O terceiro volume da série Tenente Blueberry apresenta uma estrutura
interessante, que lembra uma trama policial.
Na história, Blueberry lidera a escolta de um comboio de
armas e munições. Mais do que levar essas carroças em segurança, ele pretende
chegar até o forte no qual está o general que comanda a guerra contra os
índios. Blueberry pretende informá-lo que os apaches são inocentes do ataque
aos colonos.
Mas, conforme a caravana marcha, coisas estranhas começam a
acontecer. Uma peça de toucinho desaparece, por exemplo. Quem está por trás
dessas ações aparentemente sem sentido e com que objetivo?
Mistério: por que alguém roubaria toucinho?
Charlier manobra o roteiro de forma inteligente, mantendo o
suspense e, quando descobrimos o que está acontecendo tudo faz sentido. É o
tipo de coisa que lemos e pensamos: não poderia ser de outra forma, é
óbvio.
Quando esse mistério é solucionado, a trama se transforma
num intenso triller de perseguição com os soldados fugindo de um verdadeiro
exército de indígenas e tentando sobreviver mesmo com uma absoluta
inferioridade numérica.
Aqui destacam-se as estratégias inteligentes de Blueberry,
que aproveita tudo, inclusive as dificuldades do terreno, como forma de
defesa.
Gir mostra seu talento em quadros como este.
Há uma estratégia comum entre roteiristas de fazer os
personagens agirem de forma tola como forma de fazer a história avançar.
Embora um ou outro dos militares aja de maneira idiota,
Blueberry jamais o faz. Aqui cada personagem age de acordo com aquilo que o
leitor espera sobre eles a partir das pistas deixadas pelo roteirista. Até
mesmo quando erram, esses erros da consequência direta dessas pistas, e exemplo
do soldado beberrão.
Blueberry usa tudo a seu favor, inclusive as dificuldades do terreno.
As dificuldades aparecem como parte das circunstâncias e
nunca se maneira forçada, assim como as soluções para as mesmas.
Se Charlier dá uma aula de roteiro, Gir vai se mostrando um
desenhista casa vez mais maduro e competente. Embora ainda esteja à sombra do
mestre Jijé, ele já começa aqui a apresentar algumas das características que o
fariam famoso, a exemplo do impressionante quadro do ataque dos índios à
caravana, repleto de personagens e detalhes.
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