Imagine a situação: um homem recebe um convite para visitar um castelo na Transilvânia. A mulher pede para que ele não vá, pois já ouviu histórias terríveis sobre esse local. chegando à Transilvânia, os habitante locais tentam avisá-lo para não entrar no castelo: todos que entram ali não voltam mais. Mesmo assim o homem insiste e entra. No final, acaba sendo morto por um vampiro.
Se você lê quadrinhos de terror, já deve ter se deparado com várias histórias desse tipo. Esse tipo de situação é tão chavão que já foi satirizada na história “O estojo de sobrevivência para fenômenos super-anormais”, com roteiro de Jim Stenstrum e arte de John Severin. O guia era, essencialmente, conselhos de bom senso, como não abrir caixões: “Não abra caixões. Por que fazer tal coisa? São enormes as oportunidades de que algo pule e lhe morda. Mesmo se não houver um esfesa lá dentro, deve haver uma pessoa morta. Você já viu uma de perto? Arghh!”.
Esse é um exemplo típico de roteirismo: quando o roteirista força uma situação, fazendo com que o personagem faça algo idiota, apenas para que a trama aconteça.
Os exemplos são inumeráveis, especialmente em séries. Em uma das temporadas iniciais de Walking Dead um adulto esconde uma criança na floresta e pede que ela fique ali, quando volta, a criança desapareceu. Essa iniciativa da criança, de sair do esconderijo será o gancho de vários outros episódios seguintes, mas é extremamente forçada: uma criança apavorada tende a procurar um esconderijo, e não a sair dele.
(Alerta de spoiler)
Na segunda temporada de Handmaid´s Tale é oferecido à protagonista, June, a possibilidade de fugir da distópica Gileade com sua filha. Ao invés de fugir, ela entrega a criança para outra fugitiva e fica no país com a desculpa de que vai salvar a outra filha. Esse é o gancho para toda a terceira temporada e coloca em risco todos os refugiados no Canadá, provoca a morte de uma Marta, piora ainda mais a situação entre as aias e, no final, June não consegue nem mesmo ver sua outra filha. Ela conhecia a realidade de Gileade, sabe que aias não podem nem mesmo conversar e são punidas à menor falta, sabe que não conseguiria fugir com a outra filha, mas mesmo assim toma a atitude imbecil de ficar. Por que ela faz isso? Por que o roteirista precisava de um gancho para a terceira temporada. Só por isso.
É bom destacar, no entanto, que nem sempre que um personagem faz algo idiota é roteirismo. Fazer idiotices pode ser uma característica do personagem. O exemplo mais clássico é o do bobo da comédia, como Mr Bean, mas isso também é possível em histórias dramáticas. Na série Vikings um dos personagens mais recorrentes é um príncipe inglês, um grande guerreiro, mas que acredita que as batalhas são sempre vencidas pela força dupla. Dessa forma, toda vez que alguém usa uma estratégia inteligente contra ele, ele invariavelmente perde a batalha. Nesse caso não se trata de roteirismo: a ação é característica do personagem.
Outra situação é quando o personagem é levado pelos fatos a fazer algo idiota. Por exemplo, um adolescente cuja característica é ser valentão e é instigado pelos amigos a participar de um racha que irá matá-lo com o argumento de que, se não o fizer, ele será um covarde. Nessa situação, os fatos da história, aliados à sua personalidade, o levaram ao ato impensado.
Outra situação é quando o personagem é levado pelos fatos a fazer algo idiota. Por exemplo, um adolescente cuja característica é ser valentão e é instigado pelos amigos a participar de um racha que irá matá-lo com o argumento de que, se não o fizer, ele será um covarde. Nessa situação, os fatos da história, aliados à sua personalidade, o levaram ao ato impensado.
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