Marcos Rey foi um dos primeiros roteiristas de televisão do Brasil. Essa experiência gerou diversos livros. O melhor deles é Fantoches, lançado originalmente pela atica em 1998.
Trata-se de um romance policial, como fica
claro na abertura, que já nos apresenta um mistério: " se vocês são jovens
demais, provavelmente lembram do assassinato de Marino Rinaldi. O balofo e
manhoso Marino Rinaldi. Filho de uma grande vaca! Certamente falo do pai do
hilariante Tataboy, o boneco mais badalado que o país já viu. ".
Esse início pode dar a entender que o livro é
focado em Marino Rinaldi e seu boneco Tataboy.
Entretanto, verdadeiro protagonista é o
narrador, o apresentador Tito da Mata. Já em final de carreira, Tito apresenta
um programa de duas horas chamado Feira de diversões, cuja audiência cai a cada
semana. O programa será cancelado se ele não encontrar uma nova atração. Ao
visitar um circo, ele conhece o ventríloquo, cuja popularidade pode salvar o
programa.
A narrativa nos deixa no suspense e passamos
a acompanhar a trajetória do narrador. O pai era um crupiê cuja paixão por
cassinos fez com que ele fosse preso diversas vezes. Dele, Tito herda a mania
de sempre arriscar tudo, o que muitas vezes o coloca em verdadeiras arapucas,
mas também o eleva ao sucesso.
Acompanhamos sua vida, de office boy em uma
revista de celebridades a apresentador de shows em transatlântico. No meio, a
longa passagem por uma agência de publicidade onde ele se torna amante de uma
das diretoras, uma mulher mais velha que o trata como objeto sexual.
Esse trecho nos ajuda a entender o título.
Fantoches não se refere apenas ao Tataboy, mas também ao apresentador, cuja
vida parece ser controlada continuamente por cordões invisíveis.
É um livro delicioso, principalmente graças à
narrativa de Marcos Rey, com ótimas descrições e sacadas, com leve toque de
humor,como "Parecia um urso velho que o circo soltara por incapacidade de
alimentar”.
Há algumas situações que ajudam a
caracterização do personagem e o leitor a simpatizar com ele. Quando o tio que
havia esnobado quando ele era pobre o procura no auge da fama pedindo uma
colocação, ele comenta" sou capaz de odiar qualquer pessoa, menos um
desempregado " e lhe dá o emprego.
O livro também traz uma caracterização da
época em que se passas a história, a ditadura militar: “Aqueles eram tempos
violentos. Três pessoas que parassem numa esquina poderiam estar tramando uma
revolução contro o governo militar. Na empresa, os candidatos às vagas tinham
que se submeter a uma entrevista rigorosa. Se alguma responsta revelasse
descontentamento com o que ocorria no país, neca de emprego”.
Eu li esse livro pela primeira vez em. Numa
viagem a ilha de marajó. Agora, novo em viagem pelo Marajó, resolvi relê-lo.
Essa segunda leitura apenas sedimentou a convicção de que esse é o melhor livro
do mestre, ao lado de O último mamífero do Martineli.
Sem comentários:
Enviar um comentário