quinta-feira, março 28, 2024

O homem que tentou convencer os médicos a lavarem as mãos

 


No início do século XIX era muito mais seguro para uma mulher ter o filho em casa ou até mesmo na rua do que dentro de um hospital. No Hospital Geral de Viena as mulheres imploravam para não terem seus filhos na ala atendida por médicos, onde o número de mortes era assustador.
Foi quando um jovem médico, Ignaz Semmelweis começou a se perguntar se tais óbitos poderiam ter algo a ver com o fato de que os médicos costumavam cortar cadáveres antes de realizar partos. Os médicos nem mesmo lavavam as mãos antes de uma cirurgia e costumavam ter orgulho de seus jalecos sujos de sangue. Semmelweis conseguiu convencer os médicos do Hospital Geral de Viena a lavarem as mãos antes de fazer os partos. Os resultados foram visíveis. Em abril de 1847, 57 mulheres haviam morrido dando à luz na maternidade. Em maio, quando os médicos começaram a lavar as mãos, só 6 mulheres morreram. Nos meses seguintes a taxa de mortes caiu a zero.
Era de se esperar que ele fosse tratado como herói, não? Não. Ele foi tratado como louco. Afinal, pelo que se acreditava na época, era impossível a mão de um médico estar suja e mais impossível ainda que essa sujeira pudesse contaminar um paciente. Um médico americano resumiu assim o senso comum da época: “As mãos de um médico não podem levar doenças porque um médico é um cavalheiro e as mãos de um cavalheiro estão sempre limpas”.
Semmelweis, até então uma estrela em ascensão, caiu em descrédito. Ele perdeu o emprego e foi vítima de uma campanha difamatória tão intensa que acabou ficando louco. Foi internado em um manicômio, espancado e morreu pouco depois.
A percepção de que a falta de higiene provocava as mortes das parturientes não era uma opinião. Era um fato. Tanto que as mortes simplesmente explodiram quando os médicos pararam de lavar as mãos. Mas mesmo assim esse fato foi rejeitado por aqueles que tinham uma “opinão diferente”.
Pode parecer que, um século e meio depois, nós evoluímos. Infelizmente não. Ainda hoje, há uma quantidade enorme de pessoas que não reconheceria um fato mesmo que ele lhe batesse na cara. Para essas pessoas, opiniões são mais importantes que fatos, um químico amador tem mais importância que um doutor em química e dezenas de pesquisas científicas não têm valor nenhum diante de uma mensagem de zap zap.
Se fosse vivo atualmente, Semmelweis provavelmente teria o mesmo fim.

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