sexta-feira, maio 31, 2024

Super-homem – Quem eu sou, afinal?

 


Quando reformulou o homem de aço, John Byrne foi aos poucos costurando as pontas soltas a respeito dessa nova versão desse personagem.

Um desses pontos obscuros era: como ele descobria que tinha vindo de Kripto?

O personagem acha que é humano. 


Essa questão foi solucionada no número 6 revista The man of steel. Na história, o herói volta para Pequenópolis, a cidade na qual passou a sua infância.

Nessa mesma história descobrimos que o homem de aço, equivocadamente, acha que é humano: “O Super-homem não existe! Ele é só um disfarce pra proteger minha privacidade! Clark Kent é o homem real!”.

A solução encontrada por Byrne é forçada. 


A solução encontrada por Byrne é forçada: Jor-el aparece para o herói na cozinha dos Kent e depois no local em que foi encontrada a nave que o trouxe para a Terra. E transmite para o filho tudo sobre Kripton. Mas a narrativa é tão fluída, o desenho de Byrne tão competente, que esquecemos assim a situação forçada, assim como esquecemos o fato de que essa história simplesmente não tem nenhuma ação.

The Hunters

 


Quando terminou a II Guerra Mundial, muitos dos principais cientistas nazistas foram levados para os EUA, onde seriam fundamentais para o projeto Apolo, que levou o homem à Lua. Na década de 1970 caçadores de nazistas começaram a identificar criminosos de guerra que haviam se refugiado nos Estados Unidos e denunciá-los. Esses dois fatos reais foram aproveitados para bolar uma das séries mais interessantes da atualidade: The Hunters.
Na história, um grupo de sobreviventes, após ver que suas tentativas de denunciar nazistas não davam em nada, resolvem montar uma equipe para matar os mesmos. No meio desse processo, acabam descobrindo que os nazistas organizaram um grande plano para implementar o 4º Reich e precisam impedi-los.
A série lembra muito seriados famosos das décadas de 70 e 80, a exemplo de Esquadrão classe A, em que um grupo de renegados com características e habilidades muito diferentes luta contra vilões enquanto são caçados pela lei. E une isso com um clima Tarantino de muita violência estilizada, visual retrô e uma trilha sonora maravilhosa, que inclui até Tim Maia na sua fase racional. Acrescente a isso uma narrativa que oscila bem entre o dramático, o humor ácido e até a metalinguagem – impagáveis os inserts feitos na forma de comercial na qual se ensina como identificar um nazista ou um show de variedades em que ganha quem consegue advinhar porque os judeus são tão odiados (a vencedora ganha com a resposta: “Porque são judeus!”).
A primeira sequência do primeiro episódio é, literalmente, matadora: um nazista que trabalha como conselheiro da casa branca está fazendo um churrasco com amigos quando uma das convidadas o reconhece como criminoso de guerra. Ele simplesmente saca uma pistola e mata não só ela, mas todos os presentes – e depois consegue convencer a todos de que foi o sobrevivente de um massacre.
A série tem algumas incoerências, como idades dos personagens que não batem – a garota que reconhece o nazista na primeira sequência, por exemplo, é nova demais para ter sido sobrevivente de campo de concentração. Mas é um detalhe que pode ser facilmente relevado diante de todo o resto.  
Poderia-se dizer, então, que The Hunters  é uma das melhores séries da atualidade? Sem dúvida nenhuma – se você ignorar completamente o último capítulo. Ali os roteiristas forçaram a mão num plot twist totalmente desnecessário e muito forçado. Uma boa ideia seria assistir ao seriado e simplemente pular esse capítulo.  

Fundo do baú - Plic, ploc e Chuvisco

 


Plic, Ploc e chuvisco é um retorno da dupla Hanna-Barbera ao tema que os tornou célebres: a eterna disputa entre gatos e ratos.

Mas, ao contrário de Tom e Jerry, Plic, Ploc e Chuvisco apostava menos na violência gráfica e mais nos diálogos humorísticos. Além disso, a guerra entre gatos e ratos era mais simbólica que real. Em um episódio por exemplo, Chuvisco acerta com uma pá um dos ratos e se apavora com a possibilidade de tê-lo matado. Aliás, boa parte dos episódios eram calcados na ingenuidade do gato.  

O desenho surgiu em 1958, sendo produzido até 1961, num total de 57 episódios.

Tarzan - A fera da Lua

 

A capa do número 225 da revista do Tarzan publicada pela DC mostra, em uma impressionante imagem de Joe kubert, um poço no qual se amontoam diversas serpentes. O corpo de uma delas são do crânio seco de um homem nos chamando atenção para o fato de que já diversos outros esqueletos ali, indício de que muitas pessoas morreram no local. Logo acima, Tarzan se equilibrar na beirada enquanto um feiticeiro da tribo o empurrar na direção da morte certa. 

A imagem nos apresenta a cena mais dramática da história a fera da Lua, escrita e desenhada por kubert. 

Uma fera está atacando crianças e mulheres de uma tribo e Tarzan terá que enfrentá-la.


Na trama, um monstro está matando pessoas de uma tribo africana. O feiticeiro acusa Tarzan de ser o assassino, mas logo depois descobrimos que é ele que controla a fera. Ou seja: é tudo um plano para se livrar do homem macaco.

No Brasil essa históri foi publicada originalmente pela Ebal e, mais recentemente, pela Devir, no volume Tarzan  - O homem-leão e outras histórias.

Dom Quixote das crianças

 


Dom Quixote é uma das obras mais importantes da literatura universal. Mas é também um livro de linguagem empolada, repleto de frases com orações subordinadas e expressões em desuso. Para apresentar esse clássico às novas gerações, Monteiro Lobato escreveu sua própria versão condensada do clássico.
Dom Quixote das crianças mostra que Lobato não era só alguém com prosa agradável e fluída, mas era também um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos – capaz de condensar uma obra densa e complexa sem perder sua essência ou mesmo suas reflexões.
Para quem não conhece, Dom Quixote é um velho espanhol que, de tanto ler romances de cavalaria, enlouqueceu, achando que era um cavaleiro andante, convenceu um vizinho, Sancho Pança a ser seu escudeiro, e saiu pelo mundo em busca de aventuras, que quase sempre terminam em memoráveis surras.
Lobato inicia a narrativa no sítio do pica-pau amarelo. Emília fica curiosa para ver dois volumes pesados no alto da estante e, ao tentar alcançá-los com o uso de uma alavanca, derruba os livrões em cima de Visconde, que fica achatado. Essa é a dica para que Dona Benta leia o imenso livro ilustrado por Gustave Doré. Mas logo percebe que as crianças não pescam nada da narrativa antiquada e resolve recontar as aventuras do cavaleiro andante com suas próprias palavras. A forma narrativa permite que Lobato, através da voz de Dona Benta, faça comentários sobre a obra e até explique alguns termos usados no romance.
Segundo Lobato, “Cervantes escreveu esse livro para fazer troça da cavalaria andante, querendo demonstrar que tais cavaleiros não passavam de uns loucos. Mas como Cervantes fosse um homem de gênio, sua obra saiu um maravilhoso estudo da natureza humana, ficando por isso imortal”. Por outro lado, o protagonista, Dom Quixote, “não é somente o tipo do maníaco, do louco. É o tipo do sonhador, do homem que vê as coisas erradas, ou as que não existem. É também o tipo do homem generoso, leal, honesto, que quer o bem da humanidade, que vinga os fracos e inocentes, e acaba sempre levando na cabeça, porque a humanidade, que é ruim inteirada, não compreende certas generosidades”.   
Lobato consegue, mesmo em poucas páginas na comparação com o romance original, preservar sua complexidade. Dom Quixote é uma mistura de humor e drama e é impossível não se compadecer do pobre protagonista, constantemente enganado por muitos, em sua ingenuidade e loucura e mesmo cenas que parecem cômicas guardam uma alta dramaticidade. É um riso entre lágrimas.
Em tempo: essa minha edição é de 1967 e trazia um atrativo a mais: as belíssimas ilustrações de André Le Blanc, que ilustrou vários livros de Lobato antes de se mudar para os EUA e trabalhar como assistente do quadrinista Will Eisner.

quinta-feira, maio 30, 2024

Valerian e Laureline

 

Em 1967 surgia nas páginas da revista Pilote uma série que iria mudar para sempre a ficção científica nos quadrinhos. Chamava-se Valerian – agente espácio-temporal e era produzida por dois novatos, o roteirista Christin e o desenhista Mézières.
Em sua primeira história, que daria origem ao álbum “Maus sonhos”, o desenho ainda parecia simplista e os roteiros ingênuos. Mas já era possível perceber  que havia algo ali, especialmente quando o agente Valerian, em viagem temporal para a Idade Média encontra uma moça, Laureline, que conquista os leitores e se torna personagem fixa da série.
Os artistas eram dois jovens franceses que havia se mudado para os EUA na infância e se reencontraram na adolescência. Com o dinheiro do primeiro álbum eles comprariam sua passagem de volta para o país natal, onde iriam revolucionar os quadrinhos.
O segundo álbum “A cidade das águas movediças” já trazia um traço mais seguro e um roteiro mais bem amarrado, além de referências que mostravam o quanto a obra dialogava com o pós-modernismo. O mafioso Sun Rae foi inspirado no músico de jazz Sun Ra. O cientista Schroeder, além da referência óbvia ao personagem pianista da tira Peanuts, tinha as feições de Jerry Lewis no filme O professor Aloprado.
Mas seria no terceiro álbum, “O império dos mil planetas” que a dupla acertaria a mão, definindo o estilo que os diferenciaria de tudo que havia sido feito até então em termos de ficção científica. Foi nesse álbum que a vocação de Mézières para criar cenários exuberantes se revelou. Também foi nessa história que Christin mostrou sua capacidade de criar civilizações extraterrestres e seus hábitos culturais.
A sequência inicial, mostrando a feira do planeta-império, é primorosa.
Nela descobrimos que mercadores comercializam schalmis, espécie de conchas gigantes, onde as pessoas se recolhem em busca de esquecimento. Conhecemos as pedras vivas de Arphal, que se fixam à pele como as mais belas jóias. Ou os raríssimos spiglics de bluxte, que vivem sobre a cabeça de seus donos, transmitindo a eles perene felicidade através de telepatia.
A série fez tanto sucesso na Europa que Valerian e Laureline, dois nomes que não existiam, tornaram-se populares a ponto de muitos pais batizarem seus filhos com eles.
Outra consequência é mais polêmica. Desde que saiu o primeiro filme de Star Wars, o desenhista percebeu várias coincidências entre o filme e suas imagens publicadas no álbum.
O visual de escrava da princesa Lea no filme “O retorno de Jedi”, por exemplo, é muito parecido com o de Laureline em “O país sem estrelas”. A nave usada pelos personagens é semelhante à Millennium Falcon, além de várias outras semelhanças.
Além disso, a personalidade independente da princesa Lea está muito mais para a Laureline do que para as princesas das histórias clássicas de ficção científica, que ficava paralisadas diante do perigo, esperando serem salvas pelos heróis.

Hipocondríacos

 

A moça irrompeu, esbaforida, pela porta, enquanto a enfermeira terminava de aplicar o soro.
    - Ei, não pode entrar agora!
    - Rafael, Rafael! Você está bem? Vim correndo quando soube que você estava doente.
    - Por favor, ainda não é o horário de visitas. Como a senhora conseguiu entrar? - perguntou a enfermeira, puxando a moça para fora.
    - Não, não me afaste do meu Rafael! Por favor, me diga: ele está bem?
    Nisso o doente se mexeu no leito, murmurando:
    - Beatriz? Você está aí?
    Foi o bastante. A mulher se desvencilhou dos braços da enfermeira e se jogou aos pés da cama.
    - Rafael, Rafael, você ainda está vivo?
    - Beatriz, você está aí? Eu não consigo vê-la...
    - Mas ele só está... - interveio a enfermeira.
    - Santo Deus, o que fizeram com o meu amado?! Você consegue me ouvir, querido?
    - Beatriz? É você mesmo? Agora que vou morrer, quero que saiba que te amo...
    - Oh, Rafael! Eu também te amo. Do fundo do meu coração...
    - Beatriz, por favor, me dê um último beijo.
    Houve um minuto de silêncio, ao fim do qual Beatriz pulou sobre ele, num último e ardoroso beijo de amor. A enfermeira tentou impedi-la, mas era impossível até mesmo saber quem era quem no meio dos aparelhos, seringas e tubos.
    - Querida, você sabe o quanto eu amo você. - garantiu ele, depois que se desgrudaram. Não chore por mim. Também quero que você arranje outro homem. Não perca sua juventude por mim...
    - Não, não me diga isso, meu amor, você vai sobreviver... E eu jamais terei outro homem...
    Ficaram em silêncio. Beatriz enxugava as lágrimas com um lenço.
    - Querida, agora que estou morrendo, acho que deveria saber de uma coisa. Lembra-se de Ana?
    - A Ana?
    - Sim, aquela estudava com você quando nos conhecemos...
    - Rafael, você não...
    - Eu tive um caso com ela.
    - Não, não acredito... não é possível!
    Ficou repetindo isso, balançando a cabeça em negativa, a enfermeira parada num canto, os olhos arregalados, sem saber o que fazer....
    - Beatriz... agora que estou morrendo, não faz mais sentido esconder meu caso com Maria...
    - A minha melhor amiga? Desgraçada!
    - Calma, foi coisa pequena: durou só dois anos...
    - Dois anos? Seu safado! Cretino!
    - Cretino, eu? Pensa que não sei do Paulo?
    Beatriz ficou estática.
    - Paulo?
    - Pensa que não sei? Tenho até fotos...
    - Seu cretino! - gritou a mulher e pulou no pescoço dele.
    - Gasp, gasp - fez o doente, envolvendo com as mãos o pescoço de Beatriz, que caiu no chão, sob ele.
    Rolaram pelo chão do hospital até perderem as forças e só então caíram nos braços um do outro, jurando:
    - Beatriz, eu te amo.
    - Também te amo, Rafael.
    A enfermeira ficou alguns instantes estarrecida, depois saiu do quarto, murmurando consigo:
    - Esses hipocondríacos... e era só uma infecção intestinal.

O jornalismo e as fontes

 



 Há uma regrinha básica do jornalismo que nem sempre é dita nos cursos de graduação: as fontes não devem ver o texto final e muito menos opinar sobre esse texto.

Imaginem, por exemplo, que a matéria é uma denúncia. O jornalista vai repassar o texto para o denunciador e o denunciante? Os dois vão querer fazer modificações no texto, retirar trechos, destacar trechos. Pode ser, por exemplo, que alguém deu uma declaração e depois se arrependeu dela. Ao ver o texto final e perceber que a parte denunciada se defendeu com argumentos sólidos, ela pode querer tirar a fala (para evitar problemas de processo, a maioria das entrevistas é arquivada para o caso de uma ação judicial). Outra situação: o denunciado pode querer pedir para retirar partes das falas do denunciante para atenuar a denúncia. 

Além disso, o jornalista sempre edita a fala do entrevistado. Ele tira trechos que não tenham relação com o tema da matéria, tira marcas de oralidade, redundâncias, digressões. Sem falar da questão do limitação do tamanho do texto. Na maioria das vezes o jornalista tem um espaço X a ser ocupado e, para isso, precisa resumir as falas dos personagens. Mas nem todo entrevistado entende isso.

A fonte, portanto, não é editor, não pode e não deve sugerir mudanças no texto. Jornalismo não é assessoria de imprensa.

Isso de mostrar o texto para a fonte pode virar um problemão até mesmo em matérias corriqueiras, que não têm nada de polêmicas. Aconteceu comigo uma vez.

Eu trabalhava num jornal de Paranaguá, cidade portuária do Paraná, e fui entrevistar o diretor da Santa Casa sobre algum assunto (talvez a abertura de uma nova ala no hospital, confesso que não lembro). No meio da entrevista ele citou todas as pessoas que ele achava que mereciam um agradecimento e deveriam aparecer na matéria. E exigiu ver o texto final. Como era um jornalista novato eu concordei não só em colocar os nomes na matéria, como em mandar o texto por fax.

Quando o editor viu aquilo, cortou a lista de agradecimentos. E com toda razão. Uma das características do jornalismo é interesse público. Aquela lista de agradecimentos só interessava ao diretor do hospital e seus amigos.

Então a matéria foi para as bancas sem a lista de agradecimentos.

O diretor comprou vários exemplares para distribuir para os amigos “citados na matéria”. Quando foi ler o texto, descobriu que a lista tinha sido cortada. Não pensou duas vezes: pegou sua arma e invadiu a redação para tirar satisfação. A sorte é que eu estava naquele momento na redação em Curitiba. 
Mas ficou a lição: a fonte só deve ler o texto final quando ele for publicado no jornal. 

Dylan Dog – A caligrafia da dor

 


“A pena é mais poderosa que a espada”. Esse adágio popular é o moto da história “A caligrafia da dor”, publicada em Dylan Dog 14, da Mythos.

Na história, escrita por Andrea Cavaletto e desenhada por Luigi Piccatto, Riccio e Santaniello, Dylan é convidado par uma festa em uma mansão. O convite veio por parte da proprietária do local, Diane, uma antiga paquera do protagonista. Ela quer que ele investigue se a mansão é mal assombrada.

Dylan é chamado para investigar um caso de casa mal-assombrada. 

Essa situação é seguida de uma tragédia na qual o investigador do desconhecido quase é vitimado.

Isso, somado a um acidente em uma oficina, no qual morrem várias pessoas, faz com que Dylan Dog resolva investigar o que há por trás desses fatos.

Receita DD: belas mulheres e monstros. 

A história parte de uma premissa interessante, mas a trama é mal resolvida e cheia de situações convenientes, como por exemplo, Dylan chegar em determinado local exatamente na hora em que o vilão está confessando seus crimes. Aliás, a motivação do vilão não parece ir além da loucura, o que contrasta com a forma comedida e fria com que ele é mostrado antes. Além disso, o funcionamento da caneta, item fundamental do roteiro, não é devidamente explicado.

Provavelmente não existem histórias ruins de Dylan Dog. Mas certamente a caligrafia do terror está entre as mais fracas.

Capitão América contra Deathlok

 


Um dos momentos mais memoráveis da fase de J.M. DeMatteis e Mike Zeck à frente do Capitão América foi o encontro do sentinela da liberdade com o andróide Deathlok.

A saga, publicada a partir do número 286 da revista, inicia com uma visão sombria do futuro: “Bem-vindos à cidade de Nova York no ano de 1999! Como você pode ver, a cidade mudou um pouco nesses últimos anos! Algumas pessoas até acham que ela melhorou! (...) Eu lembro que gastava a maior grana naqueles restaurantes frescos para comer alguns bifes e algumas batatas fritas. Hoje você encontra comida de graça em quase todo lugar. É claro que alguns ainda não se acostumaram com o gosto de carne humana, mas é preciso dar um tempo para a gente... somos novos nisso!”. Enquanto isso, o desenho mostra uma tribo urbana matando um homem com um golpe na cabeça.

A história mostra uma versão distópica do fututro. 


A sequência demonstra como a dupla DeMatteis-Zeck estava afinada. O roteirista sabia trabalhar a humanização e o drama da história enquanto Zeck, no auge de seu estilo, conseguia unir um desenho anatômico com sequências altamente expressivas.

Em seguida, vemos o clone de Deathlok sendo enviado para o passado. Sua missão é encontrar o Deathlok original, que foi enviado para o passado sem memória e agora serve a uma organização criminosa.

O grande momento da história: Deathlok atira no seu clone. 


Claro, que nesse meio tempo, o clone se encontra com o Capitão América e este o ajuda em sua missão. A história termina com os dois entrando na corporação Brand, enfrentando capangas e a impactante aparição do Deathlok original, que atira no seu clone em uma sequência de forte carga dramática e de suspense.



Uma curiosidade é que, quando publicou a história, em Almanaque do Capitão América 87, a editora Abril mudou a capa. Dentro da mira, tiraram a imagem do Capitão feita por Mike Zeck e colocaram uma outra imagem, provavelmente desenhada por Sal Buscema.  

Sergio - Vagner Moura se destaca em filme sobre diplamata

 


O brasileiro Sérgio Vieira de Melo foi um dos mais importantes diplomatas brasileiros e uma das figuras mais importantes da ONU. Foi responsável, por exemplo, por negociar a independência de Timor Leste, ilha colonizada por portugueses na Ásia que durante mais de uma década foi massacrada pelo governo da Indonésia. Depois do sucesso, ele foi enviado ao Iraque, onde deveria negociar a criação de um governo local depois da queda de Saddam Hussein.
É a história desse homem que Greg Barker conta em Sergio, filme lançado por aqui diretamente na Netflix.
A história do diplomata e sua atuação corajosa em locais de conflito aberto é interessante e vale um filme, mas a obra de Greg Barker tem problemas de ritmo e narrativa. A história é contada através de várias linhas temporais que se interpõem e se alternam com ambientação tão diferente quanto o Camboja, Timor Leste, Bagdá e Rio de Janeiro e de maneira não cronológica. Nem sempre funciona, especialmente porque o diretor americano focou demais na atuação no Iraque (uma guerra que que tem mais apelo para o público norte-americano), abreviando ou simplesmente ignorando todo o resto da atuação de Sérgio ao redor do mundo, de modo que o expectador não consegue entender direito sua importância. 
Para nós brasileiros o filme tem um problema a mais. O filme é originalmente falado em inglês e temos até mesmo Wagner Moura dublando a si mesmo. Mas o que realmente cusa estranhesa são as sequências de Timor Leste. Lá se fala um português mais próximo de Portugal, muito diferente do brasileiro. E, em alguns momentos suas falas são dubladas, e em outros são deixados no original, muitas vezes dentro da mesma cena, o que resulta em dois sotaques completamente diferentes para o mesmo personagem.
O grande destaque do filme acaba sendo mesmo a atuação de Wagner Moura, que se mostra um dos grandes atores da atualidade, conseguindo mudar completamente a cada personagem.

Perry Rhodan – Cilada cósmica

 


O volume 28 da série Perry Rhodan marca a saga da terceira potência contra os saltadores, uma raça de comerciantes predadores, que consideram um direito adquirido o monopólio de todo o comércio efetuado na galáxia. Como os terranos estabeleceram comércio com o sistema vega, entram na mira desse grupo.

Cilada cósmica é um volume de preparação, que apenas coloca as peças no tabuleiro antes de começar o jogo: Perry Rhodan simula o envio de uma mensagem secreta para Vega, mas seu objetivo é descobrir quem é o inimigo secreto que já desapareceu com duas naves da terceira potência. E o cadete Julian Tifflor é o homem que Rhoda é usado como chamariz.

A capa original alemã. 


Como livro de introdução a uma trama maior, torna-lo agradável é uma tarefa ingrata, já que o volume praticamente não apresenta nenhuma ação (só começa a acontecer algo de fato a parti da página 100, de um total de 180). Mas K. H. Scheer se sai bem ao focar sua narrativa no cadete Tifflor. Vale destacar a sequência em que o cadete vai falar com Rhodan. O nervosismo do mesmo torna a cena hilária: “Tiff cambaleou em direção à poltrona. Quando caiu na mesma, o capacete-rádio adquiriu independência, deixando-se levar pela força da gravidade. O impacto produziu um ruído tremendo nos ouvidos de Tiff. Apavorado e preparado para tudo, lançou um olhar para o homem sentado do outro lado da mesa-painel”.

quarta-feira, maio 29, 2024

O Bom professor – Artigo na revista Educação

 



No ano de 2002 eu lecionava em faculdades particulares e uma coisa me incomodava: a ênfase excessiva no cumprimento de prazos acadêmicos.

Nos questionários aplicados aos alunos no final de semestre havia diversas perguntas do tipo: “O professor começa e termina a aula no horário correto?”; “O professor entrega as notas no prazo” etc.

Mas não havia uma única pergunta sobre se o professor dominava o conteúdo ou se tinha didática para ensinar esse conteúdo. O bom professor era, rigorosamente o que cumpria todas as regras burocráticas, por mais que não soubesse nada do assunto ou não tivesse a menor noção de metodologia educacional.

Na época eu vira um ótimo professor ser demitido por, por exemplo, chegar atrasado para a aula. Esse mesmo professor tinha uma produtora e continuamente levava seus alunos para lá e passava muitas vezes a madrugada com eles filmando ou editando. Mas para a direção só o que contava era o que ele fazia na sala e no horário de aula. 



Nessa época, uma das faculdades em que eu trabalhava assinava a revista Educação, da editora Segmento. Resolvi escrever um artigo sobre o assunto e mandei para a publicação. Para minha surpresa, ela foi publicada na última página da edição 68, um espaço privilegiado reservado a artigos de opinião.

O editor escolheu um trecho interessante do artigo para o destaque gráfico: “Aprender também pode significar ter de mudar os modelos mentais preestabelecidos de que só se aprende em sala de aula”.

Conan – Sombras de ferro ao luar

 



O trio de criadores Roy Thomas, John Buscema e Alfredo Alcala é provavelmente a mais célebre do personagem Conan. Entre as muitas histórias magníficas que fizeram, Sombras de ferro ao luar com certeza entraria em qualquer lista das melhores.

Publicada em Savage Sword of Conan 4, de fevereiro de 1975, a história começa com Shah Amurath perseguindo uma escrava, Olívia, pelos pântanos. A garota fugiu de seu cativeiro, mas foi alcançada pelo amo. Indomável, ela arranha do rosto do seu perseguidor, o que faz com ele decida matá-la, não sem antes estuprá-la.

É quando aparece pela primeira vez o cimério, numa splash page impressionante. A garota, em primeiro plano, tem a boca aberta num grito abafado, os olhos desesperados. O capitão agarra os braços frágeis da moça enquanto olha por cima do ombro e vê Conan surgindo no meio dos juncos ocupando quase metade da página. Não há aqui nada do elegante guerreiro de Barry Windson Smith. O que vemos é um selvagem grosseiro, o rosto tomado pelo ódio. A composição é impressionante.

A primeira aparição do templo é uma imagem impressionante. Mérito de Alfredo Alcala.


Ficamos sabendo que Conan fazia parte de um grupo de salteadores chamados Kozak, que havia sido dizimado pelas tropas de Shah Amurath. Só Conan sobrevivera, escondendo-se no pântano. E a fúria vingativa deste é mortal. Ele mata o comandante e para não ser pego pelos guardas, foge num barco – e a garota pede para ir com ele. Eles vão parar numa ilha aparentemente desabitada, mas coisas estranhas acontecem. Uma pedra imensa é lançada contra eles. Uma pedra tão pesada que até Conan tem dificuldade de levantar.

Buscando refúgio, eles entram na floresta e encontram um templo com estátuas que parecem vivas. A primeira vez que vemos esse templo a imagem é impressionante. Alcala capricha ao máximo, introduzindo centenas de detalhes para dar ao local uma impressão de abandono, mistério e terror. O mais impressionante ainda é saber que ele conseguia fazer várias dessas páginas por dia.

A sequência do sonho de Olívia é uma amostra da qualidade literária de Thomas. 


Claro que a situação vai gerar muita ação, violência e um ser gigantesco e ancestral, como é padrão nas histórias do cimério. Mas isso é feito com maestria absoluta tanto em termos de desenho quanto de roteiro. Enquanto Roy Thomas parece preguiçoso em outras histórias da mesma época, aqui ele parece inspirado. A sequência em que Olívia dorme e sonha com a explicação a respeito do templo é um exemplo de como o texto desse roteirista pode alcançar verdadeiros picos de qualidade literária: “Olívia sonha... e o mal rasteja em seus sonhos... seus sonhos são migalhas exóticas e pitorescas... fragmentos de sinais desconhecidos, estilhaçados... e ela flutua entre eles como uma felina ágil corre por jardins floridos... até que, de repente, eles se cristalizam numa imagem de horror e loucura!”.

Embora essa história seja uma adaptação de um conto de Robert E. Howard, esse texto não consta na obra original, o que mostra como Roy Thomas era capaz não só de adaptar bem Howard, mas de ainda acrescentar algo ao material original.

Uma curiosidade sobre essa história é que Olívia não tem nada cobrindo os seios durante toda ela. Mas os cabelos longos repousam cautelosamente sobre eles em todos os quadros.  

Homem-aranha – A ameaça de Mystério

 


Quando criança cantávamos uma corruptela da música do desenho animado do aracnídeo: “Homem-aranha, homem-aranha, nunca bate, só apanha”. A música representava bem uma característica bem marcante das primeiras histórias do personagem: antes de finalmente vencer, ele apanhava muito.

Exemplo disso é o número 13 da revista Amazing Spiderman na qual o personagem enfrenta pela primeria vez o vilão Mystério.

Um onda de crimes assola Nova York. Seria obra do Homem-aranha? 


A revista já chama atenção pela capa inusitada, com o herói lançando sua teia sobre Mystério, e a teia a derrete no ar. A chamada da capa diz: “Nós conseguimos ! criamos o maior vilão de todos para o velho aranha!”. Abaixo, dois quadros menores, com legendas no formato de seta. Em um deles, o Aranha joga suas teias sobre um homem ao lado de um confre: “O que é isso??! O Homem-aranha se volta para o crime?! Você vai ficar chocado!”. Na outra, um homem bem vestido aponta um divã para o herói: “Já viu algum super-herói de revistas em quadrinhos levar seus problemas até um psiquiatra? Pois você vai ver!”.

De fato, ambas as coisas acontecem na história. Nova York é assolada por uma onda de crimes efetuados aparentemente pelo Homem-aranha. Acreditando que cometeu os crimes enquanto estava dormindo, como uma espécie de sonambulismo, Peter Parker decide ir num psiquiatra!

Atormentado pela dúvida, o herói resolve consultar um psiquiatra. 


Na história, Mystério desafia o aranha a enfrentá-lo no alto da ponte do Brooklyn. E no desafio, o herói apanha de todas as maneiras possíveis, incapaz de revidar no meio da névoa criada por Mystério e o aparelho que bloqueia os efeitos do sentido de aranha.

Dois pontos merecem atenção: o fato de Stan Lee colocar o conflito na ponte do Brooklyn, um local que todos os nova iorquinhos conhecem, aumentava a identificação dos leitores com as histórias.

O herói apanha muito. E depois apanha mais. 


A outra questão é: como Mystério sabia que o herói contava com um sentido de aranha? Afinal, essa não era uma parte visível dos poderes do mesmo. Naquela época corrida, em que várias revistas eram tocadas por uma equipe mínima, ninguém deve ter se preocupado com esse detalhe. E isso ficou apenas como mais um mistério.