Na década de 1970, Billy Wilder era um dinossauro. Ele tinha ajudado a criar a base do que seria a sintaxe do cinema norte-americano e havia realizado filmes críticos, metalinguísticos e revolucionários, como Quanto mais quente, melhor e Crepúsculo dos Deuses. Mas nos anos 1970 parecia anacrônico diante de uma geração ousada composta por caras como Spielberg, George Lucas, Scorsese e Coppola.
Isso provavelmente fez com que poucas pessoas
apreciassem o ótimo Avanti, amantes à italiana, filme de 1972. O filme, uma
comédia romântica, conta a história de um executivo norte-americano que ao ir
para a Itália cuidar do corpo do pai que morrera em um acidente automobilístico
durante as férias, descobre que o pai tinha uma amante há 10 anos e acaba se
apaixonando pela filha da amante, repetindo a história paterna.
É um filme que poderia falar à geração anos
1970, até pela abordagem corajosa e sem preconceitos. Mas, da mesma forma que
os filhos acabam usando as roupas dos pais em determinada cena, esse filme
parece antiquado. Um dos problemas, claro, era o fato do protagonista ser um
homem mais velho que a mocinha - uma estratégia usada por Wilder na década de
1950 para burlar a censura, já que os conservadores acreditavam que um
relacionamento desse tipo seria asexual.
As duas maiores qualidades do filme são também
os seus maiores defeitos para a época em que foi feito.
Primeiro, a construção é lenta. Wilder nos
acostuma com os personagens e faz isso sem pressa. A trama só engrena depois de
meia-hora, mas quando isso acontece, já estamos fisgados pela simpatia dos
personagens. Essa estratégia funcionava muito bem antes da televisão e do
video-cassete, mas virou um defeito, especialmente na comparação com os novos
diretores, que sequestravam a atenção do expectador desde o primeiro momento.
Segundo, a direção estava sempre a serviço da
história. Todos os recursos estilísticos eram usados exclusivamente para
desenvolver melhor o roteiro, de forma que à certa altura esquecemos que
estamos vendo um filme. Em contraste, a geração sexo, drogas e rock´n roll
fazia questão de mostrar seu estilo a cada take. Essa ênfase na estética
degeneraria em filmes coma estética vazia, que atropelava o roteiro, como vimos
em monstrengos, como Independente Day (da mesma forma que o barroco iria
degenerar no rococó).
Em suma: Avanti, amantes à italiana é uma
verdade aula de cinema. Um filme que merece ser visto com olhos sem
preconceito.
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