Uma das características da fase de Grant Morrison à frente
do título do Homem-Animal era uma mistura de humor com drama misturado com
comentários metalinguísticos. Isso fica claro no número 7, cuja capa, aliás,
aproveita muito bem o dom de Brian Bolland para o humor. Nela, o personagem
Máscara Vermelha aparece sentado à beira de um prédio, com uma expressão de
tédio, enquanto, em segundo plano, o herói luta contra robôs que parecem ter
saído de um seriado matinê trash da década de 1940.
A história incia com o vilão Máscara Vermelha aproximando-se
da beirada de um prédio e se preparando para saltar. “Ei! Não faça isso! Não
pule!”, grita o Homem-Animal.
Ao invés de herói e vilão brigarem, eles simplesmente conversam. |
Ou seja, a história começa no meio e só depois Morrison
conta o que aconteceu antes, na forma de flash back. Vemos o herói ligando para
casa e descobrindo que o filho não está na escola. “A gente está no meio de uma
invasão alienígena!”, justifica o garoto. Mas a ligação é interrompida por um
robô descontrolado que se aproxima de um casal. O Homem-animal pega o monte de
sucata e joga sobre outro, destruindo dois deles. Os robôs são incrivelmente
feios e desengonçados com seus braços e pernas no formato de molas. Ao tentar
descobrir de onde vêem essas aberrações ele encontra o vilão à beira do prédio
– e aqui chegamos à cena que abre a história.
O diálogo entre os dois quebra totalmente com todas as
convenções dos quadrinhos de super-heróis. Em qualquer história padrão, haveria
um quebra-pau entre herói e vilão, mas aqui os dois simplesmente conversam. O
Máscara Vermelha conta sua origem (curiosamente muito semelhante à do Homem-Animal)
e a forma como adquiriu o toque mortal ao pegar num meteoro: “Só pra você
saber, na época tinha um monte de meteoros esquisitos caindo. Muita gente
andava ganhando poderes estranhos e outras coisas... Um toque mortífero, dá pra
acreditar? Todos aqueles homens assombrosos levantando caminhões ou voando e eu
tinha que ganhar um toque mortal”.
A origem do vilão é muito parecida com a do Homem-Animal. |
Lendo, fica claro que o vilão se torna vilão apenas porque
recebeu o poder errado. “Para mim você não parece um sujeito mau”, diz o herói.
O desenho de Chas Truog funciona bem ao dar o tom certo para
a história, com um toque muito leve de humor e de drama.
Histórias como essa mostram que o Homem-animal de Morrison
conseguia acertar mesmo nas histórias mais simples e despretensiosas.
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