Um rapaz desconhecido que sai de uma cidade do Tennessee para se tornar rapidamente o cantor mais popular da América. Essa é a história por trás de Elvis, filme de Baz Luhrmann.
O filme tem um vilão, o trapaceiro Coronel Parker, que manipula Elvis, o explora e o submete uma rotina exaustiva de shows que leva o cantor a se viciar em remédios e finalmente provoca sua morte com apenas 42 anos. E essa é a primeira inovação da película: Parker (brilhantemente interpretado por Tom Hanks) é o narrador do filme. Enquanto joga nas máquinas de caça níqueis (ele perdia fortunas em Las Vegas), ele relata como conheceu o cantor e como o transformou num sucesso.
Essa estratégia narrativa cria momentos irônicos, em que o que é narrado é o oposto do que aconteceu, como quando o Coronel se vangoloria pelo formato do especial de Natal. Ele tinha pensado num comportado especial com Elvis cantando musicais natalinas, mas o cantor contrata produtores musicais que inovam introduzindo números de puro rock´n roll, com forte influência da música negra, para desespero de Parker. Quando o especial faz sucesso e renova a carreira do protagonista, ele se vangloria.
Baz Luhrmann parece estar disposto a qualquer meio para contar a biografia do autor, e chega usar animação quando conta a influência dos quadrinhos do Capitão Marvel sobre Elvis.
Um momento especial do filme é a sequência que mostra a influência da música negra sobre o Presley. Ele brecha um cantor num bar, que canta para casais dançarem. De lá vai para uma tenda onde acontece uma cerimônia gospel e lá é “possuído pelo espírito”. Luhrmann usa ângulos, planos e cortes não convencionais para destacar o impacto que esse momento teve sobre rapaz, criando uma sequêcia extremamente imersiva.
Elvis se diferencia de outras cinebiografias de astros de rock ao não ser também um show. As músicas estão lá, mas aparecem para narrar a história ou fazer comentários sobre o que está acontecendo.
À certa altura, por exemplo, Elvis está fazendo um show num cassino em Las Vegas enquanto seu empresário, contra sua vontade, assina um contrato de cinco anos ao mesmo tempo em que consegue o perdão de suas dívidas. No palco, Elvis canta Suspicious Minds, cuja letra tem trechos que parecem demonstrar um grito de socorro do cantor: “Nós caímos numa armadilha/E não posso sair dela” e outros que parecem refletir as desculpas do Coronel Parker: “Nós não podemos continuar juntos/Com essas desconfianças/Nós não podemos construir nossos sonhos/Em mentes desconfiadas”.
Elvis é muito mais que uma cinebiografia de um músico. É uma experiência cinematográfica extraordinária.
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