Um dos princípios básicos da teoria do caos é a dependência sensível das condições iniciais – a percepção de que pequenas mudanças no início do processo pode provocar grandes mudanças a longo prazo. O roteirista Mark Millar parece usar esse princípio na sua aclamada série Superman – entre a foice e o martelo.
Na história, o bebê kriptoniano cai em uma fazenda russa, sendo criado em plena União Soviética stalinista. Essa pequena mudança geográfica (à certa altura um personagem se pergunta: já imaginaram se ele tivesse caído 12 hora antes?) provoca uma mudança global absoluta. Com uma figura indestrutível, capaz de se mover à velocidade do pensamento e super-poderosa, a URSS ganha a guerra fria. Quando, após a morte de Stalin, o Super-homem é alçado ao poder, o império soviético se estende pelo mundo.
Millar reimagina o universo DC: Lex Luthor, o arqui-inimigo do Homem de aço, torna-se a maior arma norte-americana contra o avanço do estado comunista. A Mulher Maravilha alia-se ao Super-homem e Batman, após ver seus pais sendo mortos por homens da KGB, torna-se um terrorista anti-sistema.
O roteirista consegue equilibrar esses elementos de forma segura e verossimilhante. Em nenhum momento a história parece forçada – tudo parece ser consequência óbvia do que veio antes – até mesmo o final duplamente surpreendente. Trata-se de uma verdadeira epopeia quadrinística que em nenhum momento resvala para o preto e branco. Ao contrário, explora muito bens os tons de cinza de personagens que acham, cada um a seu modo, que estão fazendo o melhor para o mundo.
Uma única palavra para descrever Superman – entre a foice e o martelo: obrigatório.
Sem comentários:
Enviar um comentário