A primeira coisa que chama atenção em Cidade Invisível, série da Netflix criada por Carlos Saldanha (de A era do gelo), é a nítida semelhança com trabalhos de Neil Gaiman, como Sandman e Deuses Americanos, em que seres mitológicos e deuses vivem misturados com os humanos, como se fossem pessoas normais. Certamente não é uma coincidência, uma vez que a fonte é uma trama criada por Rafael Draccon, que certamente conhece o trabalho de Gaiman.
O que a série traz de inovador é explorar a mitologia brasileira, com sacis, curupira, iara, cuca e misturar isso com uma trama policial – em que alguém parece estar matando entidades.
O título cidade invisível tem dupla interpretação. Por um lado, remete aos seres míticos, invisíveis à maioria das pessoas. Mas por outro, remete à invisibilidade social. Todas as entidades são pessoas excluídas da sociedade, mendigos, moradores de favelas e cortiços.
Nesse sentido, um dos maiores méritos da série é a caracterização visual dos personagens. A Iara, por exemplo, tem um belo cabelo trançado que emula a cauda de uma sereia.
Outro grande mérito é provar que a mitologia nacional pode ser mostrada de maneira não-infantilizada em uma trama que flerta com o terror. Essa abordagem, aliás, parece ter funcionado, já que a série está entre as mais assistidas da Netflix.
Como aspecto negativo, o excesso de bifes, diálogos que parecem a maior parte do tempo não ter outra função que não seja explicar aspectos da trama ou do próprio universo da série para o expectador. Aliás, essa necessidade de explicar tudo é, certamente o maior defeito da série. Até mesmo a origem de seres como a Iara, a Cuca, o saci e o curupira e até do vilão e do protagonista são explicados, muitas vezes de maneira forçada para encaixar tudo numa trama coesa.
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