segunda-feira, setembro 30, 2024

X-men – Fênix Negra

 


“O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente”. Essa frase, dita pelo Professor Xavier em The Uncanny X-men 135 representa muito bem a essência da saga da Fênix Negra.

No número anterior, Jean se transformara enquanto o grupo voltava para casa após enfrentar o Clube do Inferno. Sua transformação destruíra o jato dos mutantes.

E é exatamente nesse ponto que encontramos os personagens no início do número 135.

A sequência seguinte mostra os mutantes enfrentando a Fênix. “Não espere clemência da Fênix Negra, meu amor. Vocês não terão nenhuma!”. E, de fato, a personagem revela poderes avassaladores e inimagináveis, derrotando os amigos como se estivesse numa brincadeira. Wolverine e Colossus são soterrados abaixo de uma árvore de ouro. Ororo é golpeada psiquicamente e fica inconsciente. “Imagens... me atingindo pelo elo psíquico que tenho com Jean... chamas negras consumindo sua alma! Alusões místicas incompreensíveis.... sensação de perda... afogamento... solidão”, pensa Cíclope.

Ao se transformar no seu lado sombrio, Fênix destrói a nave. 


O psicólogo Carl Gustav Jung dizia que todos nós temos um lado sombra, para onde vai tudo aquilo com o qual não conseguimos lidar. O que Claremont e Byrne mostram é Jean Grey sendo consumida pelo seu lado sombra. A história lança uma questão interessante: se a inocente Garota Marvel tinha dentro de si uma vilã tão terrível, o mesmo não ocorre com cada um de nós?

Se o roteiro eleva a história muito além do nível dos quadrinhos de super-heróis, Byrne e Terry Austin mostram a transformação de Jean de forma magistral. Efeitos de sombras, áuras, hachuras... tudo é usado para demonstrar o lado sombrio de Jean transformada em vilã.

A Fênix Negra destroi um sistema solar. 


É nessa história que a Fênix faz o que decretaria sua morte. Ela vai ao espaço e consome uma estrela, matando bilhões de pessoas no processo. Quando viu essa parte da história, Jim Shooter, editor-chefe da Marvel, decidiu que a personagem tinha que morrer.

Homem-animal – Vida na selva de pedra

 


Embora o primeiro número do gibi do Homem-animal tivesse chamado a atenção pela qualidade do texto de Morrison e por sua visão descolada de um personagem menor da DC, seria no número dois que os leitores iriam perceber o quanto essa nova série era revolucionária.

No número anterior, o herói é chamado por um laboratório que tinha sido invadido por uma barata do de dois metros de altura. “Todos sabemos que isso é fisiologicamente impossível, pois o esquema de respiração traqueal dos insetos só é eficaz até um certo tamanho”, explica o cientista, numa demonstração de como Morrison pesquisava para escrever suas histórias.

Para seguir o rastro do invasor, o Homem-animal absorve a capacidade olfativa de cachorros usados nas experiências do laboratório – e aqui temos um breve relance do tema principal dessa saga, os abusos praticados contra animais em experiências científicas. O personagem sai do local se sentindo mal e comenta: “Eu preferia um cachorro saudável”.


Um garoto pede autógrafo: pensei que você fosse o Aquaman. 

O herói está lanchando no alto de um prédio quando de repente aparece o Super-homem, num interlúdio levemente cômico, que brinca com o fato do personagem ser praticamente desconhecido dos leitores da DC. Também há uma demonstração de que Homem-animal era um gibi que não se levava tão a sério, com a sequência em que o garoto pede autógrafos para o herói para logo depois descobrir, frustrado, que não se trata do Aquaman.

Mas essa pausa dura pouco. ele é atacado por um homem-rato (e aqui percebemos que o personagem misterioso que vimos desde o primeiro número tem a capacidade de unir dois seres, formando um só).



Pela lógica dos quadrinhos de super-heróis, o Homem-rato seria facilmente derrotado, mas não é o que acontece. Depois de bater muito no herói, o monstro simplesmente... arranca o braço do mesmo.

A sequência inteira é absolutamente memorável tanto pela total quebra de expectativa quanto pela qualidade do texto de Morrison aliada a um bom senso narrativo de Chas Troug. “Eu tento bater. Tento um belo murro. Mas... mas aí nada. Meu Deus. Santo Cristo. O braço... meu braço!”. E vemos o braço caído no meio do lixo e depois o personagem olhando assustado para o tronco e depois desmaiando.

O texto de Morrison é muito eficiente, apesar de curto. Aliás, o Homem-animal tinha, em média menos texto que outros gibis da época, o que mostra que a qualidade é mais importante que a quantidade.

Hair – análise do roteiro

 


Hair é um dos filmes musicais mais famosos de todos os tempos. Dirigido por Milos Forman e lançado em 1979, tem uma trilha sonora realmente épica. Mas o filme se destaca também pelo roteiro muito bem amarrado.
A história, baseada num musical homônimo da Brodway, acompanha as aventuras de um rapaz do interior do Texas que vai para Nova York se alistar para a guerra do Vietnã e conhece um grupo de hippies. O filme mostra os bastidores da contracultura da época em meio às críticas à guerra.
A trama inicia com Claude Bukowiski se despedindo do pai e pegando o ônibus para nova York. A imagem foca na pequena cidade e na capela local para depois pular para uma cena em pleno central park, com uma arrebatadora interpretação da música Aquarius.

É quando o protagonista conhece um quarteto hippie liderado por Berger,  e vê se apaixona por uma garota rica, Sheila Franklin, que passa por ali num cavalo.
Os hippies conseguem dinheiro e alugam um cavalo, mas são incapazes de manejá-lo e o perdem. Bukowiski consegue resgatar o cavalo e, estimulado por Berger, vai atrás da moça pela qual se apaixonou, fazendo uma exibição de montaria.
Segue-se uma sequencia em que os personagens consomem haxixe. Nessa cena temos a primeira aparição da música “Manchester England”, cantanda inicialmente por Berger, mas que se refere a Claude: “Eu sou um gênio gênio/Eu acredito em Deus/ E eu acredito que Deus/Acredita em Claude/Que sou eu que sou eu/ Claude Hooper Bukowski”. A letra da música é usada tanto para caracterizar o personagem Claude como alguém ingênuo, como ironia por parte de Claude. No final do filme, essa música voltará com outro significado.  
A famosa cena da festa.

Chegamos finalmente à famosa cena da festa. Berger tem a ideia de invadir uma confraternização da família Franklin para que Claude possa ter a chance de ver Sheila antes de ir para o Vietnã.
Mas o grupo acaba preso.
Quando são finalmente liberados (graças ao dinheiro da mãe de Berger), eles vão para o Central Park, onde Claude experimenta pela primeira vez LSD enquanto Jeannie, uma das hippies, pergunta se ele não gostaria de se casar com ela para escapar da convocação para a guerra.
A “viagem” de Claude mostra o quanto o roteiro é bem amarrado: as imagens são resultado direto dos ganchos do roteiro: a sugestão de Jeannie, a capela que aparece na primeira sequência, os Hare Krishna que passam cantando, Sheila, a festa invadida, está tudo ali, como se todos os acontecimentos mais recentes tivessem se misturado e embaralhado na cabeça do personagem.
Em seguida, Claude vai para o treinamento militar e Berger tem a ideia de visitá-lo. Com uma manobra conseguem o carro da família de Sheila, que vai junto para ver pela última vez o seu amor.
Mas quando chegam na base é impossível entrar: estão todos em alerta e os soldados não podem ter contato com civis. Sheila engana um sargento, rouba-lhe a roupa e o carro e Berger consegue entrar na base para levar Claude para o floresta, onde o grupo de hippies o espera.
Mas claude discorda: há contagens o tempo todo e ele não pode se ausentar.
A solução é sugerida por Berguer: trocar de lugar com Claude.
Aí surge a grande sacada do filme: enquanto Claude visita os hippies, o grupo de soldados é chamado a embarcar para a guerra. Berger tenta escapar, mas não consegue e acaba embarcando no lugar do amigo.
A trilha sonora e a sequência seguinte, em um cemitério deixam claro que ele morre no conflito.
A música "Manchester England" é resignificada no final do filme 

Esse plot twist tem sido celebrado por críticos com o ponto alto do filme. Mas há uma outra sacada genial: enquanto marcha para o avião, Berger canta a música que inventara para Claude logo no início do filme. Mas agora não há nada de alegre nela e a nova situação torna a letra totalmente irônica: “Eu sou um gênio gênio/Eu acredito em Deus/ E eu acredito que Deus/Acredita em Claude/Que sou eu que sou eu/ Claude Hooper Bukowski”.
Se a primeira sequência em que a música aparece, ela se refere a Claude, aqui ela se refere a Berger: sua ideia parecia genial, mas foi um desastre e agora ele é Claude. Ao usar a mesma música em dois momentos chaves do filme, com sentidos completamente opostos, o roteirista mostra que pensou o filme como um todo e foi capaz de brincar com seus significados das letras.

Entropia e a morte do universo

 


A entropia é um dos mais instigantes e também um dos mais controversos conceitos da cibernética. Nilson Lage define entropia como o oposto de redundância e equivalente ao conceito de informação: "O conceito de redundância relaciona-se com alta previsibilidade; o de entropia com baixa previsibilidade".  Nobert Wiener, o criador da cibernética, vai no sentido oposto: "é possível interpretar a informação conduzida por uma mensagem como sendo, essencialmente, o negativo de sua entropia".  A entropia é vista aqui não como informação, mas como redundância.  Décio Pignatari concorda com as idéias de Wiener. Para ele, a entropia negativa é igual à informação: "Na desdiferenciação de formas e funções , teríamos a tendência caótica ou entrópica, cujo ponto extremo seria a uniformização geral, o caos, onde não haveria possibilidade de informação, nem troca possível de informação".  Epstein, por sua vez, lembra que a fórmula para medir a entropia, proposta por Clausius em 1864 é idêntica à proposta por Shannon em 1948 para medir a informação de uma mensagem.  Por outro lado, a entropia pode ser tratada como uma espécie de ruído (eu
mesmo já o fiz em minha dissertação de mestrado).
Afinal, o que é entropia?  A palavra entropia foi usada pela primeira vez em 1850, pelo físico alemão Rudolf Julius Clausius (1822-1888). A origem da palavra são os radicais gregos em (dentro) e tropee (mudança, troca, alternativa).  O termo foi amplamente trabalhado na física para designar a Segunda Lei da Termodinâmica.
Há várias maneiras de enunciar essa lei, mas talvez a mais completa seja:
"Todo sistema natural, quando deixado livre, evolui para um estado de máxima desordem, correspondente a uma entropia máxima".
 A entropia representa a perda de energia do universo, que ocorre a todo instante, razão pela qual os cientistas dizem que o universo caminha para a morte térmica. Ela é irreversível. Por isso, essa energia perdida jamais será recuperada.
Esse sentido único da entropia fez com que os físicos a chamassem de "a flecha do tempo". 
Para exemplificar, imagine duas canecas de alumínio, uma a 80, outra a 20 graus centígrados. Se encostarmos uma na outra, o que ocorrerá? A caneca quente esfriará e a fria esquentará. Chegará um ponto em que as duas estarão à temperatura uniforme de 50 graus.  Essa experiência fez com que Clausius enunciasse a lei da entropia da seguinte maneira: "É impossível haver transferência espontânea de calor de um objeto frio para outro mais quente".
Outra característica da entropia é a mistura indiferenciada.  Para visualizar essa propriedade, basta imaginar dois recipientes ligados por uma comporta, um com tinta branca, outro com tinta vermelha. Ao abrirmos a comporta, as duas tintas irão se misturando aos poucos, até chegar o ponto em que não conseguiremos distinguir onde está o branco e onde está o vermelho.  Ou seja, a tinta entra em estado desordenado, pois a ordem pressupõe uma compartimentação de coisas. Uma estante em que livros e CDs estejam misturados é mais caótica do que uma estante em que os livros estejam em uma prateleira e os CDs em outra.
Um detalhe interessante da mistura das tintas é que as mesmas jamais voltarão à posição inicial, mesmo que esperemos por toda a eternidade.
É a flecha do tempo, o sentido único da entropia.
A entropia tem, também, o sentido de degradação. Assim, a velhice que vai aos poucos tomando conta de nosso corpo é um exemplo da mesma vivenciado por todos nós, diariamente. Esse processo vai se acumulando até redundar na fase final: a morte. Não é por outra razão que os físicos se referem à entropia como a morte térmica do universo.
A palavra entropia foi também usada em administração para designar empresas que se deixam dominar pelo caos, pela degradação.  Lojas em decadência são um exemplo perfeito de como a entropia pode destruir um empreendimento: a sujeira toma conta do lugar; a fachada se tornando aos poucos ilegível; as paredes desbotam; o dono não tem dinheiro o bastante para fazer as reformas necessárias; e os empregados, desestimulados, não se empenham para vender mais, diminuindo a renda da firma e acelerando sua falência.
Uma vez iniciado o processo de entropia em uma empresa, somente uma injeção maciça de dinheiro pode salvá-la. Na verdade, é mais prático e barato criar uma empresa nova do que tentar reerguer uma  dominada pela entropia.
 Na comunicação, a entropia está relacionada ao grau de desorganização da mensagem. Quanto mais desorganizada, mais entrópica.  Nos meios acadêmicos, costuma-se brincar que o melhor exemplo de entropia seria um macaco utilizando uma máquina de escrever. O resultado dessa traquinagem: uma mensagem totalmente desprovida de código e entrópica. Portanto, incompreensível.
O código é utilizado com o objetivo de evitar que o caos tome conta da mensagem.
A entropia, no entanto, pode ter uma utilização positiva na comunicação, pois uma mensagem extremamente ordenada é também uma mensagem previsível e, portanto, redundante. A característica de imprevisibilidade da entropia pode dar à comunicação um toque mais original. É o que ocorreu, por exemplo,  com o surgimento da MTV. Diante da estrutura ordenada e previsível das emissoras convencionais, a linguagem entrópica da MTV foi um sopro de criatividade.
A entropia também pode ser usada na diagramação de revistas, como demonstra a revista Trip.
Exemplos de linguagem entrópica também podem ser encontradas no cinema. O filme "Clube da Luta", por exemplo, não só usa uma linguagem caótica, como fala explicitamente do aumento da entropia no mundo atual. A cena em que o personagem principal se auto-flagela é um ótimo exemplo disso.
Vale ressaltar que, uma vez assimilada, essa linguagem entrópica vai se tornando um novo tipo de ordem.

Como diz Umberto Eco, "cada ruptura da organização banal pressupõe um novo tipo de organização, que é desordem em relação à organização anterior, mas é ordem em relação a parâmetros adotados no interior do novo discurso".

Eu, robô - um clássico da ficção científica

 

Eu robô é um clássico da ficção científica escrito por Isaac  Asimov. O livro, lançado em 1950, é uma seleção de contos com histórias que giram em torno de seres robóticos e sua relação com os seres humanos.
O que Asimov trouxe de revolucionário para esse tipo de história foi uma abordagem otimista e racional. Antes dele, a maioria das histórias sobre seres artificiais os tratava como ameaças à humanidade. Aliás, o romance fundador da ficção científica, Frankstein, trata exatamente desse assunto: a criatura voltando-se contra o criador.
Asimov era um otimista com relação à tecnologia e ao pensamento racional. Para ele, bastava, seres robóticos fariam o que estivesse em sua programação. Ele sugeriu que todos os robôs fossem programados com três leis: 1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal; 2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei; 3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis. Posteriormente ele acrescentou a chamada Lei Zero: Um robô não pode causar mal à humanidade, ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra mal.
Quase todas as histórias do volume tratam das três leis. Todas as situações de conflito apresentadas são sempre resolvidas graças ao uso lógico dessas leis.
Ao introduzir regras de conduta para seres cibernéticos, Asimov tirou deles o peso da ameaça, permitindo que o leitor visse uma face mais humana desses seres. O homem-bicentenário, livro posterior, mas que pode ser encaixado dentro da galeria de textos sobre robôs, leva essa visão a um extremo poético: nele, um simpático robô luta para ser reconhecido como ser humano.

domingo, setembro 29, 2024

The Sinner

 


A série da Netflix The Sinner parte de uma premissa interessante: nós vemos um assassinato e sabemos quem é o assassino. Mas não sabemos a motivação do assassino. São oito episódios em que o atormentado Detective Harry Ambrose (magistralmente interpretado por Bill Pullman) mergulha fundo na psique dos assassinos para enfim descobrir a motivação.
A primeira tempora – e melhor até agora - define bem as melhores qualidades do seriado. A história é instigante: uma pacata dona de casa está com o marido e o filho na praia quando, de repente, ao ouvir uma música, ataca um homem na praia com uma faca, matando-o. Ela não se lembra de conhecer o homem nem sabe porque cometeu o assassinato. Flash backs se misturam à investigação e vão revelando toda a complexidade da personagem: sua criação rígida por uma mãe extremamente religiosa, a irmã adoentada, o eterno sentimento de culpa – daí o título da série, que poderia ser traduzido como “pecadora”.
Nada disso parece bater com o que o detetive vai descobrindo: que ela foi viciada em drogas, que frequentou uma clínica de reabilitação, as mentiras contadas.
É uma investigação muito menos sobre fatos e muito mais sobre a psicologia da personagem (inclusive com a descoberta de memórias falsas induzidas pela mãe). É assim, nesse contexto de trama policial psicológica que The Sinner transita.
A primeira temporada foi baseada no livro homônimo da autora alemã Petra Hammesfahr, mas o sucesso fez com que os produtores decidissem por outras temporadas, cada uma baseada em um “assassino” (as temporadas têm os nomes desses personagens).
Na segunda temporada, um casal está levando o filho para visitar as cataratas do niagara quando, ao pararem em um hotel, são evenenados pelo filho. O detetive Harry Ambrose é chamado e mergulha não só na mente atormentada da criança, mas também na seita da qual ela participava.
Na terceira temporada, um homem morre num acidente e carro e o carona sobrevive. Mas tudo leva a crer que o carona não chamou o socorro a tempo, deixando que o amigo morresse. E a grande pergunta: por que ele fez isso?
The Sinner é, portanto, uma boa pedida para quem gosta de psicologia e curte tramas policiais.

Monstro do Pântano – Toda carne é erva

 

 
Um dos diferenciais da passagem de Alan Moore pelo Monstro do Pântano são as ideias radicais e revolucionárias experimentadas por ele no título. A mais radical de todas talvez tenha sido a publicada no número 61 da revista.

Nos números anteriores, o personagem está vagando entre planetas, tentando voltar para a Terra, cujo campo bioelétrico não permite sua presença. Ele ouve falar de um planeta, J586, que pode ajudá-lo e se encaminha para lá.

A história começa com um casal de vegetais apaixonados. 


O que ele não sabe é que o planeta é todo composto por uma flora consciente e racional. Ao adentrar no planeta, ele se transforma num monstro enorme composto por milhares de seres. A cacofonia de vozes faz com que ele perca o controle, destruindo a cidade.

A chegada do Monstro é antecipada de várias sequências que mostram algumas das pessoas que serão aglutinadas no seu corpo. Há um casal enamorado sendo mostrado em fertilização (“Na lindamente mobiliada cavidade que alugam no nono andar, Locuss e Disma se acasalam. Fazem isso entre biombos de pele pintada para não constranger o quarto”); um pastor que perdeu a fé (“Fito o olho de meu semelhante e O está lá... Imrel não acredita mais nisso”) e uma artista que trabalha com animais geneticamente modificados, como um grupo de peixes unidos pela boca.

Ao encorporar, o Monstro acaba aglutinando em si vários indivíduos. 


São esses personagem que irão protagonizar a jornada do terror, cada um tendo sua vida modificada de alguma maneira pela experiência.

Enquanto isso, o Monstro resultante arrasa a cidade e se aproxima do viveiro das crianças. Não há como detê-lo sem destruir as pessoas que o compõe. Quem acaba resolveno da situação é Medphyl, o Lanterna Verde do planeta, que acabou de perder seu mestre e sente dúvidas sobre suas capacidades. O encontro com o Monstro do Pântano irá se tornar para ele uma jornada de auto-conhecimento e uma forma de lidar com a morte.

Moore consegue construir muito mais do que uma história de ficção científica. Sua trama é repleta de camadas e ensaios sobre uma cultura diferente da nossa, à exemplo do seguinte trecho: “Medphyl se deleita imerso na presença do mentor, lembrando-se de seu humor e sua bondade. Jothra comia apenas animais, nunca a carne de vegetais inferiores”.

O amor trágico de Abelardo e Heloísa

 

Pedro Abelardo foi um dos mais importantes filósofos da Idade Média. Diante da questão entre realistas (que, influenciados por Platão, acreditavam que as palavras universais, como "homem", tinham existência real) e nominalistas (que acreditavam que os universais eram apenas nomes, não tendo existência nem na natureza, nem na mente), ele apresentou um terceiro caminho, o conceitualismo, que sintetizava elementos dos dois e pregava que os universais são conteúdos da mente derivadas das coisas. Com suas ideias e novas formas de ensinar, ele criou a base do ensino universitário. Mas, para além de suas ideias, Abelardo ficou mais conhecido por ter protagonizado uma das mais famosas histórias de amor de todos os tempos, influenciando o que viria a ser o romantismo. 

Depois de passar por diversas cidades e ser perseguido por sua genialidade e espírito rebelde, Abelardo chegou em Paris em 1113 e começou a lecionar na escola de Notre Dame. Nessa época já era um professor famoso e suas aulas eram concorridas. Sua metodologia revolucionária quebrava com a metodologia platônica, maravilhando os alunos com o jogo de argumentação. 

Foi nesse período que ele conheceu uma jovem de 17 anos que chamava a atenção de todos por sua beleza e inteligência, Heloísa. Interessado em conquistar a moça, o filósofo se aproximou do tio (o cônego Fulberto), com a qual ela vivia e se ofereceu para ensinar à moça gratuitamente, em troca de moradia na casa. O cônego não só aceitou a oferta, como confiou a sobrinha inteiramente à orientação do filósofo, que poderia, inclusive, castigá-la severamente caso esta não se aplicasse nos estudos. 

Inicialmente o tio acompanhava os dois em suas lições, que geralmente aconteciam à noite, quando o filósofo voltava de suas aulas, mas depois, confiando na fama de casto de Abelardo, passou a deixa-los a sós. "Assim, com a desculpa do ensino, nós nos entregávamos inteiramente ao amor, e o estudo da lição nos proporcionava as secretas intimidades que o amor desejava. Enquanto os livros ficavam abertos, introduziam-se mais palavras de amor do que a respeito da lição, e havia mais beijos do que sentenças; minhas mãos transportavam-se mais vezes aos seios do que para os livros e mais frequentemente o amor se refletia nos olhos do que a lição os dirigia para o texto", escreveu Abelardo no livro A história das minhas calamidades. O casal chegou até mesmo a simular surras corretivas para dissimular as atividades românticas e não levantar suspeitas. 

Então começa a tragédia: Fulberto flagra o casal e expulsa Abelardo de casa. Mas nessa época Heloísa já estava grávida. Ainda tremendamente apaixonado por ela, Abelardo a tira às escondidas da casa do tio e a leva para sua terra natal, onde ela fica, na casa de uma irmã do filósofo, até dar à luz ao filho do casal, Astrolábio. 

Nesse meio tempo, Abelardo procura Fulberto e se oferece para se casar com a moça, desde que isso fosse mantido em segredo, a fim de que sua reputação não fosse prejudicada. 

Heloísa, no entanto, não concordava com o plano. Segundo ela, o casamento acabaria com a carreira do amado, pois, na época, acreditava-se que um verdadeiro filósofo deveria ser celibatário. Cícero, por exemplo, ao ser instado a casar com a irmã de Hírcio, respondeu que não podia consagrar-se igualmente a uma mulher e à filosofia. "Quem poderia, aplicando-se às meditações sagradas ou filosóficas, suportar o vagido das crianças, as cantarolas das amas que embalam e a multidão barulhenta da família?", indagava Heloísa. No final, o casal concordou com o casamento, desde que ele fosse totalmente secreto. Unidos pela benção nupcial, foram cada um para lado e se viam apenas às escondidas. O tio, envergonhado com a situação, passou a divulgar o casamento. 

Abelardo, para evitar o falatório, enviou Heloísa para um convento de monjas. Ultrajado, o tio arquitetou uma vingança que se tornaria célebre: mandou castrá-lo. Além da ferida, havia a vergonha: na época os eunucos eram considerados impuros e proibidos até mesmo de entrar nas igrejas. 

Ferido no corpo e na alma, humilhado, Abelardo internou-se no mosteiro de Saint-Denis, tornando-se um monge para o resto da vida. Heloísa, com apenas 20 anos, ingressou definitivamente no convento. Desde então, os dois nunca mais se viram, apenas trocaram cartas nas quais lamentavam a má sorte que os jogara naquela situação. 

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Os dois jamais deixaram de se amar, como atesta uma das cartas de Heloísa:
Túmulo de Abelardo e Heloísa no Cemitério Padre Lachaise.

Abelardo morreu em 1142, com 63 anos. Heloísa conseguiu que se construísse uma sepultura em sua homenagem. Quando ela morreu, em 1162, foi sepultada ao lado de seu amado. Conta-se que ao abrirem a sepultura de Abelardo para enterrar Heloísa, seu copro ainda estava conservado e se mantinha de braços abertos, como se esperasse a chegada de sua amada. Em 1817 os restos mortais dos dois amantes mais famosos da Idade Média foram levados para o cemitério do Padre Lachaise. 
A história dos dois deu origem a um filme, Em nome de Deus, de 1988, de Clive Donner.

Fundo do baú - Futurama

 


Futurama surgiu em 1999, obra de Matt Groening, o mesmo criador dos Simpsons.

A ideia era levar para o futuro toda a ousadia dos Simpsons para satirizar os principais temas da ficção científica, de invasões espaciais a revoltas de robôs.

Na época em que se passa a história, o ano 3000, existem filas em cabines de suicídio (que podem ser acionadas por apenas 25 centavos), travesseiros irradiam mensagens publicitárias e a maioria corporação do planeta é comandada por uma velhinha corrupta chamada Mamãe. Para criar o visual e os conceitos da série, Groening e sua equipe mergulharam em uma vasta coleção de livros de ficção científica, dos clássicos aos mais descartáveis. As capas de livros de FC dos anos 50 foram, inclusive, a principal inspiração para o visual das naves e arquitetura das cidades futuristas.

A história é protagonizada por Philip J. Fry, um jovem entregador de pizzas nova-iorquino que é acidentalmente congelado e acorda mil anos no futuro. Ali ele se torna entregador na empresa Planet Express, do seu 30 vezes sobrinho-neto (que, na história, é muito mais velho que Fry).

A galeria de personagens secundário é memorável, a começar pelo carismático Bender, um robô alcóolatra, cleptomaníaco e egocêntrico. Leela, a responsável capitã da nave, é uma ciclope alienígena criada em um orfanato. O professor Professor Hubert J. Farnsworth é um gênio de 159 anos, que constantemente se esquece das coisas. Dr. John A. Zoidberg é um alienígena crustáceo que trabalha como médico da nave e, embora diga o contrário, não sabe nada sobre anatomia humana.

A equipe de roteiristas aproveitou o fato da animação se passar no futuro para criar todo tipo de situações extravagantes. Na série, por exemplo, o Natal não é uma data festiva. Ao contrário, é a época em que todos se recolhem em suas casas com medo de um robô assassino que acha que é o Papai Noel.

Predadores humanos

 

Os psicopatas assassinos não são uma realidade apenas dos EUA, como durante muito tempo se acreditou. Eles estão aí, em todas as sociedades e, ao contrário do que se pensa, são, na grande maioria das vezes, indivíduos perfeitamente ajustados à sociedade, pais de família, simpáticos, pessoas acima de qualquer suspeita. Saber sobre eles, como eles são e como agem é a melhor forma de se prevenir contra eles. Assim, é bem-vindo o fato de que cada vez mais surgem nas livrarias obras especializadas no assunto. Entre elas, uma das mais interessantes é Predadores Humanos, de Janire Rámila (editora Madras, 216 páginas).
Janire parece ser uma pessoa indicada para a empreitada. É jornalista com mestrado em criminologia. É colaboradora de revistas como a Muy Interessante (versão original da nossa conhecida Superinteressante) e autora dos livros La maldición de Whitechapel e La ciência contra el crimen.
O interessante do livro de Janire é que, ao contrário da grande maioria das obras sobre o assunto, não se limita a apenas narrar casos famosos. Sua análise vai desde a definição de serial killer (alguém que matou ao menos três vezes, em momentos e lugares diferentes) até a discussão sobre o que fazer com eles.
O livro inicia pela diferenciação entre psicopata e psicótico, uma confusão comum tanto na imprensa como nos tribunais, já que muitos advogados de serial killeres tentam convencer o júri de que seus clientes são doentes mentais.
Segundo a autora, psicose é uma doença mental que provoca em quem a tem uma alteração do sentido de realidade: “O psicótico constrói um mundo próprio no qual o bem e o mal se fundem, levando o indivíduo a não ser consciente de seus atos”. Ou seja: o psicótico é um doente, que não tem consciência de seus atos e, portanto, não pode ser responsabilizado por eles.
Já os psicopatas são pessoas perfeitamente integradas à sociedade, capazes de distinguir o certo do errado. São frios e calculistas. Ao contrário dos psicóticos, que geralmente matam num ataque de fúria descontrolada, os psicopatas planejam seus atos. São também superficialmente simpáticos e agradáveis – uma máscara criada para ser mostrada para a sociedade. Psicopatas também são mestres da mentira, capazes de enganar e manipular suas vítimas.
Um quadro apresentado pela autora mostra as diferenças radicais entre psicopatas e psicóticos: enquanto os primeiros são aparentemente ajustados à sociedade, os segundos são socialmente imaturos e reservados; enquanto os primeiros têm forte auto-controle e auto-estima, os segundos têm personalidade frágil e mostram precisar de ajuda; enquanto os primeiros têm controle durante o assassinato, chegando a alterar a cena do crime para esconder provas ou mandar mensagens, os segundos são descuidados e atabalhoados; enquanto os primeiros seguem os meios de comunicação e normalmente fazem recortes sobre seus crimes, os segundos não acompanham as notícias; enquanto os primeiros são presos-modelo (pois sabem que isso diminuirá sua pena), os segundos têm comportamento violento e conflituoso quando são presos.
O capítulo mais interessante do livro, pouco abordado em outras obras, é “O problema do tratamento”, que inicia com uma pergunta instigante: o que podemos fazer para evitar que o assassino serial volte a matar?
O problema é mais complexo do que aparenta. Primeiro porque o psicopata não é um doente mental, como tal, não pode ser internado em centros psiquiátricos e, se o forem, podem facilmente manipular os psicólogos para fazerem crer que estão curados (uma das principais características dos psicopatas é a sua capacidade de mentir e manipular). Por outro lado, se forem presos junto com os criminosos comuns, têm os mesmos direitos de redução de pena de qualquer outro preso e, como sempre são presos exemplares, de ótimo comportamento, conseguem facilmente a redução da pena. Além disso, a mentalidade atual é de que as prisões servem como meio de reabilitar o detento e reincorpora-lo à sociedade. “Até agora, não se conseguiu inserir um só assassino ou estuprador serial”, afirma a autora “Por quê? Simplesmente porque já são velhos para aprender a sentir esse carinho que nunca demonstraram em relação aos seus semelhantes estando livres. Não se pode transformar um feroz assassino em um vizinho amável mediante reuniões de grupo”.
Além disso, os psicopatas assassinos são uma exceção às teorias mais convencionais sobre o crime. Um exemplo: pesquisas realizada nos EUA em 2005 mostram que as vítimas de assassinato são preferencialmente homens negros e as mulheres brancas são o tipo com menor probabilidade de serem assassinado. Quando se trata de assassinos seriais, a estatística se inverte: as mulheres brancas são o grupo mais propenso a morrer e os homens negros os menos propensos. Enquanto, na maioria das vezes, os criminosos são homens negros e pobres (reflexo direto de suas condições sociais), entre os psicopatas assassinos, geralmente são homens brancos, de classe média, com empregos estáveis e muitas vezes donos de seus próprios negócios.
Esses dados demostram o quanto o tema é importante nos dias atuais. Só com conhecimento a sociedade pode discutir soluções para esse problema. Nesse sentido, livros como Predadores humanos podem ser uma grande contribuição.
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Vingadores contra os Mestres do Terror

 


No número 6 da revista dos Vingadores, Stan Lee teve a ideia de juntar alguns dos inimigos dos integrantes do grupo em um time de vilões chamado de Mestres do Terror.

Algo que chama a atenção na história desde o início é como Stan Lee estimulava os leitores a colecionarem a revista: “Cuidado! Não rasgue este exemplar ou amasse as páginas, e nem deixe com manchas de comida! Temos a impressão de que você vai querer guardá-lo como um item de colecionador por muito e muito tempo!”.

O Capitão testa o novo escudo. 


Essa era mais uma das inovações da Marvel. Enquanto a DC ainda tratava os gibis como itens descartáveis, Lee já percebia que poderia estimular os leitores a considerarem os mesmos como itens de colecionador. Aliás, ele estava certo. Certamente um exemplar bem conservado dessa edição deve valer uma boa nota.

Os créditos usavam e abusavam do marketing pessoal inventado por Stan Lee. Assim, a história era “escrita pela inspirada máquina de escrever de Stan Lee” e “desenhada pelo lápis mágico de Jack Kirby”.

O Barão Zemo era mal a ponto de usar pessoas como passarela... mas tinha chiliques quando ouvia o nome do Capitão América. 


Como era padrão na Marvel, a história começa com uma cena de ação e impacto como forma de empolgar o leitor. Anos depois seria utilizado o recurso de começar a HQ no auge do segundo ato, mas aqui isso é feito com o Capitão testando o escudo criado pelo Homem de Ferro, com imãs que permitem direcioná-lo.

Só depois aparece o Barão Zemo, em sua primeira aparição na cronologia da Marvel. Jack Kirby cria situações bizarras, como indígenas se ajoelhando para formar uma passarela para o barão passar. O vilão também aproveita para contar sua origem. Nesse flash back descobrimos, por exemplo, que o Capitão América é responsável pelo vilão usar sempre o capuz vermelho. Ele teria usado o escudo para quebrar um recipiente com uma cola e esta caíra na cabeça do Barão.

Afinal, como ele se alimenta? 


“Ainda posso senti-lo! Ainda sinto o maldito adesivo atingindo meu capuz, colando meu rosto... e assim ficou por todos esses anos... pois nada pode removê-lo”, grita o vilão, numa tentativa vã de retirar o apetrecho.

Uma pergunta que não quer calar: se ele tem um capuz colado ao rosto, como consegue se alimentar?

Os heróis trocam de vilões. 


A estratégia do vilão é usar os Mestres do Terror para espalhar a cola pela cidade e assim chamar a atenção dos Vingadores e provocar um confronto entre as duas equipes. O Capitão América, ao perceber o plano, sugere que cada herói troque de inimigos. “Ele elabora planos de batalha rapidamente e entra em ação com grande destreza!”, admira-se Thor, antecipando que a época em que o Capitão se tornaria líder dos vingadores. Essa estratégia, de trocar de vilões parece boba, mas foi a mesma estratégia usada pelos X-men em uma história da fase clássica de Claremont e Byrne.

sábado, setembro 28, 2024

Batman e Sargento Rock

 


No número 84 da revista The Brave And The Bold, o cavaleiro das trevas se encontrou com o herói da II Guerra Mundial, Sargento Rock.

Encontro de personagens de eras diferentes podem parecer absurdas, mas nas mãos de roteiristas competentes, podem gerar histórias memoráveis, como o encontro do Homem-aranha com Sonja na revista Marvel Team-Up 79, com roteiro de Chris Claremont e desenhos de John Byrne. A dupla conseguiu explicar perfeitamente esse encontro inusitado.

Acontece que Bob Haney, o roteirista de The Brave and the bold, não era Chris Claremont e, apesar do desenho inspirado de Neal Adams, o resultado é sofrível.

A história começa com uma sequência confusa, em que o leitor não consegue distinguir passado de presente. 

A história começa em 1969, no Museu de Gotham. Um homem que parece ser o diretor do Museu mostra para Bruce Wayne uma estátua: “O arcanjo Gabriel, que na Segunda Guerra Mundial, foi contrabandeado da frança ocupada pelos nazistas para ficar seguro aqui. Finalmente alguém ligou reclamando a estátua”. Mas Bruce Wayne esclarece que o verdadeiro arcanjo nunca saiu da frança, o que significa que a estátua é falsa.

Tudo bem que Batman é o maior detetive do mundo, mas ele saber mais sobre os objetos de arte do que um diretor de museu, que teoricamente é alguém especializado no assunto? Parece que Bruce Wayne tirou essa conclusão da mesma forma que um mágico tira um coelho da cartola.

Uma sequência de ação totalmente desnecessária. 


Mas calma, leitor, isso é só o início. Bob Haney ainda vai aprontar muita confusão.

Logo depois os dois são atacados por um alemão, que atira no diretor do museu e ameaça Wayne. Logo depois, na mesma página, o alemão desaparece e alguém chamado Digby dá um soco em Bruce Wayne. Isso é um flash back, mas não há qualquer indicação disso e, como a sequência começa no meio da ação,a tendência do leitor é achar que se trata de uma continuação dos fatos mostrados anterioremente. Esse flash back mostra Bruce Wayne em Londres, na época da II Guerra Mundial, exatamente com a mesma cara da sequência do presente – ou seja, ele não envelheceu nada em quase 25 anos!

Bruce Wayne é incubido pelo governo inglês de ir à França ocupada descobrir um plano secreto dos alemães para parar a invasão da normandia. O playboy vai no mesmo avião que a companhia Moleza, do sargento rock, numa sequência de ação totalmente desnecessária, em que ele pula de uma moto diretamente na porta do avião e é agarrado pelo sargento.

Bruce Wayne descobre o plano dos nazistas: dedução ou super-poderes? 


Na França, Bruce Wayne entra num castelo ocupado pelos nazistas e descobre que o plano dos mesmos tem algo a ver com garrafas de vinho. Descendo à adega, ele percebe que as garrafas estão vazias. Mas olhando bem ele descobre que na verdade elas estão cheias de gás dos nervos!

Mais uma vez o maior detetive do mundo faz suas deduções da mesma forma que um mágico tirando um coelho de uma cartola. Como ele chegou à conclusão de que as garrafas estão cheias de gás dos nervos sem sequer analisar o conteúdo? Ele tem algum poder sobrenatural que faz com que seus olhos consigam analisar moléculas? Bob Haney diria: “não importa!”.

Para piorar, quando a história volta ao presente, Sargento Rock aparece do nada para salvar Bruce Wayne (o que já é um tremendo deus ex machina) e ele está envelhecido! O tempo passou para o Sargento Rock, mas não para Wayne?

Neal Adams imita o estilo de Joe Kubert. 


Bob Haney coloca o batman para narrar a história, mas isso se torna totalmente desnecessário, pois a narração sequer ajudar o leitor a compreender essa história extremamente confusa.

No final, a HQ vale mesmo pelo desenho de Neal Adams, que, além de dar o seu show habitual, ainda imita o estilo de Joe Kubert nas sequências em que aparece a companhia moleza (Kubert foi o desenhista oficial do Sargento Rock por anos).