O Aspas Norte surgiu quando ouvi, de uma
pessoa que tinha defendido TCC sobre quadrinhos na Unifap, que gostaria de
apresentar essa pesquisa no Aspas Nacional, mas não tinha condições.
De fato, Amapá é o estado mais isolado da
federação. Não há como sair daqui se não for por avião ou navio. E, além do
gasto com transporte, entra hospedagem, alimentação etc. Só para título de
comparação, este ano eu vou participar do evento do Aspas e cada trecho da
passagem custou 1.800 reais, sendo 3.600 reais ida e volta. No todo, com hotel,
alimentação, translado, não se gasta menos de 5 mil reais. Impensável para um
estudante de graduação. Ainda mais pelo fato de que, na grande maioria, nossos
estudantes da Unifap são pobres. Muitos nunca tiveram oportunidade sequer de ir
para Belém. Mesmo com relação ao material de pesquisa, o acesso é apenas ao que
está na Biblioteca da Unifap ou o material disponibilizado gratuitamente na
internet.
O Aspas Norte surgiu para suprir essa lacuna
e permitir que nossos estudantes, a maioria de graduação, tivessem uma
oportunidade apresentar suas pesquisas. E fazemos isso nadando contra a
corrente de dificuldades. Para se ter uma ideia, no curso de Jornalismo, só
temos 4 professores efetivos ativos. Isso se soma às dificuldades de estrutura,
como internet, salas etc.
Assim, me espantou muito saber que de uma crítica
de uma pessoa de São Paulo a respeito dos trabalhos apresentados no Aspas
Norte. Segundo essa pessoa, aqui se faz uma pesquisa ultrapassada, algo
expresso em frases como: “Eles ainda pesquisam Maus! Quem ainda estuda Maus?”.
Esse é um exemplo de crítica que não é crítica,
mas puro colonialismo.
A pessoa que mora em São Paulo, tem acesso a
tudo de mais recente que está sendo lançado, consegue participar de todos os
eventos ao preço de uma passagem de metrô, quer criticar um evento no estado
mais isolado da federação, tomando como parâmetro eventos de São Paulo e a realidade
da pesquisa em São Paulo. Além de
desprezar totalmente as condições regionais, a crítica parte do princípio de
que a região norte não pode trilhar seu próprio caminho, mas deve seguir o que
se faz em São Paulo.
Nessa visão colonial, a Amazônia é vista como
um local atrasado, selvagem, inculto, cuja solução seria ansiar um dia se
tornar uma grande metrópole nos mesmos moldes de São Paulo. A realidade da Amazônia,
a riqueza cultural da Amazônia, é totalmente desprezada e diminuída.
Toda essa visão colonial sobre a Amazônia foi
muito bem resumida na música Belém,Pará, Brasil, do grupo Mosaico de Ravena:
A culpa é da mentalidade
Criada sobre a região
Por que que tanta gente teme?
Norte não é com M
Nossos índios não comem ninguém
Agora é só hambúrguer
Por que ninguém nos leva a sério?
Só o nosso minério
Ah! Chega de malfeituras
Ah! Chega de triste rima
Devolvam a nossa cultura
Queremos o Norte lá em cima!
Por quê? Onde já se viu?
Isso é Belém!
Isso é Pará!
Isso é Brasil!
A música é de 1992. Infelimente, essa visão
colonial sobre a Amazônia mudou pouco de lá para cá, como pudemos observar
nessa crítica ao Aspas Norte.
Sem comentários:
Enviar um comentário