No ano de 1997 eu estava no último ano do mestrado e fazia, durante as férias, a viagem de Curitiba para Macapá. Com dinheiro curto, avião nem pensar. Eram quatro dias de ônibus e um dia de navio. Numa dessas idas, encontrei num posto de gasolina uma edição encalhada de Ken Parker, da editora Best News.
Eu tinha lido alguns números emprestados da coleção do amigo Antonio Eder, mas nunca tinha comprado um exemplar. Claro, eu já esperava que fosse um quadrinho de qualidade, mas esse número foi muito além da minha expectativa, com uma história divertida, muito bem escrita e igualmente bem desenhada que me ajudou a passar o tempo durante a longa viagem.
A história conta com a participação especial de alguns dos mais famosos detetives da literatura. |
A trama gira em torno de uma viagem de trem para Boston. Por alguma razão, alguém comprou uma passagem para cinco dos detetives mais famosos da literatura: Sherlock Holmes, Hercule Poirot, Auguste Dupin, Ellery Queen e Philo Vance. Ocorre um crime. Um homem é morto e jogado do trem e cabe aos famosos detetives desvendarem o caso. Nesse meio tempo, encontram Ken Parker, que embarcou na locomotiva como clandestino.
O divertido da história é como cada detetive tenta desvendar o assassinato a partir do estilo que o tornou famoso, em referências diretas às suas histórias mais famosas. Vance, por exemplo, argumenta que o crime foi resultado de um intricado mecanismo. Dupin acredita que o assassinato foi executado por um gorila. Sherlock Holmes cria uma teoria envolvendo uma cobra. Ellery Queen cria uma intricada hipótese envolvendo códigos secretos. E Poirot acredita que todos estavam envolvidos no assassinato.
Milazzo alterna entre o traço realista e caricato. |
É uma mistura de homenagem e sátira, com Ken Parker descartando cada uma das hipóteses, para finalmente revelar o que realmente está acontecendo – e, no final, a revelação de quem assassinou o homem é realmente surpreendente e irônica.
Milazzo brilha com seu traço expressivo, captando perfeitamente o clima da história. Quando é mostrada a versão de cada detetive, o traço muda para o caricato, captando perfeitamente as intenções do roteirista.
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