segunda-feira, setembro 27, 2021

X-men – Deus ama, o homem mata

 

A Abril mudou o título para disfarçar a crítica religiosa. 

Os X-men sempre foram uma metáfora de minorias perseguidas. Alguns acreditam que Stan Lee criou o Professor Xavier basendo-o em Martin Luther King, enquanto Magneto seria Malcom X (dois dos principais líderes do movimento de direitos civis nos EUA).

Mas em nenhum outro momento essa metáfora ficou tão explícita quanto na graphic novel Deus ama, o homem mata, escrita por Chris Claremont e desenhada por Brent Anderson. Claremont deixa claro que a história se refere a todas as minorias perseguidas, sejam elas negros, gays, judeus ou qualquer outra e escancara como a religião pode ser usada na perseguição a essas minorias. Essa é, sem dúvida, a história mais política e ideológica dos mutantes.

A sequência inical é uma das mais pesadas já publicadas em um gibi de super-heróis. 


Na história, um pastor evangélico, Striker, inicia uma jornada midiática contra os mutantes. Em paralelo, organiza uma caçada às pessoas que apresentam qualquer mutação. A sequência inicial, com duas crianças mutantes sendo perseguidas, mortas e penduradas em balanços com placas de “mutunas”, é impressionantemente pesada para uma HQ de super-heróis.

Striker cita a Bíblia o tempo todo, distorcendo-a para adequá-la à sua caçada. Em um dos trechos: “Quando no meio de ti, em alguma das tuas portas que te dá o senhor teu Deus se achar algum homem ou mulher que fizer mal aos olhos do senhor teu Deus... então tirarás o homem ou a mulher que fez este malefício, às tuas portas e apedrejarás o tal homem ou mulher até que morra”.

Striker cita a Bíblia o tempo todo. 


A trama toda se desenvolve a partir de uma solução final de Striker: ele quer usar os poderes do professor Xavier ampliados por uma máquina para simplesmente matar todos os mutantes.  Os únicos que podem impedi-los são os X-men, que, para isso, fazem uma inusitada aliança com Magneto.

É uma história com boas sequências de ação e suspense, mas que se destaca principalmente pela mensagem, a exemplo da fala de Cíclope: “Rótulos arbitrários são mais importantes do que a maneira como levamos a nossa vida? O que supostamente somos é mais importante do que o que realmente somos?”.

O quadro que virou meme. 


Foi nessa história que saiu a famosa cena em que Striker aponta para Noturno e diz: “Humanos? Você ousa chamar aquela coisa de humana?!?”.

É uma história tão impactante que a editora Abril a escolheu como número de estreia para a coleção Graphi Novel. Entretanto, para evitar que ficasse explícita a crítica social e religiosa, o título foi mudado para “O conflito de uma raça”.

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