A Abril mudou o título para disfarçar a crítica religiosa. |
Os X-men sempre foram uma
metáfora de minorias perseguidas. Alguns acreditam que Stan Lee criou o
Professor Xavier basendo-o em Martin Luther King, enquanto Magneto seria Malcom
X (dois dos principais líderes do movimento de direitos civis nos EUA).
Mas em nenhum outro momento
essa metáfora ficou tão explícita quanto na graphic novel Deus ama, o homem
mata, escrita por Chris Claremont e desenhada por Brent Anderson. Claremont
deixa claro que a história se refere a todas as minorias perseguidas, sejam
elas negros, gays, judeus ou qualquer outra e escancara como a religião pode
ser usada na perseguição a essas minorias. Essa é, sem dúvida, a história mais
política e ideológica dos mutantes.
A sequência inical é uma das mais pesadas já publicadas em um gibi de super-heróis.
Na história, um pastor evangélico,
Striker, inicia uma jornada midiática contra os mutantes. Em paralelo, organiza
uma caçada às pessoas que apresentam qualquer mutação. A sequência inicial, com
duas crianças mutantes sendo perseguidas, mortas e penduradas em balanços com
placas de “mutunas”, é impressionantemente pesada para uma HQ de super-heróis.
Striker cita a Bíblia o
tempo todo, distorcendo-a para adequá-la à sua caçada. Em um dos trechos: “Quando
no meio de ti, em alguma das tuas portas que te dá o senhor teu Deus se achar
algum homem ou mulher que fizer mal aos olhos do senhor teu Deus... então tirarás
o homem ou a mulher que fez este malefício, às tuas portas e apedrejarás o tal
homem ou mulher até que morra”.
Striker cita a Bíblia o tempo todo.
A trama toda se desenvolve a
partir de uma solução final de Striker: ele quer usar os poderes do professor
Xavier ampliados por uma máquina para simplesmente matar todos os mutantes. Os únicos que podem impedi-los são os X-men,
que, para isso, fazem uma inusitada aliança com Magneto.
É uma história com boas sequências
de ação e suspense, mas que se destaca principalmente pela mensagem, a exemplo
da fala de Cíclope: “Rótulos arbitrários são mais importantes do que a maneira
como levamos a nossa vida? O que supostamente somos é mais importante do que o
que realmente somos?”.
Foi nessa história que saiu
a famosa cena em que Striker aponta para Noturno e diz: “Humanos? Você ousa
chamar aquela coisa de humana?!?”.
É uma história tão
impactante que a editora Abril a escolheu como número de estreia para a coleção
Graphi Novel. Entretanto, para evitar que ficasse explícita a crítica social e
religiosa, o título foi mudado para “O conflito de uma raça”.
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