terça-feira, fevereiro 06, 2024

Perry Rhodan – O pavor



O número 74 de Perry Rhodan é considerado pelos fãs um marco da série. A razão é que foi nesse número que William Voltz, o mais celebrado escritor de PR estreou. E ele fez uma estreia com uma história realmente empolgante e envolvente, difícil de largar antes da última página.

Curiosamente,K. H. Scheer, então coordenador da série, parecia não confiar no novo autor. Reservou para ele uma história menor, que não tinha praticamente influência nenhuma nos rumos da saga. Além disso, exigiu que ele reescrevesse o texto várias vezes.

Na história, um grupo de astronautas terranos desce no planeta Epan com o objetivo de levar de volta para a Terra um mutante deixado no planeta como espião.

A capa da edição alemã. 


Epan é um planeta primitivo, que lembra a Roma antiga. A principal diversão dos habitantes locais é o combate na arena, em que epanenses enfrentam monstros reptilianos. O mais famoso desses gladiadores, chamado Mataal, é também quem acolheu o espião terrano em sua casa. Mas o rapaz está debilitado e magro a ponto de sua identidade terrana ter sido revelada, o que faz com que o grupo leve também o gladiador na nave.

A maior parte da trama se passa na nave girino. Um a um os tripulantes são paralisados. No começo, suspeita-se de uma doença, mas logo fica claro que alguém está provocando isso. Mas quem? E com qual objetivo?  

Voltz constrói uma trama de suspense e drama psicológico extremamente envolvente em que os acontecimentos e mistérios vão se sucedendo. A trama não perde fôlego nem mesmo quando ele revela aos leitores quem é o responsável pela situação, ali pela metade do livro.

Não sei se isso estava na sinopse que lhe foi apresentada, mas William Voltz transforma O pavor numa trama policial ao estilo Agatha Christie, mas misturada com ficção científica, em que pessoas num ambiente fechado começam a tombar e a suspeita vai recaindo sobre uma pessoa, que logo tomba, fazendo com que a suspeita recaia sobre outro e assim sucessivamente.

Se isso já não fosse bom o suficiente, o escritor ainda reserva uma tremenda reviravolta para o final.

William Voltz não era apenas alguém que sabia desenvolver histórias. Ele também tinha um texto poético (eu o chamdo de “O Ray Bradbury dos livros de bolso”) que foi se desenvolvendo aos poucos, mas já aparece nessa edição, como no começo, em que ele estimula os sentidos dos leitores ao descrever a arena do planeta Epan: “O cheiro de suor, sangue, sujeira, animais e... terra úmida revolvida; uma massa de expectadores formada por pequenos funcionários, grandes dignatários, mercadores, contrabandistas, operários, soldados, nobres; o rugido da luta, o tinir das armas, os gritos do animais feridos, as exclamações exaltadas do público... era este o espetáculo na arena de Rapmaag”.

Não é por acaso que O pavor se transformou num clássico instantâneo.

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