Uma das características que faziam do Demolidor de Frank Miller um título revolucionário era a influência da cultura japonesa. Esse aspecto ficou claro no número 174 da revista, no qual que aparece pela primeira vez o grupo de assassinos chamado Tentáculo.
Na história, Elektra está caçando um homem em
busca de recompensa quando este é morto por alguém. Ao perserguir o assassino
ela descobre não só que ele é do Tentáculo como o próximo alvo do grupo: o
advogado Matt Murdock.
Toda a complexidade psicológica de Elektra resumida em uma imagem.
A sequência, aliás, é maravilhosa e mostra
como Miller conseguia usar todos os recursos disponíveis para contar sua
historia, incluindo aí os ângulos e planos. Em uma imagem vemos a anti-heroina
observando por uma janela e ouvindo o que estão dizendo. No quadro seguinte,
temos um close e o texto diz: “Ele é americano. Um advogado...”. A expressão dela revela preocupação e, ao
mesmo tempo, uma certa candura inocente, como se víssemos uma menina. Fica óbvio
que a vítima é Murdock e que ela ainda o ama. Ali, resumido naquele quadro,
toda a caracterização da personagem: uma assassina fria, mas também uma jovem
apaixonada.
Miller era um mestre das cenas de luta.
Claro que tudo faz parte de um plano do Rei
do Crime. Ele sabe que há alguma ligação entre Murdock e o Demolidor e imagina
que colocar o Tentáculo para matar o advogado irá colocar o grupo em rota de
colisão com o herói. Assim, ele se livra de um grupo rival ou de um herói que
vem criando algumas dificuldades colocando-os para lutar um contra o outro. Esse
é o Rei na versão de Miller: um estrategista, que raramente precisa colocar as
mãos na massa.
Ali pelo meio há uma luta de Elektra,
Demolidor e Gladiador contra a guangue do Tentáculo que mostra bem como Miller
aprendeu com Eisner a introduzir humor na narrativa. Como não ouviu a voz da
mulher, o herói nem imagina que seja Elektra e pensa estar salvando Melvin. Como
ele está sem o radar, na verdade, quem resolve a situação é Elektra. O quadro
final dessa sequência mostra os genins fugindo de Elektra e o Demolidor
pensando: “Estão fugindo. Consegui. Sem meu radar... sozinho...”.
O Demolidor acha que está vencendo a batalha, quando na verdade, está sendo salvo por Elektra.
É um daqueles exemplos do que chamo de texto
irônico, em que o que é dito do texto é o contrário do que o leitor está vendo.
Sem comentários:
Enviar um comentário