“Não existe amor maior que dar a vida pelos
amigos”. A frase, escrita em um papel por um dos personagens, representa toda a
a ideia por trás do filme A sociedade da neve, do diretor espanhol Juan Antonio
Bayona.
O filme conta a história dos sobreviventes de
um dos mais famosos acidentes aéreos da história. Em 13 de outubro de 1972 um
avião da força aérea uruguaia, transportando um time de rúgbi e seus associados,
incluindo o treinador e alguns amigos, caiu no vale das lágrimas, na Cordilheira
dos Andes, fronteira entre a Argentina e o Chile.
Um quarto dos passageiros e tripulantes
morreu imediatamente. Os que sobreviveram tiveram que enfretar um verdadeiro
inferno. A região era extremamente inóspita,
com temperaturas baixíssimas, tempestades e avalanches. A pouca comida que
existia no avião deu apenas para os primeiros dias. Entretanto, 16 pessoas
conseguiram sobreviver 72 dias nessa situação extrema. Como não havia outra fonte
de comida, os sobreviventes foram obrigados a comer a carne dos mortos.
Embora seja a história de uma tragédia, A
sociedade da neve não é um dramalhão. Ao contrario, sua narrativa chega a ser
poética, um aspecto que é destacado pela narrativa em off de um dos
personagens. Aliás, aqui temos um ótimo exemplo do uso inteligente do narrador
em off, que reflete sobre os acontecimentos e dá o tom do filme.
Bayona aproveita um aspecto teoricamente
negativo como estratégia narrativa: o fato da maior parte da ação se passar em
um local fechado (os restos do avião) dá um tom de intimidade à obra, como se conhecêssemos
os personagens.
Destaque para a sequência da avalanche, que
inicia com os personagens divertindo-se com sua própria desgraça, fazendo
rimas. Esse clima ameno é quebrado pela primeira avalanche, que soterra a maior
parte deles. Começa a tentativa desesperada para sair de baixo da neve quando
vem a segunda avalanche e os enterra vivos nos restos do avião.
A sequência é emblemática pela habilidade do diretor
e dos roteiristas de ir da intimidade descontraída para o desespero e,
finalmente, para a claustrofobia de forma absolutamente crível e envolvente.
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