terça-feira, maio 07, 2024

Fantoches, de Marcos Rey

 

Marcos Rey foi um dos primeiros roteiristas de televisão do Brasil. Essa experiência gerou diversos livros. O melhor deles é Fantoches, lançado originalmente pela atica em 1998.

Trata-se de um romance policial, como fica claro na abertura, que já nos apresenta um mistério: " se vocês são jovens demais, provavelmente lembram do assassinato de Marino Rinaldi. O balofo e manhoso Marino Rinaldi. Filho de uma grande vaca! Certamente falo do pai do hilariante Tataboy, o boneco mais badalado que o país já viu. ". 

Esse início pode dar a entender que o livro é focado em Marino Rinaldi e seu boneco Tataboy. 

Entretanto, verdadeiro protagonista é o narrador, o apresentador Tito da Mata. Já em final de carreira, Tito apresenta um programa de duas horas chamado Feira de diversões, cuja audiência cai a cada semana. O programa será cancelado se ele não encontrar uma nova atração. Ao visitar um circo, ele conhece o ventríloquo, cuja popularidade pode salvar o programa.

A narrativa nos deixa no suspense e passamos a acompanhar a trajetória do narrador. O pai era um crupiê cuja paixão por cassinos fez com que ele fosse preso diversas vezes. Dele, Tito herda a mania de sempre arriscar tudo, o que muitas vezes o coloca em verdadeiras arapucas, mas também o eleva ao sucesso. 

Acompanhamos sua vida, de office boy em uma revista de celebridades a apresentador de shows em transatlântico. No meio, a longa passagem por uma agência de publicidade onde ele se torna amante de uma das diretoras, uma mulher mais velha que o trata como objeto sexual. 

Esse trecho nos ajuda a entender o título. Fantoches não se refere apenas ao Tataboy, mas também ao apresentador, cuja vida parece ser controlada continuamente por cordões invisíveis. 

É um livro delicioso, principalmente graças à narrativa de Marcos Rey, com ótimas descrições e sacadas, com leve toque de humor,como "Parecia um urso velho que o circo soltara por incapacidade de alimentar”. 

Há algumas situações que ajudam a caracterização do personagem e o leitor a simpatizar com ele. Quando o tio que havia esnobado quando ele era pobre o procura no auge da fama pedindo uma colocação, ele comenta" sou capaz de odiar qualquer pessoa, menos um desempregado " e lhe dá o emprego.

O livro também traz uma caracterização da época em que se passas a história, a ditadura militar: “Aqueles eram tempos violentos. Três pessoas que parassem numa esquina poderiam estar tramando uma revolução contro o governo militar. Na empresa, os candidatos às vagas tinham que se submeter a uma entrevista rigorosa. Se alguma responsta revelasse descontentamento com o que ocorria no país, neca de emprego”. 

Eu li esse livro pela primeira vez em. Numa viagem a ilha de marajó. Agora, novo em viagem pelo Marajó, resolvi relê-lo. Essa segunda leitura apenas sedimentou a convicção de que esse é o melhor livro do mestre, ao lado de O último mamífero do Martineli.

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