quinta-feira, novembro 30, 2023
Os quadrinhos underground
O fim da eternidade, de Isaac Asimov
Abapuru, de Tarsila do Amaral
Batman – Gotham 1889
Lançado no ano de 1989, Gotham By Gaslight: An Alternative History of The Batman trazia uma proposta interessante: o cavaleiro das trevas lutando contra Jack, o estripador, em pleno século XIX.
O nome da série era uma referência aos lampiões de gás que iluminavam as ruas antes da popularização das lâmpadas elétricas.
Dificilmente poderia ser encontrado um artista melhor do que Mike Mignola para desenhar uma história desse tipo. Seu traço repleto de sombras e contrastes casava perfeitamente com a narrativa sombria e vintage.
O roteiro também tinha uma abordagem interessante: mostrava Bruce Wayne contando a Freud um sonho recorrente, o que servia de desculpa para o roteirista contar ao leitor a forma como os pais do herói haviam morrido. Durante anos o milionário vagara pela Europa conhecendo os principais gênios da época, do criador da psicanálise ao detetive Sherlock Holmes. Depois dessa longa preparação, ele volta para Ghotam City, onde estão acontecendo diversos assassinatos de mulheres, repetindo o que aconteceu na Inglaterra.
A história traz referências a outros aspectos do universo do morcego, como quando o inspetor Gordon mostra a Wayne o retrato de um homem que acabara de prender: um psicopata que matava mulheres ricas com estricnina e que tentara se matar com o veneno, o que lhe provocara um eterno sorriso. Era um Coringa desse universo.
Um outro aspecto interessante da narrativa era usar recortes de jornais e até um cartão postal para ajudar a contar a história.
Era, portanto, uma HQ que prometia muito, mas entrega pouco. Apesar de toda a propalada capacidade dedutiva de Bruce Wayne, ele resolve o caso apenas por estar, sem explicação, no lugar certo, na hora certa.
No final, a história valia mesmo pelo visual incrível de Mignola.
No Brasil essa história foi renomeada de Gotham 1889 tanto pela Abril quanto pela Panini, que a republicou no ano de 2018.
Bom dia, Verônica
Bom dia, Verônica, série brasileira da Netflix, é uma das melhores surpresas do ano, especialmente para quem gosta de histórias de suspense.
A série é baseada no livro homônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes. Ilana é autora de dois livros sobre psicopatas, o que por si só já é um bom crédito para uma série sobre um serial killer.
Na história, uma escrivã de polícia acaba se deparando com um caso de um assassino serial quando a esposa desse liga para a delegacia. O que parecia apenas um caso de violência doméstica se revela algo muito mais aterrador: o psicopata usava a esposa para aliciar mulheres, todas vinda do Maranhão, com a promessa de emprego. As mulheres são depois torturadas e mortas enquanto a esposa é obrigada a assistir pelos buracos de uma caixa de madeira colocada em sua cabeça.
O grande problema é que o assassino é também um tenente coronel da polícia e parece estar envolvido com um grupo infiltrado nas forças de segurança (embora não esteja claro do que se trata esse grupo é possível especular que se trata de um tipo de milícia). Não bastasse os próprios perigos relacionados a uma investigação de um serial killer se mistura mais esse: em quem confiar? Quem poderia ajudar na investigação e quem poderia na verdade repassar informações para o assassino, colocando não só a vida da escrivã, mas também sua família em perigo? Para piorar, tudo leva a crer que o pai da protagonista foi vítima desse mesmo grupo.
Soma-se a isso o cotidiano da própria esposa abusada tentando sobreviver na convivência com um homem extremamente violento que pode matá-la a qualquer momento.
Tudo isso constrói um clima de eterno suspense, deixando o leitor sempre no fio da navalha.
Direção e roteiros são extremamente competentes ao criar esse clima tenso, mas o grande atrativo mesmo é o elenco. Tainá Müller mostra que é muito mais do que um rosto bonito e magnetiza o leitor com sua interpretação da escrivã tanto em cenas de ação quanto em cenas mais intimistas. Camila Morgado e Eduardo Moscovis dão um show no papel, respectivamente, da esposa e do serial killer. As cenas cotidianas dos dois, por mais banais que sejam, como um simples jantar, são altamente carregadas de tensão. Um gesto de carinho pode esconder uma violência e um sorriso pode ser uma simples máscara para um drama intenso. A dinâmica entre os dois atores é tão perfeita que esses papéis marcarão a carreira dos dois.
Infelizmente nem tudo é explicado. Não sabemos, por exemplo, porque o serial killer só mata mulheres vindas do Maranhão ou qual a relação disso com sua mãe. É possível que a segunda temporada explique melhor esses temas.
Mas atenção: bom dia verônica é uma série pesada. Não é para todos os públicos.
quarta-feira, novembro 29, 2023
A arte zen de Katsushika Hokusai
Katsushika Hokusai é um artista japonês especializado em xilogravura (com a matriz feita em madeira). Ele ficou mundialmente conhecido por sua gravura “A grande onda de Kanagawa”, talvez a arte oriental mais famosa do mundo. Além do detalhismo e da predominância das formas curvas (difíceis de serem realizadas na xilogravura), o quadro expressa perfeitamente a filosofia de eterna mudança do zen budismo e do taoismo. Confira outros trabalhos desse incrível gravador.
Uma história de Saravejo
Entre os anos de 1992 e 1995 a Bósnia foi palco de uma sangrenta guerra étnica. Saravejo, uma cidade até então símbolo de tolerância, tornou-se o centro sangrento de um conflito em que um civil poderia ter seus bens expropriados ou até ser morto apenas por pertencer à etnia errada.
É esse conflito que Joe Sacco narra em Uma história de Saravejo, publicado no Brasil pela Conrad em 2005.
O principal informante de Sacco é Neven, um veterano que atuou em uma das milícias que defenderam a capital contra os sérvios. O álbum todo é costurado em torno da figura de Neven. Ele mente para Sacco, o explora, inventa histórias, arranja informantes que no final não sabem nada sobre a guerra, mas querem dinheiro. Mesmo assim, acaba sendo útil por mostrar o quanto a guerra foi dúbia e o tipo de pessoa que se envolveu nela.
Neven mostra também como Saravejo ficou repleta de ex-combatentes, pessoas que haviam acostumado a matar e não sabiam fazer outra coisa. O apartamento de Neven, totalmente caótico e repleto de lixo espalhado por todos os lugares é a perfeita definição visual de Saravejo no pós-guerra.
A guerra teve início com a desintegração das repúblicas comunistas no pós-queda do muro de Berlim. Na Bósnia, o partido nacionalista sérvio organizou grupos paramilitares para expulsar os não sérvios e se unir à Sérvia. O governo bósnio tinha sido obrigado a entregar suas armas para o Exército Popular da Iuguslávia. Quando os sérvios começaram a atacar Saravejo, só quem podia defender a cidade eram grupos paramilitares, verdadeiras gangues lideradas por bandidos e até por um cantor pop.
Essas gangues defendiam a cidade, mas também tocavam o terror. Podiam entrar na casa de alguém e confiscá-la. Matavam cidadãos de descendência sérvia. Sequestravam civis para cavarem trincheiras, uma atividade extremamente perigosa num local repleto de franco-atiradores. Chegou num ponto em que o próprio governo Bósnio, que finalmente conseguira montar um exército, teve que dar um basta.
Joe Sacco não só conta a história, mas também faz o perfil de cada um dos líderes de guanges, que se tornaram verdadeiros astros pop. Entre eles o surpreendente caso de Jusuf Prazina Aka Juka, um bandido que fora atingido num tiroteio antes da guerra e andava com muletas. Mesmo com a dificuldade de movimento, era um dos mais cruéis e mais populares, conquistando a admiração de milhares de fãs e seguidores, que embarcavam com ele nessa jornada de sangue e atrocidades.
É essa guerra sem mocinhos que Joe Sacco narra em seu álbum.
Batman – A saga de Hugo Strange
Publicada pela editora Abril em Super Powers 4, a saga de Hugo Strange marcou uma geração de leitores.
Com roteiro de Gerry Conway e desenhos de Don Newton, a história era continuação de uma trama anterior, na qual um mafioso elege o prefeito e o comissário e, aparentemente mata Hugo Strange tentando conseguir dele a informação sobre a identidade secreta do Batman.
A história começa com o mafioso sendo atormentado pelo fantasma de Strange, numa sequência genial (a arte-final de Alfredo Alcala ajuda muito no efeito).
O texto diz: “Seu nome é Rupert Thorne, e porque controla o prefeito você é o homem mais poderoso de Gotham. Então por que você se esconde em seu quarto, morrendo de medo? Por que estremece com uma simples batida na porta? Afinal, você não é o chefe Thorne, aquele que tem o domínio sobre os políticos de Gotham? Não há nenhum homem vivo que possa prejudicá-lo. É exatamente isso que o aterroriza... nenhum homem vivo...” e quando ele abre a porta, vemos o fantasma de Strange vestido como Batman.
Uma sequência sem duvida nenhuma impressionante. Pena que o resto não siga o mesmo padrão.
Na sequência, Batman ajuda um bandido a fugir, vira fora-da-lei, é caçado pela polícia, leva um tiro nas costas, mas tudo se resolve facilmente. Incrível como os criminosos se auto-incriminam e como ajudar alguém a fugir da prisão pode deixar de ser crime se você for o Batman.
Resolvida essa parte da trama, começa a parte interessante. Strange não morreu. Ele volta e começa a atormentar Bruce Wayne com uma falsa mansão Wayne. Heróis atormentados por vilões enlouquecidos podem dar origem a grandes histórias. Que o diga JM De Matteis em A última caçada de Kraven. Mas aqui, de novo, as boas ideias não se realizam. Strange é pouco desenvolvido e sua loucura pouco explorada. Além disso, as solução para os falsos Robins e falsos Alfreds é preguiçosa: são robôs.
Enfim, uma saga de ótimas ideias mal-aproveitadas.
Catálogo do exposição Tesouros da Grafipar
Informação relevante
“Como faço para conservar meu casamento?”; “De que maneira posso me tornar mais feliz?”; “O que posso fazer para que formigas não ataquem minhas flores?”; ”Que tipo de filme devo assistir no final de semana?”; "Qual o melhor local para viajar no final de semana?".
Perry Rhodan 68 – A caça das dimensões
Um artifício criado pelos autores da série Perry Rhodan para fazer com que a série atravessasse vários ciclos, com séculos transcorrendo, foi providenciar uma forma do protagonista ser imortal. E essa forma foi a ducha celular do Planeta Peregrino, à qual ele deveria se submeter a cada 72 anos.
No número 68 da série, chegou a época da ducha, mas o Planeta
Peregrino simplesmente desapareceu. Tudo leva a crer que ele foi tragado pela
dimensão dos druufs, o que faz com que Rhodan seja obrigado a atravessar para
tentar salvá-los.
Embora não chegue a ser um livro ruim, esse é um episódio de
pouco encanto.
Não havia muita história para ser contada, o que fez com que
Kurt Mahr colocasse páginas e mais páginas de detalhes técnicos e de teorias
científicas sobre o encontro das duas dimensões temporais. Talvez seja um
defeito meu de conhecimento de matemática, mas boa parte delas me parece
furada. Quando os druufs sequestram a nave dos terranos, Rhodan consegue facilmente
se apoderar da nave usando a “inversão de causa e efeito”, em que algo que é
efeito ocorreria antes daquilo que o causou. Talvez alguém mais versado em
física ou matemática consiga me dizer que se isso faz sentido.
A capa alemã. |
Há alguns aspectos curiosos, como o trecho relacionado à
temperatura. Quando os humanos são colocados na dimensão dos druufs, mais
lenta, a temperatura de repente aumenta: “O que é a temperatura? Apenas a
medida da velocidade média das moléculas. É claro que agora as mesmas se movem
com maior rapidez que antes e assim a temperatura tem de subir abruptamente no
momento em que as duas dimensões temporais se igualam”.
Há um problema, apresentado nos primeiros livros em que
humanos foram para a dimensão dos druffs: se alguém entra na dimensão deles, um
segundo dura dias na nossa dimensão, de modo que dias lá podem representar anos
na nossa dimensão. Essse detalhe é ignorado no livro, já que Rhodan volta para
nossa dimensão e o tempo se passou igualmente ao deles na outra dimensão.
Para piorar, no final descobre-se que o Planeta Peregrino,
depois de ter sido tragado, simplesmente atravessou em outro ponto de volta
para nossa dimensão, de modo que a missão de salvamento de Rhodan parece ter
sido totalmente inútil.
Jornada nas estrelas - Réquiem para Matusalém
Nos ultimos dias da série Jornada nas
Estrelas a falta de recursos fazia com que surgissem roteiros muito
interessantes que se passavam e um único cenário ou pouquissimos cenários. Nessa
categoria se inclui Réquiem para Matusalém, episódio escrito por Jerome Bixby e
dirigido por Murray Golden.
Na história, a tripulação da Enterprise está
sendo afetada pela febre rigeliana, cujo unico antídoto é o mineral ryettalyn.
kirk, spock e mccoy descem num planeta desabitado em busca da substância, mas
são surpreendidos por um robô (na verdade, um mecanismo nitidamente pendurado
em um fio) e pelo seu mestre, um homem chamado Flint. Apesar de um
estranhamento inicial, Flint acaba aceitando abrigar o grupo enquanto o robô
procura e processsa o mineral.
Mas há algo estranho acontecendo. O local
onde ele mora é ornamentado por quadros de Leonardo da Vinci que nunca foram
pintados por ele, além de outras preciosidades. Além disso, ali habita uma
jovem que diz ter abrigado após a morte os pais. A relação entre os dois fica
entre o amor paternal e o amor romantico. A situação se complica quando a moça
se apaixona por Kirky.
Esse tema, que parece ter sido levementte
inspirado em A tempesttade, de Shakespeare, serve parra diversas reflexões,
entre elas, uma das mais importantes da série: o que é a humanidade.
Alguns críticos têm destacado o comportamento
estranho de kirk no episódio, a começar pelo ccomeço agressivo ccom Flint até o
final, em que ele faz o papel do apaixonado brigando com outro pelo amor de uma
mulher. A mudança no comportamento de flint, que inicialmente nãoo quer os
terrestres no local e depois atrasa a entrega do medicamento para segura-los lá
também parece estranha. Entretanto, os diálogos e interpretações sãao tão bons
que acabamos esquecendo os problemas e nos concentrando nos meandros dessa trama
sobre um homem imortal.