O número 74 de Perry Rhodan é considerado pelos fãs um marco
da série. A razão é que foi nesse número que William Voltz, o mais celebrado
escritor de PR estreou. E ele fez uma estreia com uma história realmente
empolgante e envolvente, difícil de largar antes da última página.
Curiosamente,K. H. Scheer, então coordenador da série,
parecia não confiar no novo autor. Reservou para ele uma história menor, que não
tinha praticamente influência nenhuma nos rumos da saga. Além disso, exigiu que
ele reescrevesse o texto várias vezes.
Na história, um grupo de astronautas terranos desce no
planeta Epan com o objetivo de levar de volta para a Terra um mutante deixado
no planeta como espião.
A capa da edição alemã. |
Epan é um planeta primitivo, que lembra a Roma antiga. A principal
diversão dos habitantes locais é o combate na arena, em que epanenses enfrentam
monstros reptilianos. O mais famoso desses gladiadores, chamado Mataal, é também
quem acolheu o espião terrano em sua casa. Mas o rapaz está debilitado e magro
a ponto de sua identidade terrana ter sido revelada, o que faz com que o grupo leve
também o gladiador na nave.
A maior parte da trama se passa na nave girino. Um a um os
tripulantes são paralisados. No começo, suspeita-se de uma doença, mas logo
fica claro que alguém está provocando isso. Mas quem? E com qual objetivo?
Voltz constrói uma trama de suspense e drama psicológico extremamente
envolvente em que os acontecimentos e mistérios vão se sucedendo. A trama não
perde fôlego nem mesmo quando ele revela aos leitores quem é o responsável pela
situação, ali pela metade do livro.
Não sei se isso estava na sinopse que lhe foi apresentada,
mas William Voltz transforma O pavor numa trama policial ao estilo Agatha Christie,
mas misturada com ficção científica, em que pessoas num ambiente fechado
começam a tombar e a suspeita vai recaindo sobre uma pessoa, que logo tomba,
fazendo com que a suspeita recaia sobre outro e assim sucessivamente.
Se isso já não fosse bom o suficiente, o escritor ainda
reserva uma tremenda reviravolta para o final.
William Voltz não era apenas alguém que sabia desenvolver
histórias. Ele também tinha um texto poético (eu o chamdo de “O Ray Bradbury
dos livros de bolso”) que foi se desenvolvendo aos poucos, mas já aparece nessa
edição, como no começo, em que ele estimula os sentidos dos leitores ao
descrever a arena do planeta Epan: “O cheiro de suor, sangue, sujeira, animais
e... terra úmida revolvida; uma massa de expectadores formada por pequenos
funcionários, grandes dignatários, mercadores, contrabandistas, operários,
soldados, nobres; o rugido da luta, o tinir das armas, os gritos do animais
feridos, as exclamações exaltadas do público... era este o espetáculo na arena
de Rapmaag”.
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