No número 175 da revista do Demolidor surge um dos adversários mais mortais já enfrentados tanto por Elektra quando pelo demônio mascarado: o guerreiro Kirigi. Esse personagem surge na esteira de um processo em que Miller foi colocando, aos poucos, elementos da cultura japonesa nos quadrinhos de super-heróis.
Essa influência era perceptível não apenas no
tema, com samurais, ninjas e armas orientais, mas também na linguagem, como na
impressionante sequência (tão boa que Miller repete neste número) na qual
Kirigi mata de um só golpe três ninjas do Tentáculo. A imagem, dividida em
três, para dar uma impressão de movimento, mostra o guerreiro em primeiro
plano, de costas, a espada acima de sua cabeça, suja de sangue. Os guenins
olham estarrecidos e dizem: “Extraordinário.”; “Nós três...” ; “... com um só
golpe...”. No quadro seguinte, os três
estão caindo ao chão.
Miller trouxe para os comics a influência dos mangás.
A sequência demostra uma forte influência dos
mangás, em especial de Lobo Solitário, mas também mostra que Miller conseguia misturar
essa influência com novos elementos, em especial o seu uso genial da elipse
quadrinística.
Há outro ponto em que vemos esse uso
inteligente da narrativa e que antecipa inclusive Cavaleiro das Trevas, na qual
ele usaria um recurso semelhante em uma cena muito parecida. Foggy está em um
taxi quando é atacado por um dos campangas do Tentáculo, sendo salvo pelo
Demolidor.
O carro está sendo atacado, mas só percebemos a luta pelas mãos. Miller usaria recurso semelhante em Cavaleiro das Trevas.
A imagem é focada apenas no sócio de Matt
Murdock, de modo que vemos apenas as mãos dos outros personagens. Miller deixa
para o leitor imaginar o que está acontecendo acima do capô do carro.
Na história, o Rei do Crime planta em um dos ninjas
do Tentáculo um cartão com o endereço em que o grupo se esconde. Isso faz com
que Demolidor e Elektra invadam o local. Enquanto o herói enfrenta campanhas
menores, Elektra enfrenta Kirigi em uma sequência impressionante. Ela o acerta
de todas as formas, mas ele nunca cai. “Dizem que força mortal alguma é capaz
de derrubá-lo. Elektra jamais acreditou em tais histórias... até agora.”, diz o
texto.
Se hoje tudo isso parece impressionante, na
época não deveria parecer nada menos que revolucionário.
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