sexta-feira, dezembro 02, 2022

RRR – Revolta, rebelião, revolução

 


RRR – Revolta, rebelião, revolução, filme de S. S. Rajamouli, inverte uma imagem comum no cinema, na literatura e na cultura em geral. Na maioria do imaginário ocidental, os indianos eram homens pequenos, magros, fracos, subservientes aos colonizadores britânicos, superiores a eles não só intelectualmente, mas também fisicamente.

Uma das primeiras cenas já quebra logo de cara com essa imagem. Rebeldes estão cercando um quartel e um deles atira uma pedra e quebra o quadro de uma autoridade. O responsável pelo local ordena: prendam esse infeliz e tragam ele aqui, uma ordem que parece totalmente absurda, como podemos ver pelos olhares assustados dos soldados ingleses. Mas um dos soldados indianos pula para fora das cercas e, enfrentando uma multidão não só consegue sobreviver como ainda trazer o homem preso. Em outra sequência, vemos um homem na floresta caçando um tigre e o faz usando principalmente sua força.

Essas duas sequências mostram os dois personagens da história, Alluri Sitarama Raju e Komaram Bheem, dois personagens históricos da resistência indiana ao domínio britânico. Os dois nunca se conheceram na vida real, mas lendo sobre eles o diretor imaginou o que aconteceria se eles se tornassem amigos. Mas os personagens do filme não têm nada de real. Eles são antes um símbolo da superioridade hindu sobre os invasores britânicos (vistos como fracos ou simplesmente vilões maquiavélicos). Isso se reflete até mesmo numa cena de musical (um filme de Bollywood sem musical não é um filme de Bollywood) em que eles impõem uma música indiana a uma festa britânica e começam uma disputa de resistência na qual os ingleses são vergonhosamente derrotados.   

A trama é relativamente simples, mas encontra camadas de complexidade, principalmente em decorrência dos flash backs, que muitas vezes modificam o significado dos acontecimentos: Komaram Bheem, disfarçado, tenta resgatar uma menina sequestrada pelo governador britânico e A. Rama Raju é destacado pela polícia para prendê-lo. Mas, quando os dois salvam um menino da morte, acabam se tornando amigos, sem saber a identidade um do outro.

RRR se destaca principalmente pela direção alucinante, com cortes muito rápidos, pelos efeitos especiais e pelas cenas de luta, tão mirabolantes que fazem Rambo III parecer um documentário.

Em uma das cenas finais, um dos protagonistas volta para sua aldeia levando um barco repleto de armas que serão usadas contra o domínio britânico. Ironia das ironias, já que a Índia só se tornou independente graças ao ativismo pacifista de Mahatma Gandhi.

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