível.
A sequência em que a
personagem se vinga do Mestre Mental – e começa a se transformar na Fênix Negra
– é uma demonstração perfeita da sintonia da dupla Claremont – Byrne e como os
personagens foram elevados a um nível de tridimensionalidade muito maior do que
o esperado numa HQ de super-heróis. A personagem é vista encomberta pela
sombra, aproximando-se do vilão, enquanto o texto diz: “Jean Grey está
aterrorizada... mais do que jamais esteve em toda a sua vida... porque sabe o
que havendo e não pode impedir”.
A história traz para a personagem Jean Grey um nível de aprofundamento poucas vezes nos quadrinhos de super-heróis.
Mais à frente, no diálogo, a
personagem diz: “Este aparelho lhe permitiu criar ilusões sob medida para
minhas fantasias mais secretas... o lado sombrio e reprimido da minha alma”.
É interessante notar que o
balão já muda aqui, transformando-se no balão irregular com a moldura preta que
seria característico da Fênix Negra.
O surgimento da Fênix Negra é um dos momentos mais marcantes dos quadrinhos.
Mas a sequência também deixa
uma questão em aberto. O diálogo deixa a entender que o Mestre Mental despertou
algo que já existia na personagem. Se for assim, a Fênix Negra não é uma
entidade isolada, mas apenas a manifestação de poder de uma parte maligna da própria
Jean Grey. Para quadrinhos de super-heróis essa era uma percepção muito
complexa.
Em tempo: essa seria a última
edição com o Clube do Inferno e Sebastian Shaw foge afirmando que voltará. Na época
pensei: “Caramba, imagine que histórias incríveis vão sair disso”. Entretanto,
os personagens nunca foram novamente tão bem aproveitados.
1 comentário:
Esta saga, do começo ao fim, foi hors concurs. Estivemos com Jean em cada "retorno" ao passado, em cada confronto com capangas do Clube; fugimos junto com Kitty, vimos Scott dar um show ao virar o jogo contra o Círculo Interno, e tudo o mais.
Porém, uma observação: o texto em português acima não é o mesmo da publicação original, da época. As mudanças nas diferentes versões me fazem pensar.
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