segunda-feira, janeiro 22, 2024

A sociedade da neve

 

“Não existe amor maior que dar a vida pelos amigos”. A frase, escrita em um papel por um dos personagens, representa toda a a ideia por trás do filme A sociedade da neve, do diretor espanhol Juan Antonio Bayona.

O filme conta a história dos sobreviventes de um dos mais famosos acidentes aéreos da história. Em 13 de outubro de 1972 um avião da força aérea uruguaia, transportando um time de rúgbi e seus associados, incluindo o treinador e alguns amigos, caiu no vale das lágrimas, na Cordilheira dos Andes, fronteira entre a Argentina e o Chile.

Um quarto dos passageiros e tripulantes morreu imediatamente. Os que sobreviveram tiveram que enfretar um verdadeiro inferno.  A região era extremamente inóspita, com temperaturas baixíssimas, tempestades e avalanches. A pouca comida que existia no avião deu apenas para os primeiros dias. Entretanto, 16 pessoas conseguiram sobreviver 72 dias nessa situação extrema. Como não havia outra fonte de comida, os sobreviventes foram obrigados a comer a carne dos mortos.

Embora seja a história de uma tragédia, A sociedade da neve não é um dramalhão. Ao contrario, sua narrativa chega a ser poética, um aspecto que é destacado pela narrativa em off de um dos personagens. Aliás, aqui temos um ótimo exemplo do uso inteligente do narrador em off, que reflete sobre os acontecimentos e dá o tom do filme.

Bayona aproveita um aspecto teoricamente negativo como estratégia narrativa: o fato da maior parte da ação se passar em um local fechado (os restos do avião) dá um tom de intimidade à obra, como se conhecêssemos os personagens.

Destaque para a sequência da avalanche, que inicia com os personagens divertindo-se com sua própria desgraça, fazendo rimas. Esse clima ameno é quebrado pela primeira avalanche, que soterra a maior parte deles. Começa a tentativa desesperada para sair de baixo da neve quando vem a segunda avalanche e os enterra vivos nos restos do avião.

A sequência é emblemática pela habilidade do diretor e dos roteiristas de ir da intimidade descontraída para o desespero e, finalmente, para a claustrofobia de forma absolutamente crível e envolvente.

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