sexta-feira, fevereiro 24, 2023

Wandinha

 


A Família Adams é sem dúvida um sucesso. História em quadrinhos, série, filme, todos memoráveis. Mas a personagem Wandinha teria carisma para segurar sozinha uma série? Tim Burton provou que sim.

Burton, que produziu a série da netflix e dirigiu os primeiros episódios, percebeu algo que estava apenas implícito antes: wandinha é uma gótica. Para interpretá-la, contratou Jenna Ortega, uma escolha mais do que acertada: sua interpretação fria e aparentente indiferente consegue entregar sentimentos até mesmo num simples olhar. Dificilmente a série teria dado certo com outra pessoa e boa parte do sucesso se deve à atriz. Acrescente a isso uma maquiagem e roupas góticas e temos uma personagem que consegue conquistar a todos curiosamente por, paradoxamente, ser o oposto do carismático.

Burton traz todos os seus elementos expressionistas, a música de Danny Elfman e mistura isso com fortes referências a Edgar Alan Poe.

Na trama, Wandinha foi expulsa de uma escola após soltar piranhas na piscina para se vingar de garotos que praticaram bullying com seu irmão (“Só eu posso torturar meu irmão”, diz ela). Depois de ter passado por várias instituições de ensino, só a resta a ela a escola Nunca Mais, um local sombrio onde se encontram os Excluídos, seres que não se encaixam nos padrões: sereais, lobisomens, esquisitos. Burton usa isso como metáfora para a forma como pessoas que não se encaixam nos padrões da sociedade são normalmente excluídos (um fenômeno que ele sentiu na pele).

Wandinha não quer ficar no local e além disso é rejeitada pela maioria dos outros estudantes. A essa trama adolescente de adaptação se mistura uma trama policial muito bem desenvolvida, cheia de pistas, pistas falsas e reviravoltas: alguém está matando pessoas na região e essas mortes parecem de alguma forma estar conectadas à chegada de Wandinha, de modo que ela toma para si a incumbência de descobrir o que está acontecendo.

A idolatria de Tim Burton por Edgar Alan Poe transparece em vários elementos da série: Nunca mais é uma referência ao poema O corvo (Nunca mais, Nevermore no original é a frase dita por pelo pássaro no poema), um clube secreto chamado beladona teve Poe como fundador e uma competição de barcos é toda baseada na obra do escritor, com os barcos representando seus contos, como O gato negro.

Vale destacar também dois personagens que funcionam perfeitamente na sua interação com a protagonista: o Maõzinha e Enid (interpretada por Emma Myers), a colega de quarto de Wandinha, contrária a ela em tudo. Incrível como a série consegue dar personalidade e emoções a uma mão.

Em tempo: a Netflix brasileira foi muito criticada por deixar a personagem com o nome pela qual ela era conhecida no Brasil, ao invés de usar o original, Wednesday (Quarta-feira). Entretanto, tirando uma ou outra referência nos primeiros episódios, o nome Wandinha funciona.   

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