quinta-feira, maio 16, 2024

Lanterna e Arqueiro Verde – o mal sucumbirá ante à minha presença

 


Em 1970, o roteirista Dennis O´Neil participava de abaixo-assinados, passeatas e apoiava Martin Luther King. Também era jornalista, fã dos grandes nomes do Novo Jornalismo e do Gonzo, como Tom Wolfe e Hunter Thompson. E ele se perguntava: seria possível fazer nos quadrinhos um equivalente do Novo Jornalismo? Quando o convidaram para renovar o Lanterna Verde, ele resolveu testar essa hipótese. E o melhor de tudo: o título seria desenhado por Neal Adams, o nome mais quente do mercado de quadrinhos à época.  

O resultado foi publicado em Green Lantern 76.

Adams coloca os créditos num caminhão. 


A capa desse número era uma típica imagem do editor "Julie" Schwartz, com uma situação bizarra que seria elucidade ao longo da edição. Nela, o Lanterna está fazendo o seu juramento e recarregando seu anel, mas o Arqueiro atira uma flecha na lanterna e grita: “nunca mais!”.

A história começa com o herói sobrevoando a cidade, num daquelas imagens impressionantes de Neal Adams. O texto, misturado ao título, dizia: "esta não é uma história alegre... nem simples. O que você está prestes a testemunhar talvez seja inevitável. O nome dele, claro, é Lanterna Verde e ele sempre jurou que o mal sucumbirá ante minha presença, mas Hal andou se enganando...”. Detalhe: Adams, além de providenciar uma splash page lindíssima, ainda colocou os créditos na carroceria de um caminhão, numa estratégia que lembrava Will Eisner.

O Lanterna acha que será recebido como herói, mas isso não acontece. 


O herói vê um homem sendo agredido e resolve intervir. Ele coloca o agressor numa jaula e o envia à delegacia. Mas, quando se prepara para receber os aplausos dos circundantes, descobre, espantado, que estão jogando lixo nele e no homem que ele salvou. Antes que o Lanterna revide, aparece o Arqueiro: “Até eu tive vontade de jogar uma lata nessa cabeça oca”. “Não estou entendendo Arqueiro Verde!”, “Não? Então chega mais que eu te mostro como o outro lado vive”.

O que você fez pelo povo negro? 


Eles entram num cortiço e o Arqueiro explica que o homem lá fora é o dono do local e quer despejar todos os inquilos para fazer um estacionamento. Surge um velhinho e sua fala é sintomática: “ Cê trabalha para uns homenzinhos azuis... e ajudou uns sujeitos laranjas em outro planeta. Também deu uma forcinha prum povo roxo! Só que cê andou esquecendo uma cor... por que cê nunca ajudou os negros?”. O herói é incapaz de responder (e aqui o destaque vai para o desenho de Neal Adams que o mostra cabisbaixo, com os ombros caídos).

O Lanterna tenta fazer o homem desistir de vender o cortiço, em vão, e ainda é chamado pelos Guardiões e colocado de castigo quando tenta atacar o vilão.

Neal Adams estava na sua melhor forma. 


No final, os heróis descobrem que o homem tem várias atividades ilícitas e criam uma arapuca para ele se delatar na presença de um promotor. Ele é preso e tudo parece ser resolvido. Se terminasse aí, essa seria mais uma das típicas histórias da DC Comics no final dos anos 60 e início dos 70. Mas O`neil acrescenta um epílogo, em que os guardiões aparecem para dar outra bronca em Hall Jordan, mas acabam ouvindo é uma lição de moral do Arqueiro, que os convence a mandar um representante para ver os problemas da hunidade. No final, eles embarcam numa caminhonete. “O trio viaja junto, passando por cidades, vilarejos e maravilhas da natureza... em busca de um tipo especial de verdade... em busca de si mesmos”, diz o texto.

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