Praticamente desconhecido hoje em dia, o
grupo musical Locomia foi uma verdadeira febre no final dos anos 1980. Mas, por
trás do sucesso, havia uma história complexa e é essa história que o diretor Kike
Maíllo explora no filme Disco Ibiza Locomia, lançado recentemente pela Netflix.
Locomia surgiu no contexto cultural
efevercente da Ibiza dos anos 1980, mais especificamente da cena gay. Seu
criador foi o estilista Xavier Font. Os figurinos extravantes e a coreografia
com leques chamaram atenção da boate Ku depois que os mesmos a invadiram
pulando o muro. O grupo se tornou a principal atração da boate, tendo seu
grande momento no aniversário de Fred Mercury.
Eles viviam em um prédio que se tornou o
point da comunidade LGBT da ilha. O sucesso era regado com muito sexo e drogas.
Uma das cenas mais interessantes e cômicas é aquela em que os pais de um dos
rapazes resolvem visitar a casa. Eles acreditam que o filho trabalha como
cabeleireiro para a família real. O grupo precisa limpar o local no qual havia
acontecido uma orgia na noite anterior antes que o casal entre.
A reviravolta do filme acontece quando um
empresário do ramo musical se encanta com o visual e coreografia e resolve
transformar o grupo em... uma boy band! Surge daí a ironia: um grupo ícone do
movimento gay que não sabia cantar se tornou uma banda pela qual as meninas
eram apaixonadas a ponto de desmaiarem no palco (a única mulher do grupo é
expulsa graças à rejeição das fãs).
A narrativa é focada em uma audiência de conciliação
que envolve o empresário e os membros do grupo. A história vai sendo contada a
partir das falas de cada um durante a audiência, o que, por si só, já gera
interesse. O expectador quer saber, por exemplo, o que os levou àquela situação.
As cenas que mostram a história do grupo são tão frenéticas quanto as
apresentações do Locomia, mantendo o interesse durante os 104 minutos de exibição.
Algo a se destacar é a atuação de Jaime
Lorente, que encarna com perfeição do genial e afetado líder do grupo. Para
quem o conhece pelo machão de A casa de papel vai ser uma ótima surpresa.
Uma curiosidade é que, mesmo não fazendo
tanto sucesso no Brasil, o grupo teve influência na moda da época. Um item
obrigatório do visual das garotas no início dos anos 1990 eram os ombreiras,
mesmo em roupas despojadas, como camisas de algodão.
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