Carlos Marighella era considera o inimigo número um do
regime militar. Agora, anos depois de sua morte, ele se torna tema de filme
dirigido por Wagner Moura. Filme aliás, que estreou primeiro em outros países e
teve grande dificuldade para ser distribuído ao Brasil, mas finalmente entra no
circuito nacional.
A história começa com um assalto a um trem onde estão sendo
transportadas várias armas. A narrativa, em plano sequência, é frenética, num
ritmo candenciado pela música Banditismo por questão de classe, de Chico
Science. Aqui temos um dos méritos do filme: a boa escolha de trilha
sonora.
Daí, pula para anos antes, em 1964, quando Marighella foi
preso logo após o golpe militar. A prisão acontece no meio de um cinema. Embora
ele esteja desarmado, os policiais que o prendem atiram e o atingem no peito.
Ele só seria solto porque um fotógrafo registra a cena de sua prisão e publica
no jornal.
Embora tenha qualidades, a cena mostra um dos problemas do
filme: sabemos muito pouco sobre Marighella antes de se tornar um guerrilheiro
que luta contra a ditadura militar. O expectador não sabe nem mesmo porque ele
está sendo preso na sequência de 1964 – e pode ter a impressão de que já
naquela época ele teria entrado para a luta armada. Esse é um personagem
interessante, que foi preso e torturado já na época da ditadura de vargas e é
compressível que não se possa contar tudo, mas um pouco de sua vida pregressa ajudaria
o expectador que sabe pouco sobre o protagonista.
Talvez por ser novo na direção, Wagner Moura nem sempre
consegue conectar os discursos à ação. À certa altura, por exemplo, um padre dominicano
explica a Marighella que Jesus era muito provavelmente negro e foi
embranquecido ao longo da história. A cena existe apenas para isso e parece
deslocada. Funcionaria muito melhor no meio de outra cena, em que ocorre algo.
De resto, vale destacar a atuação de Seu Jorge, cuja escolha
foi muito criticada, mas que consegue entregar uma atuação inspirada. Outro
ator que se destaca é Bruno Cagliasso, no papel do delegado Fleury, integrante
do esquadrão da morte, que foi peça fundamental na repressão durante a
ditadura.
Vale destacar também a direção crua, sem recursos
estilísticos nas sequências de tortura – o que transforma essas cenas em
verdadeiros socos no estômago.
Claro, o filme logo ganhou forte oposição da direita, mas a
polêmica parece ter ajudado o filme: ele já é a maior bilheteria nacional de
2021.
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