Certa vez dois monges estavam andando pela floresta quando
encontraram uma moça na beira de rio. Embora o riacho fosse raso, ela não tinha
coragem de atravessar.
O monge mais moço pegou-a nos braços e atravessou, deixou-a
do outro lado do riacho e voltou, continuando sua jornada.
Passou algum tempo, o monge mais velho o recriminou:
- Você é um monge, monges devem manter distância de
mulheres.
O outro não respondeu nada, só continuou andando. Não
demorou muito, o monge mais velho voltou à carga:
- Você não deveria ter carregado a moça. Você é um monge e
monges não devem fazer isso.
Mais uma vez a resposta foi o silêncio.
Não demorou muito, o monge voltou à recriminação. Antes que
ele continuasse, o monge mais novo respondeu:
- Eu deixei a moça lá na beira do riacho. Você ainda está
carregando ela?
Essa história, aparentemente cômica, guarda uma grande
sabedoria. Ela reflete um problema comum à maioria das pessoas. Elas passam a
existência carregando coisas, fatos, lembranças do passado. Muitas vezes, o que
elas carregam sequer é algo que aconteceu com elas, como no caso dessa
história.
O monge mais jovem era um sábio. Ele simplesmente vivia o
momento. Quando precisou ajudar a moça, o fez e depois continuou sua jornada,
focado no momento presente.
Essa é a uma das histórias que mais conto nos dias em que coordeno o zazen no Centro de Estudos Budistas Jardim de Lumbini.
Na meditação zazen nós treinamos exatamente isso: o foco no
momento presente, no que está acontecendo agora, deixando para trás tudo aquilo
que estávamos carregando. No zazen não somos atormentados nem pelo peso do
passado nem pela preocupação do futuro. Assim, andamos libertos.
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